A internet é volátil. As redes sociais são mais ainda. Nesta semana, acompanhamos dois casos interessantes que podemos analisar sob a ótica da pós-verdade e da bolha criada pela baixa diversidade de opiniões em que nos metemos.
Vale dizer de cara que fiz um exercício grande de discernimento de julgamentos do que está certo e o que está errado nos dois casos analisados. Neste texto, não interessa a você, leitor, esse meu juízo de valor pontual. É justamente sobre essa leitura ambivalente que este texto se trata.
POST 1
O primeiro e mais gritante foi o post de Dia das Mães da Loja Marisa. Ao fazer alusão sobre o depoimento do ex-presidente Lula, no qual o depoente alegava que “algumas informações eram de responsabilidade de Dona Marisa”, uma legião de pessoas julgaram o post como profano, decrépito, desumano, impróprio. Outros amaram.
POST 2
Na mesma semana, na França, tivemos uma das eleições presidenciais mais polarizadas dos últimos tempos. Marine Le Pen, da extrema direita, contra Emmanuel Macron, de centro, disputaram o segundo turno com vitória do candidato moderado.
As eleições foram marcadas por acusações da esquerda contra Le Pen referentes a possíveis notícias falsas divulgadas nas redes sociais. A temática extremista, anti-imigratória e nacionalista da candidata não foi suficiente para alçá-la ao posto máximo francês.
Um pouco mais distante, na Jordânia, muitos comemoraram. Afinal, cidadãos jordanianos (assim como de vários outros países de maioria muçulmana) poderiam ter que deixar a França caso a extrema direita assumisse a presidência. É aqui, que o segundo caso, objeto deste artigo, entra.
Logo após o anúncio da vitória de Macron, a companhia aérea Royal Jordanian divulgou em seu Twitter oficial esta mensagem.
“France is not that far… right?” …um trocadilho com o termo em inglês far-right (extrema direita). Na tradução para português o trocadilho se perde: A França não é tão longe, certo?
Visto à distância e mesmo com baixa compreensão de como é a vida de um jordaniano, muitos encararam como uma “sacada de mestre”, um tapa de luva de pelica, uma resposta à altura! Outros acharam de péssimo gosto.
CONSIDERAÇÕES
Pretendo finalizar sobre essas duas breves análises com algumas considerações de como reagimos a condutas em redes sociais, com os mesmos princípios que o mecanismo da pós-verdade age.
Utilizamos nossos valores e nossas crenças pessoais para dizer se o posicionamento da marca é justo ou não, se é maravilhoso ou não, se é pecaminoso, esdrúxulo, criminoso ou impróprio. Raramente temos elementos suficientes para concluir coisa alguma.
Isso não nos isenta de emitir nossas opiniões e de compartilhar em nossas redes como se essas opiniões, muitas vezes carregadas e polarizadas, pudessem servir como uma espécie de endosso dos nossos próprios valores e nossas crenças. Como disse a psicóloga social israelense Ziva Kunda:
“Existem provas consideráveis de que é mais provável que as pessoas cheguem às conclusões às quais desejam chegar.” Uma forma saudável de driblar considerações tão polarizadas é abrir espaço para a diversidade na sua rede. Comece se conectando com pessoas que pensam diferente.
Tenha respeito pela opinião alheia, mesmo que ela não massageie suas crenças mais íntimas. Aprenda com a diferença. O fenômeno das fake news só nos mostrou como estamos na primeira infância do debate democrático nas redes sociais e como isso corrói de dentro pra fora, dia após dia, os posicionamentos rigidamente polarizados.
Fonte: LinkedIn