Por Maria Luiza Filgueiras e Adriana Mattos | A SouthRock conseguiu tirar o Eataly de seu processo de recuperação judicial no final do ano passado e agora bateu martelo na venda do negócio. O Pipeline apurou que o fundo Wings já assumiu a operação e iniciou a renegociação com fornecedores e outros credores.
Como antecipado pela coluna quando iniciaram as conversas, o fundo é composto por pouco mais de 60 pessoas físicas, entre médicos, publicitários e contadores, e agora também por um veículo de multi family office. Sem experiência no setor de alimentação, os investidores do Wings trouxeram para a gestão do Eataly o executivo Marcos Calazans, que já tinha tentado comprar o ativo no passado.
A Panza&Co, então dona do Café Suplicy, Fifties e P.F. Chang’s, chegou a submeter a aquisição do Eataly ao Cade em fevereiro de 2022, mas foi atropelada na reta final pela SouthRock, enquanto ainda estruturava o financiamento. Em agosto daquele ano, Ken Pope anunciou a aquisição. (Com a pandemia, a Panza&Co encerrou as operações das outras marcas.)
Calazans assumiu a cadeira de CEO da operação, que era ocupada até então por Luis Felipe Campos. As negociações de venda foram feitas pelo CFO da SouthRock, o sócio Fabio Rohr – Pope não participou das conversas, ainda que tenha assinado toda a documentação, contou uma fonte.
O fundo pagou R$ 15 milhões pelo ativo e ainda assumiu uma dívida de R$ 45 milhões. O tamanho do endividamento impressiona, considerando que se trata de apenas uma loja no Brasil. Mas, segundo fontes com conhecimento do negócio, somente cerca de R$ 15 milhões se referem diretamente a operação, como estoque.
O saldo inclui impostos em atraso e pagamentos de royalties à matriz italiana, que os novos donos devem renegociar. Os crédito bancários, com instituições como Pine e Santander, já foram quitados. Fonte próxima ao fundo diz que há muito trabalho a ser feito para recuperação da loja e expansão, mas que há mato alto e várias iniciativas já foram identificadas para o plano de ação.
Um dos obstáculos que os novos donos terão que sobrepor é que já há um pedido de falência do negócio, como revelou o Valor. Segundo fonte próxima ao fundo, a Winebrands seria uma dos menores credores em bebidas, com cerca de R$ 80 mil a receber – a Mistral, por exemplo, teria R$ 500 mil -, mas a expectativa é de um acordo com o fornecedor. Mas a Winebrands afirma nos autos que o Eataly teria 634 protestos na Justiça e dívidas recentes só com fornecedores somando R$ 8 milhões.
A venda foi assinada antes da homologação da recuperação judicial da controladora e outras empresas do grupo. Apesar de o Eataly não fazer parte do processo, o administrador judicial definiu, após o deferimento, que as recuperandas não poderiam vender participações acionárias a partir dali.
No fim de 2022, houve mudança também na matriz do Eataly. O fundo europeu de private equity Investindustrial comprou o controle da operação, que era da família fundadora, os Farinetti.
Fonte: Pipeline Valor