O crescimento industrial chinês envolve o fluxo constante de trabalhadores de zonas rurais empobrecidas para grandes centros, especialmente aqueles com acesso ao mar, de onde produtos são exportados para o resto do mundo. Como efeito colateral, pequenos vilarejos no interior se esvaziam e continuam empobrecidos.
O e-commerce voltado para o mercado interno tem sido defendido, no entanto, como uma alternativa capaz de trazer de volta parte da população que deixou os vilarejos e de promover o desenvolvimento dessas áreas pobres.
Uma peça-chave desse processo é o site Taobao, que promove a venda de produtos de empresas para consumidores e também de consumidores para consumidores. Voltado principalmente para pequenos negócios, ele foi criado em 2003 pela Alibaba, gigante de varejo on-line chinês.
Hoje, o Taobao é o 10º site mais visitado do mundo – ele é acessado, majoritariamente, na China. As vendas na plataforma alimentam um fenômeno que ficou conhecido no país como “vilas Taobao”. São lugarejos no interior, em que uma parte considerável da população sobrevive produzindo e vendendo produtos na plataforma.
Elas têm sido destacadas pelo Banco Mundial como uma estratégia positiva para o desenvolvimento do país asiático, o mais populoso do mundo. Em um discurso de outubro de 2016, Bert Hofman, diretor do Banco Mundial para o país, destacou como o empreendedorismo com o site pode alterar realidades locais.
“Tomem o vilarejo de Shaji, por exemplo. Em 2006, um emigrante retornou ao local para abrir uma loja on-line e vender móveis simples. Seu sucesso encorajou outros a fazerem o mesmo. E ao final de 2010 sua vila tinha seis fábricas processadoras de madeira, duas fábricas de partes de metais, 15 empresas de logística e transporte e sete lojas de computador servindo 400 lares envolvidos na venda ao redor da China e até mesmo em países vizinhos”
Bert Hofman – Diretor do Banco Mundial para a China, em discurso em 2016
Os negócios das vilas Taobao são variados. Eles incluem produtos agrícolas, artesanato local, fantasias e mesmo pequenas indústrias de bicicletas. Os produtos são vendidos para o resto do país.
O crescimento das Vilas Taobao#
O Alibaba contabiliza ativamente as vilas Taobao e incentiva o engajamento de governos locais na promoção do e-commerce. Segundo a metodologia adotada pela empresa, vilas Taobao são aquelas que ficam na zona rural, têm pelo menos 100 lojas on-line, ou o equivalente a ao menos 10% dos lares trabalhando com e-commerce, e receita com vendas de mínimo US$ 1,6 milhão por ano.
Em 2014, o Alibaba contabilizava 20 vilas do tipo, segundo informações do jornal britânico “Financial Times”. Um relatório da empresa datado de agosto de 2016 contabilizava 1.311.
10 milhões de empregos na China estão ligados à plataforma Taobao
As vilas Taobao como estratégia de crescimento#
Segundo informações referentes a 2014 citadas pelo Banco Mundial, a maioria desses e-commerces é pequena, com uma média de 2,5 funcionários. De cada 10 proprietários, quatro são mulheres. E 20% deles estavam desempregados antes de iniciar seu próprio negócio.
A capacidade de incluir economicamente empreendedores que estão longe dos grandes centros econômicos contribui para que o governo chinês trate as vilas Taobao como uma parte da estratégia de diminuir a pobreza no país.
Segundo diretrizes estabelecidas em novembro de 2016 pelo Escritório do Conselho de Estado chinês para Redução da Pobreza, o objetivo é que as áreas rurais pobres aumentem em quatro vezes suas vendas com comércio on-line até 2020.
Tanto Alibaba quanto o Taobao se beneficiam do fato de que o setor de vendas on-line é encarado como estratégico pelo governo. Não há uma restrição legal a empresas do tipo mas, segundo análise da agência de notícias Bloomberg, reguladores chineses dão especial atenção a supostas ilegalidades cometidas por concorrentes internacionais dos serviços de e-commerce locais. Isso teria dificultado o crescimento de concorrentes como Walmart e EBay.
A mudança do modelo econômico chinês#
A estratégia de desenvolvimento das vilas Taobao também se insere em uma mudança pela qual a economia chinesa passa. Em 2010, o crescimento foi de mais de 10%. Em 2016, caiu para menos de 7%.
Apesar de não ser um nível exatamente baixo, essa desaceleração é um sinal de que a estratégia de crescimento voltado à exportação está se esgotando. O objetivo declarado da China, agora, é se tornar uma economia impulsionada pelo consumo interno de seus próprios cidadãos, ou seja, deixar de ser uma economia voltada à exportação e se tornar uma economia voltada ao consumo. O enriquecimento de pequenos empreendedores de e-commerce voltados a esse mercado interno é um exemplo de como esse objetivo poderia se materializar.
Quais são as ressalvas do governo americano#
Apesar de não ter adotado nenhuma sanção contra o site, o governo americano tem ressalvas a parte do empreendedorismo presente no Taobao. Muitos dos pequenos e-commerces vendem produtos falsificados, o que fez com que os Estados Unidos incluíssem em 2016 o Taobao em sua lista de “mercados notórios” pela venda de bens ilegais e violações de propriedade intelectual.
Fonte: Nexo Jornal