Os livros em formato digital, que antes eram motivo de preocupação para as livrarias físicas, parecem ter alcançado seu pico de crescimento e já não representam mais a ameaça de antes. E pior: o mercado de e-books encontra-se estagnado em várias partes do mundo, como Estados Unidos e Brasil.
Segundo dados da Association of American Publishers (entidade do setor nos EUA), as vendas de obras digitais caíram cerca de 11% nos primeiros nove meses de 2015, em comparação com o mesmo período do ano anterior. Para se ter uma ideia, as vendas alcançaram em 2010 um total de US$ 1,7 bilhões, que caiu para US$ 1 bilhão em 2014 e chegou a apenas US$ 932 milhões no ano passado. Para 2020, a previsão é que essa quantia caia para US$ 584 milhões.
O impacto negativo na venda de livros digitais pode ter uma explicação relacionada às disputas entre as editoras e a gigante do varejo Amazon. Há cerca de dois anos, as editoras conseguiram a possibilidade de fixar os preços dos próprios e-books. Só que muitas dessas companhias passaram a cobrar mais pelos títulos, o que acabou acirrando a competitividade com os livros impressos, que cresceram frente a essa estratégia.
Na Europa, o cenário não é muito diferente, mas é mais balanceado do que na indústria norte-americana. Há seis anos, o setor registrou um lucro de US$ 342 milhões, que saltou para US$ 818 milhões em 2014, e caiu novamente para US$ 768 milhões em 2015. Até 2020, os valores também devem sofrer uma queda significativa, chegando a US$ 438 milhões.
Em contrapartida, no Brasil as vendas eletrônicas ainda crescem, mas já mostram sinais de desgaste. Em 2010, esse mercado registrou apenas US$ 500 mil, que deu um salto expressivo para US$ 2,3 milhões em 2014. No entanto, cresceu pouco no ano passado: US$ 2,4 milhões, e as expectativas não são nada boas para 2020, quando as vendas por aqui devem cair para US$ 1,1 milhão.
Segundo Marcos da Veiga Pereira, presidente do Sindicato Nacional dos Editores de Livros, não há dados oficiais sobre vendas de livros digitais no Brasil. Mesmo assim, o executivo afirma que, baseado em estimativas de mercado, nunca houve um “crescimento exponencial nem consistente” por aqui. Até mesmo a Amazon, que domina esse setor, também bateu de frente com a estagnação.
André Palme, membro da comissão do livro digital na Câmara Brasileira do Livro, a razão para esse fenômeno ainda contrário no Brasil é que, ao contrário do mercado americano, o mercado brasileiro ainda não atingiu seu patamar de consolidação. De acordo com Palme, a participação do livro digital nos EUA é entre 20% e 25%, enquanto no Brasil é de apenas 3% a 5%.
Mesmo com a queda nas vendas dos livros digitais, Ismael Borges, gestor no Brasil do Bookscan (painel de vendas de livros no varejo realizado pela Nielsen), há espaço para as duas categorias: digital e física. Contudo, Borges acredita que o consumidor do e-book faz parte de um mercado de nicho, e que, por isso, ainda é grande o potencial de crescimento no país.
Além disso, o formato físico, dos livros de papel, deve aumentar sua participação por aqui até 2020, quando alcançar US$ 2,22 bilhões em vendas. Em 2010, esse número era de US$ 1,59 bilhão, que passou para US$ 1,97 bilhão, em 2014, e para US$ 2,14 bilhões, em 2015.