Enquanto a volta da vida social estimula as vendas de categorias como maquiagem e perfumaria, o setor de beleza e higiene pessoal encontra barreiras de crescimento
Por Raquel Brandão
Enquanto a volta da vida social estimula as vendas de categorias como maquiagem e perfumaria, o setor de beleza e higiene pessoal encontra barreiras de crescimento por causa da renda mais comprometida do consumidor nas classes mais baixas.
Segundo a Abihpec, associação que representa as fabricantes do setor, as vendas no primeiro trimestre deste ano subiram 6,5%, com destaque para maquiagem, que teve crescimento de 18% em valor de vendas ex-factory (consideram o faturamento de fábrica, sem adição de impostos sobre vendas), em comparação ao mesmo período do ano anterior. Esses números incluem as vendas ao mercado externo, um canal que tem ajudado as fabricantes. Até abril, dados mais recentes divulgados pela Abihpec, a indústria de higiene pessoal e beleza registrou um avanço de 18% ante o mesmo período de 2021, somando US$ 246,8 milhões.
Olhando somente para o mercado interno o ritmo de crescimento pode preocupar mais. Segundo levantamento da consultoria de consumo Euromonitor, que acompanha os valores vendidos no varejo, as vendas de todo o setor cresceram 1,2% em 2021 ante 2020, para R$ 123,8 bilhões. A estimativa da equipe da consultoria é de que essas vendas cheguem a R$ 129,84 bilhões em 2026, um avanço de 4,9% para todo o período.
No entanto, chama atenção que o grande impulso venha mesmo é do segmento premium, ou seja, dos produtos de maior valor agregado e vendidos a tíquetes médios mais elevados. O avanço dessa fatia de mercado foi de 11,4% entre 2020 e 2021, para R$ 7,80 bilhões.
Enquanto isso, o segmento de venda massiva, ou seja, os produtos mais populares, ficou no zero a zero, com R$ 99,61 bilhões de vendas.
Esse cenário demonstra que há um descompasso entre os segmentos e que a venda nas faixas de preços mais baixas está mais “disputada”.
Uma possível explicação é a de que a indústria e o varejo aceleraram a reposição de preços neste ano, depois de optarem por reduzir margens para segurar o aumento de custos. De janeiro até junho, a inflação de itens de cuidados pessoais foi de 8,14%, enquanto o índice geral, o IPCA, subiu 5,49%. Porém, quando observados os 12 meses acumulados, os itens do setor ainda tiveram menor aumento de preços do que indica o IPCA geral: 8,34% x 11,89%.
Na última teleconferência de resultados, sobre os números do primeiro trimestre, João Paulo Ferreira, presidente da divisão Latam da Natura &Co — uma das grandes fabricantes no Brasil e cujos os dados são públicos — indicou que o crescimento deve vir mais por preços do que por volumes.
No país e na América Latina, as vendas do grupo caíram 8,4% em reais e 2,1% em moeda constante. O melhor desempenho ficou para a Natura no Brasil, cujas vendas cresceram 3,1% em reais e 3,2% em moeda constante. Mas a Avon, que tem portfólio de preços mais baixos, ainda patina: queda de 17% no mercado nacional ante mesmo período de 2021. O grupo registrou aumento de 314% no prejuízo líquido, para R$ 643 milhões, e a receita caiu 12,7%, para R$ 8,3 bilhões.
Esse cenário também impacta a estratégia das companhias. A fabricante de produtos capilares Cadiveu, por exemplo, quer fortalecer sua linha profissional no mercado brasileiro. É um portfólio posicionado no segmento premium, embora esteja nas faixas mais competitivas de preço. O tíquete médio, porém, é superior ao portfólio Essentials, vendido em canais de varejo de massa, como farmácias e supermercados, conta a sócia e fundadora da marca, Claudia Alcantara.
“Queremos ser premium, mas uma marca justa.” Ela explica que o volume vendido ainda deve ser maior dos produtos mais baratos, mas espera que o crescimento do ano venha do portfólio premium, que deve ajudar não só em margens, mas, também, na “construção de marca”.
A empresa foi criada em 2007, mas metade de seu faturamento vem das exportações justamente com os produtos da linha profissional, conta Alcantara. A expectativa da empresa é de que o faturamento em 2022 some R$ 150 milhões.
Fonte: Valor Econômico