As demonstrações de retomada da economia observadas no primeiro semestre deixaram a indústria e o comércio com a esperança de que 2017 terá um Natal mais próspero. Ainda é cedo para fazer previsões de como serão as vendas no fim do ano, mas os primeiros indicadores sinalizam melhora.
O fluxo de consumidores que visitaram os bairros do comércio popular paulistano durante o mais recente feriado, de 12 de outubro, foi visto por lojistas como prenúncio.
As vendas do comércio para o Dia da Criança subiram 2,7% sobre igual período de 2016, segundo a Boa Vista SCPC (Serviço Central de Proteção ao Crédito) –após dois anos de quedas consecutivas.
É na semana do 12 de outubro que as estimativas para o fim do ano ficam mais firmes, porque é quando os lojistas de outras regiões viajam a São Paulo para começar a se abastecer dos produtos que revenderão no Natal.
“Foi o melhor feriado prolongado de vendas no ano”, diz Nelson Tranquez, presidente da Câmara dos Dirigentes Lojistas do Bom Retiro, bairro que concentra o atacado de moda em São Paulo.
O sentimento geral já é de otimismo, afirma Emílio Alfieri, economista da ACSP (Associação Comercial de São Paulo), usando como indício a alta de sete pontos no índice de confiança da entidade em setembro.
A sacoleira Márcia Turu, que revende na Baixada Santista as roupas que compra no atacado do Bom Retiro, passeava de sacolas cheias pelo bairro na sexta-feira (13).
“Perdi metade das vendas desde 2015, mas agora as clientes estão voltando a fazer pedidos. Estou com fé”, diz.
Nos atacadistas do Brás, a revendedora Esmeralda Rodrigues foi buscar produtos para abastecer o estoque de Natal de sua pequena loja em Mogi das Cruzes (SP). “Comprei tanto que quebrei o carrinho que eu trouxe para levar os produtos”, afirma.
LEMBRANCINHA
O que justifica a animação, segundo Luís Augusto Ildefonso, da Alshop (associação de lojistas de shoppings), são sinais como a queda da inflação e juros menores ao longo do ano. Mas o desemprego inspira cautela e a perspectiva de que este fim de ano ainda não vai superar o rótulo de “Natal das lembrancinhas” que marcou 2015 e 2016.
“O gasto médio diminuiu muito nos últimos anos. Ainda não esperamos uma mudança significativa nisso”, diz Gustavo Dedivitis, presidente da Fevabrás (que reúne atacadistas e varejistas do comércio popular do Brás).
Ildefonso diz que não espera resultados excepcionais, “mas, como os dois últimos anos foram terríveis, o que vier agora será um alento”.
No ano passado, a Alshop registrou queda de 9,1% no total de vendas em shoppings, descontada a inflação. O tombo veio sobre um 2015 também negativo, que recuou 8,7% em termos reais.
Varejistas ressalvam que o efeito positivo do saque das contas inativas do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) já ficou para trás.
A contratação de temporários para vagas como vendedor, estoquista e caixa antecipa o cenário otimista para o Natal. Segundo a Asserttem (Associação Brasileira do Trabalho Temporário), devem ser abertas 115 mil vagas temporárias em dezembro, número 5,5% superior ao registrado no fim de 2016.
A pesquisa mensal do comércio de agosto divulgada pelo IBGE mostrou crescimento de 3,6% nas vendas do varejo em relação ao mesmo mês do ano passado. Na comparação com julho, houve um recuo de 0,5%, que foi visto mais como acomodação do que como reversão de tendência do varejo.
Fábio Pina, economista da FecomercioSP, pondera que a recuperação total não será imediata. “Apesar de estar melhorando, a crise foi muito forte. Para muitos empresários, melhorar significa voltar ao maior patamar possível. Isso não vai acontecer já. Levará anos”, afirma.
Fonte: Folha de S. Paulo