Grupo supermercadista encerra operação na Bahia e desiste da marca Minipreço
Em processo de encolhimento desde o ano passado – quando passou a ser investigada uma possível fraude fiscal na subsidiária brasileira – a rede Dia decidiu fechar a operação na Bahia e encerrar as atividades da sua cadeia Minipreço no país. As informações estão nas notas explicativas do balanço do primeiro semestre, publicado nesta semana.
Com vendas em queda e prejuízo operacional no Brasil, a matriz espanhola fez um aumento de capital de quase R$ 175 milhões (€ 40 milhões) na filial em junho. São recursos para pagamento de despesas operacionais e custos originários de uma reestruturação, diz uma fonte a par do assunto. No começo do ano, a matriz descartava aportes novos na filial.
Até 2017, mesmo durante a recessão no Brasil, a subsidiária vinha reportando altas taxas de crescimento e abertura acelerada de lojas. Em outubro do ano passado, o grupo iniciou a investigação de uma possível manipulação dos números do balanço no país. Diretores foram demitidos e o CEO foi trocado. A operação entrou em um profundo processo de reestruturação – reflexo também da adoção de uma nova estratégia global.
Em seis meses, 25% das lojas no país fecharam as portas, seguindo a determinação de interromper o funcionamento de unidades com “baixo desempenho”, diz o balanço publicado na segunda-feira. De janeiro a junho, o grupo fechou 297 pontos – o triplo de 2018 – e abriu 23 lojas.
Das unidades fechadas, 257 eram franquias e 40 próprias. O total de pontos no país caiu de 1.172 em dezembro para 898 em junho.
Na rede Minipreço, teriam sido fechadas 15 lojas (todas franquias), apurou o Valor – a maior parte no interior de São Paulo. Há 600 pontos Minipreço no mundo.
Pela primeira vez, após anos, o grupo passa a ter mais lojas próprias (512) no país do que franquias (386). Além da menor tolerância com operações deficitárias, a migração para unidades próprias também é resultado da nova estratégia global.
Até junho, as vendas líquidas no Brasil caíram pouco mais de 11% em reais, com perda de participação de mercado. A empresa não informa a receita em moeda brasileira, apenas a variação. Em euros, as vendas somaram € 586 milhões no primeiro semestre, queda de 15%. Houve prejuízo operacional (ajustado) de € 83 milhões, versus lucro de € 30 milhões um ano atrás. A filial é a única com prejuízo. A rede está em quatro países.
No primeiro trimestre, quando a empresa já lidava com os efeitos de sua crise interna, os números eram melhores: a venda subia 1% e a operação dava lucro – 4% mais que no mesmo intervalo de 2018.
Em parte, o desempenho ruim no acumulado até junho é reflexo das medidas tomadas para tentar colocar o negócio no rumo. Inicialmente, o fechamento de lojas reduz vendas e aumenta gastos (com demissões, por exemplo).
No balanço global, a linha de perdas com ativos cresceu por causa da subsidiária – pulou de quase € 6 milhões de junho de 2018 para € 52 milhões em 2019. “A perda deriva especialmente de fechamentos e reformas no Brasil”, informa a companhia nas notas explicativas.
Nesse cenário de reorganização, os investimentos na operação em si caíram 43%, em reais.
O balanço semestral menciona alguns ajustes gerais, com impacto no país, como a “racionalização de sortimento”, com uma “redução significativa de itens”. Essa iniciativa “levou ao reconhecimento de perdas significativas (principalmente no Brasil) relacionadas à liquidação de estoques”, informa a companhia. E acrescenta que houve “demissão coletiva na Espanha, juntamente com redução de funcionários em outros países (principalmente no Brasil) para melhorar a produtividade”.
As mudanças ocorrem após a troca no controle global do grupo. Desde maio, quase 70% da companhia está nas mãos do fundo LetterOne, do investidor russo Mikhail Fridman. O novo controlador teria dado sinal verde para a auditoria que investigou fraudes contáveis nos balanços de 2016 e 2017 no Brasil, e para a mudança no comando no país, segundo fontes.
A empresa ainda publicou no balanço o resultado de uma “inspeção” do Fisco nas contas relativas a 2014 no país. Afirma que a dívida atualizada com a autoridade fiscal está em € 102,3 milhões (R$ 445 milhões), referente a discordâncias no pagamento de PIS e Cofins. A companhia recorreu dessa decisão e só provisionou R$ 5,5 mil em 30 de junho de 2019.
Fonte: Valor Econômico