O comércio eletrônico se acostumou a ter altas de dois dígitos na última década. O ano de 2019 não foi diferente, e mostrou ainda um crescimento superior ao de 2018 e 2017.
O faturamento no comércio eletrônico nacional foi de 75,1 bilhões de reais em 2019, alta de 23%. De 2017 a 2018, a alta no e-commerce havia sido de somente 7,6%. Foram 178,5 milhões de pedidos feitos pelos brasileiros, 22% a mais do que em 2018.
Os números estão na segunda edição do relatório Neotrust, da empresa de inteligência especializada em e-commerce Compre&Confie, divulgado nesta quinta-feira, 13, com informações relativas à performance das compras online brasileiras no ano passado.
Também aumentou sobremaneira o número de consumidores usando a internet para comprar. Foram 31,4 milhões de brasileiros que fizeram pelo menos uma compra online, alta de 41% em relação ao ano anterior. De 2017 para 2018, o número de consumidores havia caído ligeiramente, com cerca de 500.000 consumidores há menos.
Na Black Friday passada, uma das modalidades que mais chamaram a atenção dos compradores foi a opção de “Retira Loja”, segundo um estudo do Google divulgado algumas semanas antes da data, que acontece em novembro. A pesquisa apontou que 39% dos brasileiros consideram a opção como muito importante na hora de decidir a loja na Black Friday e que 24% dos compradores em 2019 esperavam usar essa forma de entrega para suas compras online.
Já o tíquete médio de gastos dos clientes ficou basicamente no mesmo patamar (com alta de somente 0,2%). Ao longo do ano, um mesmo consumidor gastou em média 2.121 reais e fez seis compras.
O Brasil que não é o Sudeste
As compras online ainda mostram um grande abismo em sua disseminação, seja regional ou geracional. A média de idade dos consumidores do e-commerce é de 37 anos, e a maioria (52%) é mulher, segundo a Compre&Confie. Na divisão por faixa etária, a maior parte dos consumidores tem entre 36 e 50 anos (33,6%) e entre 26 e 35 anos (31,8%).
O relatório mostra que as compras online ainda não chegaram com grande vigor à geração Z (pessoas de até 25 anos), que respondem por 19,5% dos consumidores — jovens com essa idade estão ingressando somente agora no mercado de trabalho e possuem menos dinheiro para compras. A boa notícia é que, em breve, esses consumidores, que já nasceram adaptados à era digital, responderão por boa parte do mercado e devem ter uma maior receptividade às compras online.
A situação contrária acontece com os clientes acima de 51 anos, que têm dinheiro, mas não o hábito de comprar online. Essa fatia da população representaram 15,1% dos consumidores em 2019 (a faixa etária com menos clientes).
Apesar do crescimento, o número de clientes que comprou online em 2019 representa somente 15% dos mais de 210 milhões de brasileiros, ou na casa dos 20% dos brasileiros acima de 15 anos, segundo o censo populacional do IBGE. Assim, o comércio eletrônico ainda tem um longo caminho a percorrer até atingir de fato todas as partes do Brasil e todas as classes sociais.
A desigualdade entre as regiões também é alta. O Sudeste sozinho responde por 66% do volume de vendas online no Brasil, seguido por Sul (14%), Nordeste (12%), Centro-Oeste (6%) e Norte (2%).
Por outro lado, as vendas no Nordeste subiram 26%, mais do que a média nacional de 23%. Chegar às regiões pouco exploradas pelo e-commerce e montar uma cadeia logística capaz de atendê-las deve se tornar um dos principais desafios das grandes varejistas nos próximos anos.
Um dos desafios será o custo do frete das cadeias de logística necessárias para atender a todas as regiões do Brasil. O frete médio dos pedidos também vem crescendo desde 2017, passando de 16,87 reais naquele ano para 20,63 reais em 2019. Ainda assim, a porcentagem de pedidos com frete grátis segue a mesma: 45% dos fretes são gratuitos e 55% são pagos.
Outro estudo da Compre&Confie, encomendado por EXAME no ano passado, mostrou que uma entrega leva em média mais de 13 dias no Brasil — período que chegou a passar de 18 dias na Black Friday. Uma das saídas que as grandes varejistas vêm usando é integrar o estoque das lojas físicas, já espalhadas pelo território, ao comércio eletrônico, tornando a loja um mini-centro de distribuição e barateando o custo do frete.
Não há crise no e-commerce?
Como de praxe no varejo, a maior parte do faturamento veio no segundo semestre, que é composto por mais datas comemorativas, como Natal, Black Friday e Dia das Crianças. O e-commerce também foi beneficiado por uma ligeira retomada do varejo, cujas vendas subiram por sete meses consecutivos no fim de 2019, até novembro. Mas a recuperação no varejo nacional ainda engatinha: dados divulgados nesta semana pelo IBGE mostram que o varejo recuou em dezembro e também que fechou 2019 com alta de apenas 2,6% (ante alta de 3,5% entre 2017 e 2018).
Para 2020, a Compre&Confie estima um crescimento de 18% no número de pedidos no e-commerce, que devem passar de 210 milhões neste ano. A projeção é que o faturamento suba 21%, para 90,7 bilhões de reais.
Um dos maiores desafios dos próximos anos será também diversificar a participação de novas categorias nas vendas — o que alguns chamam de segunda, terceira ou mesmo quarta “onda” do varejo.
A ideia é fazer os brasileiros olharem para a internet para comprar absolutamente tudo — de comida a itens de pet shop ou móveis. Atualmente, a categoria campeã de pedidos no e-commerce é Moda e Acessórios (21%) dos pedidos. Contudo, eletrônicos e eletrodomésticos são os que mais faturam, devido ao alto tíquete dos pedidos (veja no gráfico abaixo).
A boa notícia para o comércio eletrônico é que a categoria consegue crescer mesmo com o mau momento da economia brasileira. A má notícia é que a distinção entre as vendas online e físicas começa a ficar cada vez mais tênue, com modelos mais voltados ao multicanal e estoques online e físicos integrados em grandes varejistas. Assim, se a economia não melhorar, não há multicanal que salve o varejo.
Fonte: Exame