As restrições de circulação impostas pela pandemia vão fazer com que US$ 7,57 bilhões em vendas migrem este ano do varejo tradicional para o comércio eletrônico no Brasil. A estimativa é da consultoria Euromonitor International, que enxerga um avanço na participação do comércio eletrônico no faturamento total do varejo. A expectativa é de que essa fatia atinja um patamar de 12%, contra uma participação de 8% em 2019.
“É uma realocação de recursos”, resume Marcel Motta, diretor-geral da Euromonitor no Brasil. que projeta retração de US$ 6,2 bilhões no volume de vendas do varejo brasileiro como um todo, na comparação entre 2020 e 2019. O montante leva em consideração uma taxa de câmbio fixa, a valores constantes de 2019. Em termos percentuais, o tombo previsto para o varejo nacional é de 6,5%.
A migração do universo off-line para o on-line no Brasil acompanha uma tendência mundial. A Euromonitor estima que globalmente as vendas do comércio eletrônico somem US$ 2,5 trilhões este ano, um aumento de 25% em relação a 2019 (US$ 2 trilhões).
No âmbito mundial, a China é o principal motor desse avanço, destaca Motta. A previsão é de que o faturamento do e-commerce chinês totalize US$ 920 bilhões em 2020, ante US$ 730 bilhões no ano passado. As vendas pela internet representaram 28% da receita do varejo chinês em 2019 e este ano devem chegar a 35%.
Na avaliação de Motta, os exemplos chinês e americano mostram que ainda há um vasto espaço a ser ocupado pelo comércio eletrônico no Brasil. Em 2018, por exemplo, a fatia desse segmento no varejo brasileiro era de apenas 5%.
Levantamento do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br) indica que o comércio eletrônico cresceu em todas as regiões do país e em todas as classes, especialmente entre as mulheres, durante a pandemia. Baseada em 2.627 entrevistas, realizadas entre 23 de junho e 8 de julho, a pesquisa identificou a compra de comida ou produtos alimentícios como a atividade de comércio eletrônico que mais registrou expansão durante a pandemia.
Se em 2018 o percentual de usuários da internet com mais de 16 anos que adquiriram comida e gêneros alimentícios pela Internet foi de 22%, este ano a porcentagem aumentou para 54%, considerando um período menor, de três meses, durante a pandemia.
Para além das alternativas usuais do comércio eletrônico, a utilização de aplicativos de mensagens instantâneas foi o canal de compra mais usado durante a pandemia, de acordo com o Cetic.br. “Já surgiram inclusive ferramentas para gestão de vendas via WhatsApp”, conta Marcelo Cherto, presidente da Cherto Consultoria. Ele cita como exemplos varejistas dos ramos de chocolates e óculos que, por causa da pandemia, “digitalizaram” os vendedores de suas lojas.
A partir de listas detalhadas, com o perfil de compras de clientes que já frequentavam as lojas físicas, os vendedores passaram a oferecer produtos pelo WhatsApp. No caso da franquia de chocolates, o lançamento da operação de comércio eletrônico estava prevista apenas para o primeiro semestre de 2022, nos planos traçados antes da pandemia. “Todo mundo já vinha dizendo que o futuro do varejo é o ‘figital’, a combinação do [espaço de vendas] físico com o digital. Isso já vinha sendo discutido há anos. O que a pandemia fez não foi mudar a direção, foi acelerar a tendência”, afirma Cherto.
Também presidente da Associação de Supermercados do Estado do Rio de Janeiro (Asserj), Queiróz reconhece que, de início, as empresas do segmento não estavam preparadas para atender o “aumento exponencial” na demanda on-line que se seguiu à entrada em vigor das medidas de isolamento social. “Mas 15 dias depois já tínhamos períodos bem razoáveis para entrega de mercadorias”, acrescenta.