A crise provocada pela pandemia do novo coronavírus chegou em um momento de reestruturação para a rede de supermercados DIA. Mas isso não a impediu de crescer 20% no segundo trimestre na comparação com o mesmo período de 2019.
“A crise ressaltou dois dos nossos pilares. O consumidor passou a procurar as nossas lojas em razão de serem mais próximas de suas residências. E houve um aumento muito grande da procura por produtos de marcas próprias”, diz Marcelo Maia, presidente-executivo do DIA no Brasil, ao programa Panorama, do CNN Brasil Business.
A rede de origem espanhola foi uma das pioneiras no país do modelo conhecido como lojas de vizinhança ou de proximidade, que ocupam espaços menores do que o de supermercados tradicionais e possuem menor variedade de produtos. Em compensação, são mais acessíveis ao cliente porque estão distribuídas pelos bairros.
O executivo conta que as vendas tiveram um forte crescimento por duas semanas, no período próximo ao início da quarentena, entre março e abril, com a corrida de pessoas aos supermercados para abastecimento. E que, depois desse momento, as vendas se estabilizaram em patamares superiores ao que antecedeu a pandemia.
Os resultados positivos nas receitas não alteraram os planos de reestruturação, que buscam marcar uma nova fase de investimentos para a rede, presente também no seu país natal, em Portugal e na Argentina. Depois de alguns anos com dificuldades financeiras e fechamento de lojas, o DIA teve o controle adquirido pela holding europeia de investimentos LetterOne, do russo Mikhail Fridman, em maio de 2019.
“Vamos nos dedicar neste segundo semestre a estruturar a empresa em tecnologia, na cadeia de fornecedores e de logística. Tudo isso visando não só a abertura de lojas a partir de 2021 mas também o lançamento de canais de venda”, afirma Maia.
Última milha
A grande novidade será um site próprio de vendas online, um canal já explorado por concorrentes de tíquete médio mais alto, como GPA e Carrefour.
Quando a pandemia chegou, o DIA não contava com nenhum canal de vendas além das lojas físicas. A saída foi acertar uma parceria com o iFood para a entrega de seus produtos, atendendo à demanda dos consumidores. Os primeiros resultados são promissores. As vendas subiram em média 25% nas lojas que passaram a oferecer a entrega.
O serviço, lançado em abril, deu tão certo que já começou a ser ampliado. Atualmente disponível em 30 lojas em 12 cidades do estado de São Paulo, deve ser estendido para cem lojas até o fim do ano, chegando a Minas Gerais e ao Rio Grande do Sul.
Serão canais de venda complementares. “Vamos transformar cada loja em um minicentro de distribuição, que seja responsável pela última milha (expressão usada para a entrega até o consumidor)”, diz o executivo, que explica que a estratégia deve se mostrar mais eficaz no estado de São Paulo, onde a rede possui cerca de 700 lojas.
“Entendemos que essa capilaridade tão grande será um diferencial competitivo muito importante para oferecer ao consumidor um custo de logística e um custo de entrega que seja bastante satisfatório”, afirma Maia, referindo-se a preços mais baixos.
Loja dentro da loja
No pilar das marcas próprias, que possuem preços mais reduzidos na comparação com equivalentes de empresas conhecidas, o DIA planeja dobrar a variedade de 500 para 1.000 produtos até o fim do ano, atendendo à demanda crescente no país.
Em outra frente de negócios, o DIA aposta na concessão de espaços dentro de seus supermercados para parceiros que possam alavancar as vendas. “Vamos explorar concessões de açougues, perecíveis, frutas e legumes e de prestação de serviços que agreguem valor aos concessionários, para nós e o consumidor”, diz Maia.
O DIA vai acelerar a abertura de supermercados utilizando o modelo de franquias, que já responde por parte de suas 880 lojas nos três estados citados.
“Na medida em que conseguimos treinar e passar a nossa expertise para os franqueados, a gente consegue ter empresários e operadores que conhecem as realidades de cada mercado e o perfil do consumidor nos locais em que estão inseridos”, afirma o executivo.
Maia demonstra um raro tom de otimismo nos tempos atuais ao falar das perspectivas. “O DIA tem uma rede de lojas de proximidade que acreditamos que seja uma grande tendência de mercado. O hábito do consumidor de procurar lojas mais próximas da sua residência para fazer as compras vai continuar mesmo depois da pandemia. E isso será uma vantagem competitiva no mercado”, afirma.
Fonte: CNN Brasil