Em quarentena voluntária, o educador Rafael Ferro, de 29 anos, deixou de fazer mesmo compras básicas nas ruas. Pela primeira vez, ele adquiriu, neste mês, uma cesta de legumes e frutas pela internet. E o movimento não é uma exceção. A pedido do EXTRA, a Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm), em parceria com o Movimento Compre & Confie, levantou que o varejo digital teve aumento significativo de consumo desde a confirmação do primeiro caso da doença no país, em 25 de fevereiro, até o dia 20 de março. As altas, em comparação com período simular do ano passado, foram de 30,5% em pedidos feitos e de 28% em faturamento.
— Eu sempre fiz todas as compras de casa, de produtos de alimentos aos de limpeza, nos supermercados e nas feiras. Mas agora tenho buscado opções que evitem minha ida às ruas. Então uma amiga indicou um serviço que atende em São Paulo, que entrega frutas e legumes que geralmente são descartados pelos produtores e mercados por terem formatos diferentes ou uma casquinha prejudicada, mas próprios para o consumo — conta Rafael Bruno.
A decisão dele confirma a avaliação de André Dias, diretor executivo do movimento Compre&Confie.
— Essa alta está relacionada à migração de vendas que seriam realizadas no varejo tradicional. Tanto é que setores que não são tão representativos na internet, por venderem principalmente bens não duráveis, como as categorias de petshops, alimentos e bebidas, e de saúde tiveram grandes aumentos de compras neste período. Começamos a ver alta também na categoria de esportes pois, com as academias fechadas, as pessoas querem se exercitar em casa. E acho ainda que tem grande oportunidade de crescer o setor de brinquedos no e-commerce, uma vez que as crianças estão em casa e precisam ser entretidas — explica André.
Rosa Maria Ferreira, corretora de imóveis, de 60 anos, também fez a sua primeira compra online de itens de mercado:
— Gosto de ir a mercados escolher os itens. Porém, com essa situação, me vi forçada a fazer isso. O atendimento foi ótimo. Interagem conosco, dizem o que não tem, perguntam se podem substituir. E me entregaram de um dia para o outro.
Desafios logísticos da alta demanda
Especialistas apontam que são os itens não duráveis, como o de alimentação, que está se concentrando a maior demanda, segmento que é considerado o último de amadurecimento no comercio online. Assim, as empresas não vendem mais por falta de estrutura para isso. O que tem, inclusive, ocasionado atrasos nas entregas.
— Considerando que os crescimentos de consumo neste momento são em categorias de bens não duráveis, entregá-los na validade e diminuir o frete, que por vezes fica mais caro do que o produto, é um desafio — diz André Dias, diretor executivo do movimento Compre&Confie.
Para Alberto Serrentino, consultor e fundador da consultoria Varese Retail, estamos vivendo um momento que está pondo o varejo à prova e pode mudar o setor em definitivo:
— Quando mais tempo durarem as medidas de contingenciamento, maior será o impacto nas mudanças de hábitos de consumo das pessoas e no crescimento do e-commerce depois. Ainda não sabemos como será, há hábitos que não voltam, e outros são redimensionados. Mas, veremos mais gente comprando online.
Varejistas investem para crescimento
As empresas estão investindo para atender à demanda de agora e a que está por vir, apostando no crescimento das compras virtuais. O Carrefour informou que notou um aumento significativo no número de pedidos feitos via e-commerce nos últimos dias, e está contratando novos colaboradores para poder atender melhor os consumidores e aumentar a capacidade de entrega da área.
O Pão de Açúcar e o Extra, supermercados do grupo GPA, terão nos próximos dias um novo centro de distribuição para a região de São Paulo e estão otimizando a infraestrutura de estoques no Rio de Janeiro.
Para Abel Ornelas, vice-presidente Comercial e de Operações da Via Varejo, dona das marcas Ponto Frio e Casas Bahia, o crescimento do online é uma realidade, mas, principalmente, com a integração com o presencial:
— Estamos, cada vez mais, nos preparando para esse cenário. Um exemplo é que na Black Friday o canal online teve 48% do volume de nossas vendas. Entretanto, acreditamos que a tendência é de uma integração entre a operação online e física, sendo até difícil identificar onde surgiu a venda. Muitos clientes gostam de ver os produtos de perto e ter contato com os vendedores.
Fonte: Extra