Por Adriana Mattos | O brasileiro tem utilizado os recursos que guarda na poupança para tentar a sorte nas “bets”, as apostas esportivas que invadiram o mercado nos últimos anos. As classes de renda mais baixa (C, D e E) têm participado mais ativamente desses jogos on-line do que a população de maior renda (A e B), mostra o primeiro estudo sobre o tema do Instituto Locomotiva, obtido pelo Valor.
Os jogos esportivos on-line foram regulamentados por meio da Lei 14.790/23, sancionada em dezembro, e que permite que empresas privadas operem no segmento.
O aumento nos gastos no setor vem preocupando especialmente o varejo alimentar, cujas vendas são mais dependentes da renda familiar do que de crédito. Na metade do ano passado, varejistas e atacadistas identificaram, em pesquisas internas com consumidores, um crescimento no direcionamento da renda para as “bets”, e a Locomotiva foi contatada para tentar mapear melhor esse movimento, apurou o Valor.
Com base nos números da balança de pagamentos do Banco Central (BC), que trazem cálculos aproximados do montante que passa pelas contas de apostas e jogos on-line, a soma movimenta o equivalente a 8,5% do faturamento anual do setor de supermercados, hipermercados e atacarejos – este é o maior segmento de varejo do país.
As empresas do setor estimam cerca de R$ 60 bilhões (US$ 12 bilhões a US$ 12,5 bilhões) em jogos digitais no ano de 2023, segundo projeção anualizada com base em dados do BC até novembro. E o varejo alimentar físico e digital deve movimentar cerca de R$ 700 bilhões no ano.
De acordo com o levantamento da Locomotiva, 51% dos brasileiros ouvidos pela pesquisa têm utilizado recursos que iriam para a poupança, no fim do mês, nas apostas (é o maior índice da pesquisa) e 48% tem redirecionado o dinheiro gasto em bares, restaurantes e delivery. Outros 45% desviaram de diferentes tipos de jogos (como loterias) e 41% da compra de roupas e acessórios (eram questões de múltipla escolha aos entrevistados).
Quase metade (48%) diz que se parasse de apostar, usaria os recursos para reforçar a poupança.
Foram ouvidas 1.007 pessoas, acima de 18 anos, em 203 cidades, entre os dias 2 e 11 de dezembro, e a amostra foi ponderada segundo perfil da população brasileira no IBGE. A margem de erro é de 3,1 pontos.
Na avaliação de Renato Meirelles, presidente da Locomotiva, empresa de pesquisas, as “bets” conseguiram um “feito” ao unir num único produto vários aspectos que atraem a audiência.
A exposição na mídia têm surtido efeito na atração do usuário”
Fonte: Valor Econônico