Muita gente confunde e-commerce com transformação digital, alerta Cesar Tsukuda, diretor-superintendente da Beauty Fair, a maior feira de produtos e serviços de beleza e higiene pessoal no Brasil. Para Cesar, o setor de beleza ainda está embrionário na questão do digital, mas que deve haver uma significativa evolução nesse cenário nos próximos três anos.
O foco do setor será encontrar uma forma de aliar o online ao off e como estabelecer uma colaboração clara entre a indústria e o varejo, avalia. “Não adianta ter um produto forte e o serviço não”, completa. O executivo conversou com exclusividade com o portal NOVAREJO durante a NRF2019, maior evento varejista do mundo que acontece entre 13 e 15 de janeiro em Nova York. Confira:
Mesmo durante a fase mais aguda da crise o setor de beleza continuou crescendo. Mas ainda assim sofreu um impacto. Qual foi o tamanho desse impacto?
O setor de beleza é relativamente resiliente à crises. É um dos últimos a entrar e um dos primeiros a sair dela. Mas não somos uma ilha. Entre 2016 e 2018 tivemos pela primeira vez o setor demitindo de forma estruturada. Foi em menor proporção que os outros, mas aconteceu e se sente isso, pois quando se projeta um crescimento de 12% a 15%, mas cresce 5%, isso é um grande impactando nos negócios, mesmo não registrando queda. Tivemos agora os quatro semestres mais duros dos últimos 20 anos.
E qual a expectativa para 2019?
A expectativa é retomar o crescimento, mas nada exagerado, como o crescimento de dois dígitos como foi até 2012, mas retomar o crescimento sustentado e contínuo.
O público masculino é uma aposta do setor?
Acredito muito no crescimento e sustentação do crescimento de produtos masculinos nas barbearias, que gerou uma nova necessidade no consumidor masculino. Com isso vem o novo homem, que se preocupa mais, consome mais. O advento das barbearias está diretamente ligado ao crescimento e sustentação do crescimento da categoria de produtos para homens.
Neste setor, como se dá a atuação da Beauty Fair?
O propósito da organização de uma feira de beleza é das relações humanas. É um setor em que elas são muito valorizadas. Não há uma relação mais humanizada que de cabeleireiro e consumidora, por exemplo.
Uma marca não precisa esperar uma feira pra lançar seus produtos. Não faz sentido do ponto de vista promocional, nem visibilidade de marca, especialmente para as grandes que já investem nisso. No nosso entendimento, o que faz sentido manter a feira, é ir além disso. Conseguir ter os principais players locais e internacionais trocando informações, e estabelecer agenda positivo para desenvolver o setor. São quase 100 eventos paralelos para trazer inovação e conteúdo para tornar os negócios melhores. A feira passa a ser um grande agente de fomento. A Beauty Fair é cada vez mais um centro de informação e formação.
Como o setor de beleza está inserido na economia brasileira?
É uma indústria forte no Brasil. Os serviços empregam três milhões de pessoas ligadas à atividade de saúde e beleza. É um setor que tem grande facilidade de empregar, como primeiro emprego ou como complemento de renda, já que exige pouco tempo de formação em comparação com outros setores. E a feira tem função de contribuir pra crescimento desse mercado.
O mercado brasileiro em termos de consumo em beleza é o segundo em cuidados com os cabelos, mas sétimo ou oitavo – dependendo da variação do dólar – em produtos para a pele. Mas à medida que o país crescer e envelhecer, os cuidados com a pele vão crescer, já que Brasil ainda é jovem e pouco investe nessa categoria, diferente dos países desenvolvidos. Mas a diversidade do Brasil traz oportunidades muito grandes por conta da variedade de peles e cabelos.
Em que nível você considera que está a transformação digital nesse setor? Pensando que um setor altamente relacionado à experiência física.
Não vemos o digital substituir as lojas físicas. O digital não é só o e-commerce e muita gente confunde. Encontrar uma forma de aliar o online ao off, esse é um desafio. Hoje cerca de 90% gasto é na transação e pouco se pensa em chegar ao consumidor na forma adequada. A indústria tem parte da solução e o varejo outra parte. Se essa conversa não estiver em sintonia, não tem transformação digital que sobreviva. O setor de beleza é extremamente relacional e como humanizar o atendimento e a compra no e-commerce é a grande questão, já que estar no mundo digital não é uma escolha, a escolha é como fazer isso.
Falando em indústria, como vê essa aproximação direta entre indústria e consumidor que já se dá nesse setor, a exemplos como Avon, Natura, O Boticário…?
Difícil dizer com certeza como se desenvolverá isso. Na categoria de cosméticos isso já está estabelecido com grandes marcas. Acho que tem indústria chegando como marca, mas a logística ainda é braço do varejo.
E como conquistar e fidelizar um consumidor cada vez mais inconstante e ávido por novidades?
Esse mercado de beleza deve continuar crescendo e vão crescer as marcas que mais conseguirem humanizar suas relações, não apenas em produtos como em serviços e comunicação com o consumidor.
As marcas avançaram muito do ponto de vista de entrega e as ofertas são grandes, então a experimentação está cada vez mais forte e vai pautar a decisões dos consumidores. Marcas sempre terão seu valor. O trabalho com o consumidor está cada vez mais árduo porque não basta ter um bom produto. Ter um bom produto é condição pra existir, é preciso se diferenciar.
Fonte: Novarejo