Empresa cresce para se tornar um ecossistema e replicar no País o sucesso do braço financeiro do Alibaba
Por Álvaro Campos
Um ponto que quer virar uma formiga. Essas duas figuras podem passar a ideia de pequenez, mas isso não se aplica nesse caso. Estamos falando da Dotz, uma empresa de fidelidade com 49,6 milhões de clientes e que tem a meta de se transformar em uma Ant Financial, a gigante chinesa que tem mais de 1 bilhão de usuários e uma gama enorme de produtos e serviços. E a “formiga” asiática não é apenas uma inspiração. A Ant comprou 5% da Dotz em abril, pouco antes da abertura de capital da companhia na B3, e pode subir para 15% nos próximos dois anos.
Roberto Chade, CEO da Dotz, conta que alguns anos atrás ele o irmão, Alexandre, fundadores da empresa, estavam discutindo os rumos a seguir. Eram basicamente duas opções: se manter como uma empresa de fidelidade pura ou virar uma plataforma, um ecossistema. Alexandre saiu pelo mundo pesquisando e acabou se deparando com a Ant. Foi assim, de uma postura pró-ativa deles, que a Ant, algum tempo depois, acabou fazendo seu primeiro investimento em uma companhia não asiática.
“A gente vê um potencial enorme de geração de valor nessa parceria. Eles são a principal carteira digital do mundo. A Ant não é um banco e nós não queremos ser um banco. O que eles fazem lá na China é o fornecimento de tecnologia para instituições financeiras, para potencializar e viabilizar a inclusão financeira. E essa é uma agenda muito alinhada com o que nós estamos fazendo. Nós queremos ser, sim, a ‘Ant Financial brasileira’, temos todos os ativos para isso”, diz Chade.
Além de ter uma das seis cadeiras do conselho de administração da Dotz, ocupada por Douglas Feagin, a Ant vai comandar o comitê de estratégia da empresa e participar do dia a dia, com a formação de grupos de trabalho.
O preço que a Ant vai pagar na fatia adicional de 10% que pode comprar na Dotz é de 120% do IPO – quando a ação foi precificada a R$ 13,20 – ou 75% da cotação média do papel nos últimos 30 dias, o que for maior.
O CEO explica que a Dotz já vinha há alguns anos ampliando suas áreas de atuação, mas lhe faltava capacidade de investimento para dar um passo maior. Isso veio com o investimento da Ant e o IPO, concluído em maio, quando a empresa captou R$ 390,7 milhões. “Hoje nós nos definimos como uma plataforma de engajamento. Temos uma ampla base de clientes, massa críticas em termos de dados, de faturamento. Nosso objetivo é pegar os usuário de loyalty [fidelidade] e fazer com que eles utilizem cada vez mais outros produtos, fiquem dentro do nosso ecossistema. Graças ao motor do loyalty, nosso CAC [custo de aquisição de clientes] é muito baixo”.
A parte de fidelidade ainda é 82% da receita, mas a estratégia é que no médio prazo haja uma divisão mais ou menos igual entre esse e os outros dois pilares: “marketplace” (plataforma virtual que reúne diversos produtos) e a tecnologia voltado ao setor financeiro. O volume de vendas (GMV) no “marketplace” teve crescimento anual de 70% no segundo trimestre, chegando a R$ 72,8 milhões.
Na área de tecnologia financeira a Dotz tem 1,499 milhão de downloads e 640 mil cadastros. Além disso, possui 184 mil cartões de créditos co-branded ativos. O CEO aponta que a receita média por usuário (ARPU) é de R$ 14,8 por ano quando eles consomem apenas um produto. Com dois produtos, a receita sobe para R$ 70,9 e, com quatro, chega a R$ 335,8.
Recentemente, a Dotz ampliou um acordo com a Telefônica, dona da Vivo, transformando-a em uma parceria estratégica. Assim, a Dotz será a conta oferecida para a base de 30 milhões de usuário da empresa de telecomunicação. Por outro lado, a Vivo poderá chegar a uma fatia de 2% no capital da Dotz, a depender do atingimento de algumas metas.
Fonte: Valor Econômico