Em entrevista a O Financista, Eduardo Prado descarta grandes investimentos da operadora de shopping centers
A administradora de shopping centers Aliansce só divulgará os resultados do quarto trimestre em março, mas um vislumbre do que virá foi dado pela prévia operacional, publicada no início deste mês. As vendas em seus shoppings cresceram apenas 0,3%, na comparação com 2014, e alcançaram R$ 8,4 bilhões.
É verdade que, quando comparado ao varejo em geral, pode-se dizer que, pelo menos, o desempenho foi positivo. Isto porque o IBGE divulgou uma queda de 4,3% nas vendas do setor – o pior desempenho da série histórica iniciada em 2001. Mas também é impossível ignorar o contraste com o incremento de 6,5% das vendas totais dos shopping centers em 2015, apurado pela Abrasce, a associação que representa as empresas do ramo.
O superintendente de Relações com Investidores da Aliansce, Eduardo Prado, explica que o maior impacto no desempenho da companhia foi gerado pela queda do movimento no Shopping da Bahia, instalado em Salvador. O empreendimento passou por uma reforma que bloqueou, temporariamente, parte de seus acessos.
Para este ano, Prado afirma que a Aliansce vai adotar uma “gestão conservadora”, sem grandes investimentos e com foco na atração de consumidores para seus centros de compra. Veja, a seguir, os principais trechos da entrevista a O Financista:
O Financista: As vendas do varejo, como um todo, recuaram 4,3% no ano passado. Foi o pior resultado da série do IBGE. Já as vendas dos shopping centers cresceram 6,5%. Por que esse contraste?
Eduardo Prado: Historicamente, os shoppings são mais resilientes que o varejo de rua. Os shoppings se organizam para promover as vendas, fazem campanhas para atrair clientes. Há muito investimento em marketing. As lojas de rua não têm essa organização. Não há medidas para melhorar o fluxo de consumidores e o faturamento. A tendência é que os shoppings aumentem ainda mais sua fatia de mercado no varejo em geral.
O Financista: A Abrasce também projeta um resultado bem otimista para 2016: outro crescimento de 6,5%. Esse é o cenário com que a Aliansce trabalha?
Prado: A Aliansce não tem a política de divulgar guidances [estimativas de desempenho elaboradas pela própria empresa]. O que posso dizer é que a empresa está fazendo a sua parte. Continuamos focados em ajudar os lojistas e aumentarem suas vendas. Mantemos nosso trabalho de marketing, as promoções, os eventos para atrair o público. A melhoria do mix de lojas também é um esforço constante. Um momento como o atual acelera a troca de lojistas. Aqueles que não conseguem acompanhar a situação estão mais predispostos a conversar sobre sua saída dos shoppings.
O Financista: Ainda em relação a 2015, as vendas nos shoppings da Aliansce cresceram 0,3% sobre o ano retrasado. O que justifica o desempenho bem menor que os 6,5% do setor?
Prado: O principal motivo foi a renovação do Shopping da Bahia [em Salvador]. Ele representa 16% do nosso resultado operacional. A reestruturação impactou o fluxo de clientes. As obras já terminaram e, por isso, não devem impactar mais os resultados. Além disso, o desempenho da Abrasce considera o crescimento em área, e a Aliansce não inaugurou novos shoppings no ano passado.
O Financista: Alguns setores sentiram mais a queda de vendas, como os eletroeletrônicos. Isso aconteceu também com os shoppings da empresa?
Prado: Realmente, o desempenho dos eletroeletrônicos foi um ponto fora da curva no ano passado. Mas é preciso considerar que, em 2014, as vendas foram muito elevadas, por causa da Copa do Mundo. O crédito também pesou. Alguns lojistas, que expandiram suas operações nos últimos tempos, enfrentam um custo de financiamento mais alto, por causa da elevação dos juros. Mas, na Aliansce, isso não refletiu na taxa de ocupação, nem nos aluguéis, que mantiveram o crescimento nos últimos três trimestres. Os contratos são corrigidos pela inflação, por isso, temos alguma proteção contra o atual cenário.
O Financista: E como está a inadimplência dos lojistas?
Prado: A taxa de inadimplência continua em um nível muito baixo e controlado. Ainda não divulgamos os números do quarto trimestre. Se olharmos para os do terceiro, ela subiu em relação a 2014, mas ainda é um patamar confortável.
O Financista: A Abrasce indica que os setores que mais cresceram, nos shoppings, foram os de cosméticos e lazer. Como isso influencia a mudança de mix nos empreendimentos da Aliansce?
Prado: Isso é caso a caso. Depende muito de cada shopping. No ano passado, por exemplo, os segmentos de alimentação e lazer foram os destaques da Aliansce. As áreas dedicadas a esses setores cresceram e isso tem reflexo no mix. A rentabilidade dessas áreas também é maior. No caso de fast foods, fica acima da média. Já para restaurantes, fica em linha com os demais.
O Financista: Quais são os planos de investimentos da Aliansce em 2016?
Prado: Há três expansões em andamento e só. Não temos planos para novos shoppings. Nossos investimentos serão significativamente menores em relação aos anos anteriores. Agora, é hora de uma gestão conservadora.