Diversidade é, sem dúvidas, o tema do momento. Todas as empresas querem discutí-lo e ampliar seus quadros com mais mulheres, negros, homossexuais, pessoas com deficiência e profissionais de diferentes formações, culturas e idades. Mas será que a diversidade segue sendo apenas um discurso? A visão unânime dos presidentes participantes da primeira edição do Woman in acTIon, realizado na Cisco, é de que a iniciativa tem de ser, de fato, genuína.
Cristina Palmaka, presidente da SAP Brasil, uma das líderes participantes do encontro, lembrou que para fazer o melhor uso da tecnologia da informação, é preciso ter visões diferentes, pois essa é melhor forma de contar com várias perspectivas. “Temos de incentivar todo o tipo de diversidade, incluindo a de pensamento”, contou, citando que, hoje, a SAP Brasil tem 60% de mulheres em seu quadro.
Quando assumiu a liderança do Twitter no Brasil, Fiamma Zarife olhou a sua volta, viu que poucas mulheres faziam parte da alta gestão das empresas de tecnologia e decidiu que precisaria falar e fomentar o tema. “O Twitter tem uma agenda robusta de diversidade e inclusão. É um ambiente seguro e amigável para progredir. Quero mostrar que é possível. Eu preciso que as pessoas me vejam aqui e falem: eu posso, seja lá o que o sucesso representa para cada uma delas”, revelou.
A presidente da SAP reforçou que iniciativas de diversidade têm de ser algo natural, genuíno. “Educação é uma das formas de fazer isso.” Fiamma concordou e citou não apenas a educação formal, voltada para matemática e disciplinas relacionadas, como também a que vem de casa. “Não é raro ver meninas brincando de bonecas e meninos de carrinho. Mas que tal incentivar as meninas a se interessarem por robôs e Lego, por exemplo?”
Citando a questão das mulheres, Fiamma relembrou uma estatística preocupante: 50% das que atuam em TI abandonam a carreira antes de atingir níveis gerenciais. “Isso tem a ver com trabalhar mais e ganhar 50% menos. Tem a ver com assédio e muitas outras questões”, reforçou.
Diversidade: mais do que uma ação pontual
Ana Paula Assis, presidente da IBM América Latina, engrossou o coro ao dizer que diversidade não é algo pontual, que se resolve como se fosse uma lista de atividades. “Faz parte da construção do novo.”
Com a diversidade em seu DNA, a Gol é referência no tema. O presidente da empresa, Paulo Sérgio Kakinoff, compartilhou com as participantes do encontro que a companhia aérea tem uma base grande de homossexuais, por exemplo. Conta, ainda, com quatro transgêneros. “A diversidade faz parte do propósito da empresa”, reiterou.
Há seis anos no comando da Gol, Kakinoff recebe currículos todos os dias, mas percebe um fato curioso. “Menos de 3% das recomendações eram de mulheres e nenhuma indicação era de negros.”
Esse e outros acontecimentos foram um alerta para o executivo. “Comecei a pensar em como eu poderia ajudar no processo de transformação dessa realidade e dedico boa parte do meu tempo ao Todos pela Educação, iniciativa privada que influencia políticas públicas de educação”, revelou. “O Todos pela Educação levanta o tema do quanto conseguimos influenciar a primeira e a segunda infâncias, oferecendo oportunidades”, comentou.
Kakinoff também assumiu papel de protagonista no movimento Você muda o Brasil, grupo formado por empresários, executivos, acadêmicos e profissionais de diferentes setores da economia que tem a missão de debater e propor saídas para assuntos sensíveis à sociedade brasileira, como ética, cidadania e consciência política. Ele também participa ativamente do Movimento Brasil Digital, da IT Mídia, que busca uma digitalização humanizada para o País.
Na C&A, cadeia internacional de lojas de vestuário, o CEO, Paulo Correa, costuma dizer que sua chefe é uma mulher, já que grande parte da clientela da empresa é composta pela população feminina. Mas essa não é uma novidade para ele. “Sou engenheiro de formação e logo no início da carreira, no estágio, atuei em uma fábrica de mochilas, onde a maioria era de funcionárias. Desde então, convivo com mais diversidade do que outras indústrias. Na C&A, 70% do quadro é de mulheres”, revelou.
Se pensarmos em uma marca símbolo da diversidade, essa talvez seja a C&A. A empresa foi uma das primeiras a ter um negro como garoto propaganda. “Foi ousadia naquele momento e isso faz parte do nosso DNA. Há três anos, fizemos uma campanha no Dia dos Namorados que ao final eles trocavam de roupa e saíam com elas”, exemplificou.
Correa acredita que a moda é, por si só, um ícone de diversidade. Isso porque, ao se vestir, as pessoas podem se expressar de forma única. “Tentamos confrontar o modelo tradicional de moda nos últimos anos. Hoje, mostramos tendências e oferecemos várias coleções. Sabemos, contudo, que é uma jornada. Não é pontual.”
A C&A também tem um comitê de diversidade na empresa com três focos: gênero, raça e LGBTQ+, que promove constantes debates e conversas sobre os temas e ainda implementa ações que envolvem esses grupos. É, de fato, um movimento de dentro para fora. “Quem decide entrar na loja é o cliente. Essa decisão acontece por meio de produtos e experiência no ponto de venda. Nossa base de pessoas também precisa ser diversa para lidar com a diversidade dos clientes”, assinala.
Woman in acTIon
Laércio Albuquerque, presidente da Cisco Brasil, contou que o Woman in acTIon surgiu na toada de discutir diversidade. Contudo, a ação não é da Cisco. “Precisa ser algo itinerante, que todo o mercado deve discutir”, contou.
Fonte: ComputerWorld