Por | Após um período de inflação elevada, que fez com que os consumidores priorizassem preço na hora de fazer compras domésticas, a comodidade está voltando a ser um fator relevante para o consumo. Reflexo dessa mudança de comportamento, os mercadinhos de bairro ou mercados de proximidade estão crescendo em todo País.
Também chamados de mercados de vizinhança, esses estabelecimentos de até 1.000 m² oferecem uma menor variedade de produtos, mas tem como principal trunfo a possibilidade de estarem geograficamente próximos dos consumidores para compras de reposição.
No Nordeste, o faturamento dos super pequenos já acumula alta de 10% em 2023, de acordo com a última Atualização Semanal do Varejo Moderno Brasileiro, divulgada pela NIQ. O índice é maior inclusive que a média nacional, de 7,6%.
Grandes nomes do setor supermercadista estão se inserindo e se expandindo nesse segmento. É o caso do Carrefour, por exemplo, que lançou no mês passado a franquia Carrefour Express. Outras marcas como Minuto Pão de Açúcar e Mini Extra também são focadas em atender esse público.
Expansão dos mini mercados
O gerente de Varejo da NIQ, Igor Vilas Boas, explica que houve um momento inicial de expansão dos mercados de proximidade antes mesmo da pandemia. Essa alta teve uma quebra em razão da pandemia e o segmento agora volta a crescer.
Existe ainda muito espaço para os minimercados. Tem espaço também para outros canais, mas tem muito espaço de conveniência. A conveniência é uma pauta muito constante, tem sido o atributo mais relevante para o consumidor nas nossas últimas pesquisas”.
Igor Vilas Boas – Gerente de Varejo da NIQ
O professor de marketing e comportamento do consumidor da Unichristus e Faculdade CDL, Christian Avesque, explica que esses mercados oferecem um mix de produtos voltado para a cesta de compras do consumidor, montado com base nos produtos que mais tem giro.
Além de produtos de conveniência, os mercados de proximidade também têm oferecido opções como cereais, matinais, macarrão, açúcar e outros itens para reposição e abastecimento doméstico. Alguns negócios oferecem até serviços, com padarias e restaurantes.
Para o professor, os mercadinhos servem como complemento aos atacarejos, outro modelo de negócio que passa por um período de expansão. Enquanto os atacarejos atendem a jornada de compra do consumidor que pretende abastecer a residência, os mercados de vizinhança atendem demandas de reposição.
Por exigirem uma área menor para instalação, os mercados de proximidade conseguem espaços nas áreas centrais das cidades, estando próximo das casas ou das rotas diárias do consumidor. Os atacarejos, por outro lado, costumam estar mais afastados, exigindo um deslocamento maior que normalmente se justifica apenas para as compras maiores do mês.
“O atacarejo é aquela compra grossa, feita do dia 1º ao dia 8, e as compras semanais de recomposição não são feitas nos atacarejos, são feitas nessas lojas de proximidade. É um movimento complementar. Quanto mais as nossas cidades ficarem densas, com grandes problemas de trânsito e segurança, mais as lojas de proximidade vão ser fundamentais. Quanto mais tem renda disponível, menos o consumidor se dispõe a se deslocar mais para buscar preços menores”, diz.
Movimento no Nordeste
Igor Vilas Boas destaca que o segmento de super pequenos tem se desenvolvido bastante em regiões como o Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo. Ele relaciona com o cenário macro da inflação, justificando que o consumidor tem começado a diversificar o consumo com a recomposição da renda.
“Pensando no Nordeste, é uma das regiões que temos um crescimento importante dos minimercados, acontece bastante no Nordeste, nas metrópoles e no Sul. O Nordeste está dentro do top 3 de regiões que mais cresce, existe um movimento claro quando se compara com outras regiões de abertura de lojas, tem um movimento de expansão dessas lojinhas muito mais forte”, destaca.
Trazendo especificamente para o Ceará, Christian destaca que o segmento ainda não tem tanta força devido à consolidação de redes supermercadistas locais. Ele considera, contudo, que esse movimento de crescimento dos mercados de proximidade deve se acelerar no estado com a entrada de grandes players.
Falta ainda uma vinda dessas bandeiras para o Nordeste. O Carrefour investiu R$ 150 mil na criação do Carrefour Express, mas as primeiras lojas ficarão localizadas apenas em São Paulo.
Em nota, o Grupo Carrefour Brasil informou que está no mercado de proximidade desde 2014, com 152 lojas nesse formato entre lojas autônomas, de rua e centros comerciais, residenciais e in company. A empresa não citou lojas na região Nordeste.
Detentor das bandeiras Minuto Pão de Açúcar e Mini Extra, o GPA afirmou em nota que o formato de proximidade é uma das principais apostas do grupo e o plano de expansão da companhia prioriza esse modelo de negócio, especialmente com a bandeira Minuto Pão de Açúcar.
“O foco nesse formato se deve ao maior potencial de pontos de venda nas cidades em que o GPA já possui presença, capitalizando ainda mais sua malha logística”, colocou.
O GPA já possui 280 lojas no modelo, e o Minuto Pão de Açúcar está presente no Nordeste apenas em Recife, onde a bandeira possui oito lojas. Não foram informados planos de expansão para o Ceará.
Fonte: Diário do Nordeste