Com a pandemia da covid-19, o marketing digital ganhou espaço no comércio e serviços brasileiros — até mesmo em setores antes resistentes à ferramenta, que tiveram de rapidamente se adaptar ao novo modelo. Somente em abril, o e-commerce faturou R$ 3,4 bilhões, 81% mais do que há um ano, segundo levantamento do Compre&Confie, que reúne lojas de vendas online.
As categorias que tiveram o maior crescimento em volume de compras em relação a abril do ano passado foram alimentos e bebidas (+294,8%), instrumentos musicais (+252,4%), brinquedos (+241,6%), eletrônicos (+169,5%) e cama, mesa e banho (+165,9%).
Na avaliação do presidente da agência de marketing e comunicação Saving, Caio Velloso, a pandemia antecipou a migração para o mundo digital em alguns anos nos últimos três meses, e não terá volta. “É bem significativo quando se fala de um crescimento de 81%. Setores que resistiam ao ambiente digital foram forçados a encontrar uma maneira de potencializar vendas, ou mesmo para manter o negócio vivo”, explica Velloso, que prevê fechar o ano com uma demanda 120% maior, atingindo faturamento de R$ 2,5 milhões.
Pelas contas da consultoria global Bip, a base de consumidores que recorrem às plataformas digitais cresceu 85% desde março. Luiz Fabbrine, responsável pelo setor de Serviços Financeiros da consultoria, aposta num cenário positivo para as instituições de pagamento inseridas nesse modelo de negócio em todo ano de 2020.
Boom
A classe médica é uma das que mais resistia a entrar no mundo digital e, agora, experimenta um “boom” por causa da pandemia. Nesse momento de crise, a telemedicina virou uma prática comum. O mesmo ocorre como o setor de educação, que ensaiava casos isolados de ensino a distância e teve de correr para se adaptar à nova realidade. Mesmo os comerciantes de médio e pequeno portes apelaram ao ambiente digital para tentar driblar a queda da demanda trazida pelo isolamento social, utilizando redes sociais como Instagram e Facebook para se manter no mercado. Já as grandes empresas viram suas vendas crescerem, a despeito de lojas fechadas, graças ao e-commerce.
“A gente está se reinventando e pensando o negócio dos nossos clientes de forma criativa. É preciso criar um relacionamento com esse público”, afirma Velloso, da Saving, citando a criação de vouchers para serem retirados no pós-pandemia, descontos para garantir receita, e até a realização de campanhas como o #naodemita, que despertou empatia dos consumidores.
Para ele, o hábito do consumidor mudou, e, mesmo com a reabertura dos shoppings e a gradual retomada da economia de maneira geral, o e-commerce não será abandonado e o marketing digital, cada vez mais utilizado para atrair o novo consumir.
“O consumidor está mais reflexivo, mais solidário, com menos dinheiro e percebendo as marcas que estão fazendo algo pela sociedade, e quem não estiver nessa onda está fora. Mais do que nunca, a venda estará ligada ao relacionamento com os clientes”, afirma Velloso.
Pós-pandemia
Apesar da expansão do e-commerce na crise, a expectativa é que as lojas físicas não desapareçam. Essa tem sido a experiência da China, onde surgiu a covid-19 e, passado o período mais crítico, o comércio tradicional começa a se estabilizar.
A consultoria Alvarez & Marsal, especialista em reestruturação de empresas, prevê movimento similar no Brasil. A expectativa é que o virtual ceda com a reabertura das lojas de ruas e shoppings. Ao mesmo tempo, a penetração do e-commerce no mix de vendas do varejo deve continuar crescendo. Isso porque a confiança do consumidor só deve ser totalmente restaurada após a vacina contra o vírus. Até lá, segundo a consultoria, a retomada será intermitente.
Fonte: Terra