A aceleração de projetos de digitalização foi uma das saídas encontradas pelas redes de franquias para manter a atividade até mesmo de negócios com operações exclusivamente no mundo físico, graças a iniciativas compostas por contatos a distância, vendas on-line, marketing digital e parcerias com fornecedores e franqueados.
As escolas, um dos segmentos atingidos em cheio pela obrigatoriedade de fechamento dos espaços físicos, apostaram em diferentes formados de educação a distância (EAD) para reduzir os impactos e manter o atendimento aos alunos. A Maple Bear, presente em mais de 20 países, com 230 franquias vendidas e 28 mil alunos de 2 a 17 anos no Brasil, aproveitou a metodologia apoiada no uso de tecnologia na sala de aula para adotar EAD inclusive para as crianças, com apoio de uma comunidade global onde alunos, professores e pais encontram as ferramentas necessárias.
As aulas passaram para a internet em uma semana, depois do treinamento de 3 mil professores, também on-line. Apesar de registrar cancelamento em torno de 4% e ver a inadimplência alcançar 12%, a rede fechou um contrato a mais do que no mesmo período do ano passado. “Investidores qualificados buscam alternativas”, diz o CEO da rede, Arno Krug Junior.
Escolas de idiomas foram pelo mesmo caminho. Na CNA, 99% das 614 escolas adotaram EAD via Zoom para atender os cerca de 400 mil alunos depois de quatro webinars alcançarem mais de 5,2 mil colaboradores. No ano passado a rede criou o CNA Go, plataforma 100% on-line com encontros agendados com turmas no mesmo nível e que remunera franqueados pela venda. O novo modelo, Live, deve se tornar um produto pós-pandemia, já que 16% dos alunos pretendem manter o formato, adianta o CEO Decio Pecin.
A Rockfeller também criou formato semi-presencial em 2019, o Duo. Mas com aulas presenciais apoiadas em tecnologias como TVs interativas e plataformas digitais, só precisou de 72 horas transferir o aparato para videoconferência. “A taxa de frequência aumentou de 85% para 91%”, constata o fundador Andre Belz.
Já a Wise Up, com 430 unidades, criou em dez dias uma plataforma on-line para oferecer 5 horas de aulas por semana aos alunos dos franqueados, além de um programa de compensação das aulas pós-crise.
Outra área impactada, o food service recorreu a aplicativos e delivery próprios, marketplaces e atendimento por telefone ou Whatsapp para minimizar as perdas. O grupo Trigo, detentor das marcas Gurumê, Koni, Lebonton e Spoleto, chegou a ter 250 restaurantes fechados – hoje cerca de 150 – entre os 448 do sistema, com vendas consolidadas em patamar 75% abaixo do período pré-crise.
Seu projeto de transformação digital incluía uma plataforma omnichanel para atender delivery, retirada (take away), pedido avançado e pré-pagamento com base em mais de 4 milhões de clientes cadastrados, marketing orientado a dados e personalização em escala com apoio de inteligência artificial. Com a crise, acelerou o lançamento de plataforma proprietária de e-commerce e entrega terceirizada, além de a integração de marketplaces de alimentação ao sistema de PDV, tudo via APIs (conectores de softwares).
Os franqueados ganharam autonomia em comunicação digital e cursos de um parceiro franqueador de escolas de marketing digital. A venda de kits de massas e molhos para fazer em casa deu origem à marca Mercatto Spoleto e à presença das lojas nas categorias de conveniência e varejo nos marketplaces. O próximo passo é colocar produtos de fabricação própria em supermercados, adianta o CEO Antonio Moreira Leite.
A HNT, rede de frango crocante com 40 lojas no Brasil e três nos EUA, adotou canal de Whatsapp Business via Goomer e aplicativo próprio, com 30 mil downloads e promoções exclusivas, além dos markeplaces. IFood, site próprio e Whatsapp centralizado foi a opção da Chocolateria Brasileira para a Páscoa, com produtos temáticos esgotados nas 30 franquias da rede. “Em 2019, as vendas on-line eram menos de 5%. Hoje são 86%”, compara o CEO Christian Neugebauer.
A Fábrica de Bolo Vó Alzira também acelerou as vendas por delivery com site próprio que direciona os clientes para atendimento por Whatsapp nas lojas cadastradas, enquanto a Casa de Bolos, com 398 franquias negociadas e 382 em funcionamento, substituiu teste programado no Rio de Janeiro pelo lançamento nacional de seu app. “As lojas já atendiam por Whatsapp, mas a demanda por interação é muito alta em período de redução de quadro”, afirma o diretor de marketing Rafael Ramos. A iniciativa intensificou o modelo pegue e leve e delivery, com logística a cargo do franqueado, para evitar os custos dos marketplaces do setor.
A BR Distribuidora, por sua vez, firmou parceria com Ifood e Rappi para potencializar vendas digitais das 1,1 mil lojas BR Mania e 1,6 mil centros de lubrificação automotiva Lubrax+. Também adotou tecnologia de leitura de QR Code disponível na plataforma Ame Digital, fintech e plataforma da Lojas Americanas e B2W Digital para pagamento sem contato. “A conveniência terá de encontrar novos caminhos, como replanejamento do sortimento nas lojas”, avalia a head de franquias da BR, Natália Cid.
Fonte: Valor Econômico