A pandemia acelerou mudanças em modelos de negócios e no relacionamento com as equipes. Como os líderes devem se preparar para o mundo que vem por aí?
Por Eduardo Terra
Vivendo os efeitos da pandemia em nossas vidas e nossos negócios, muitas vezes caímos na tentação de acreditar que esta é apenas uma fase que passará e, em seguida, o mundo voltará a um estado mais calmo. Mas o fato é que, embora estejamos todos na contagem regressiva para uma vacina que nos permita voltar a circular sem medo e retomar um ritmo de vida parecido com o de antes da crise, aquele passado não deve voltar mais.
O mundo já passava, mesmo antes do vírus, por um período de grande instabilidade e de imensas transformações. A aceleração das transformações e a velocidade das mudanças é cada vez maior e, no pós-Covid, continuará avançando. O mundo VUCA – volátil, incerto, complexo e ambíguo – veio para ficar.
Os líderes das empresas precisam, portanto, lidar com o desafio de gerenciar pessoas e negócios em uma economia cada vez mais digitalizada, instável e ágil. Nesse contexto, liderar, empreender e desenvolver negócios, empresas e pessoas será ainda mais complexo no pós-crise. Não teremos mais o vírus, mas teremos outros fatores para impactar os negócios e provocar transformações.
Para vencer no mundo digitalmente transformado do pós-coronavírus, os líderes de negócios precisam ser capazes de superar alguns desafios. São eles na minha visão:
1) Compreender e aceitar a instabilidade cada vez maior da economia, dos mercados, dos negócios e do mundo
Quanto mais cedo aceitarmos e entendermos que vivemos em um mundo de mudanças constantes e grande instabilidade, melhor. O mundo VUCA é definitivo. De 2021 em diante, as certezas não aumentarão, muito pelo contrário. O que não sabemos é qual a causa da ruptura: política, economia, tecnologia, meio ambiente. O que sabemos é que teremos instabilidades cada vez maiores.
Por isso, saber navegar em mares tensos e em um ambiente de mudança constante é fundamental para quem quer obter sucesso em seus negócios no futuro. A tradicional competência da resiliência, resistência com flexibilidade, agora está sendo substituída pelo conceito da anti-fragilidade, um termo criado por Nassim Taleb, um dos grandes autores sobre este tema que também escreveu o livro O Cisne Negro. A Anti-Fragilidade pressupõe que além de resistirmos e sermos flexíveis a mudanças e instabilidades, podemos crescer e evoluir com elas. Esta nova competência é fundamental para líderes em um contexto atual de extrema volatidade e transformações.
2) Colocar a Tecnologia como protagonista em sua carreira
Em um passado não tão distante, tecnologia era um tema restrito a quem trabalha com o tema. De lá para cá, porém, o assunto se tornou protagonista nas agendas estratégicas das empresas, forçando executivos, gestores e empreendedores a entender e dominar mais o assunto. Não se trata de aprender programação, ou saber escrever linhas de código: é preciso entender o papel da tecnologia para o desenvolvimento dos negócios, como definir qual a melhor arquitetura para sua empresa e como explorar todo o potencial do uso das ferramentas disponíveis.
Os executivos e empreendedores precisam compreender e dominar os caminhos que a tecnologia tem seguido, para entender como ela influencia decisões estratégicas de negócios. Cada vez mais, falar o idioma da tecnologia é essencial para todos os segmentos da economia e toda as carreiras, seja você da área de marketing, vendas, finanças, recursos humanos ou logística.
3) Abraçar novos modelos e formas de trabalho
Esse é um grande legado desta pandemia. Durante os meses de isolamento social, aprendemos novos modelos de trabalho, novas formas de fazer negócio, novos caminhos para realizar eventos e reuniões. Muito disso vai ficar e, certamente, haverá modelos híbridos, em que trabalharemos menos em escritórios e faremos menos reuniões e eventos presenciais.
Para os líderes, fica o desafio de atrair, engajar e gerar resultados de times geograficamente espalhados. Assim como o varejo tem desenvolvido modelos de negócios que aliam lojas físicas ao mundo digital, os ambientes de trabalho dos colaboradores também serão um misto de engajamento pessoal e contatos remotos. Desenvolver a cultura, o propósito e o senso de pertencimento nesse ambiente se tornam novos desafios das lideranças. Antes da pandemia estávamos vivendo em um modelo de trabalho que gerava de um lado muitos custos e perda de produtividade com excesso de deslocamentos, viagens e tempo perdido e por outro falta de comunicação e diálogo com times mais distantes que dependiam de oportunidades raras presenciais de encontrar e interagir com seus líderes. Com modelos híbridos teremos condições de reduzir muito custos e melhorar a produtividade dos times e interagir mais com liderados que estão em bases mais distantes.
4) Entender que o aprendizado é um caminho sem fim
A instabilidade do mundo e a aceleração das transformações provocam trouxeram mais humildade entre os líderes de negócios, que são diariamente desafiados por situações e eventos sobre os quais não sabem muita coisa. Todos nós precisamos ter uma agenda de aprendizado contínuo.
Os líderes do pós-coronavírus são líderes que aprendem constantemente. Eles sabem que não sabem de tudo e, por isso, desenvolvem um ambiente de trabalho que estimula a troca de conhecimento entre as pessoas. Isso coloca ainda mais em xeque as hierarquias tradicionais e acelera a construção de novos modelos de empresas e de negócios. Eu me lembro de muitos anos atrás de ouvir Peter Drucker , o maior guru de gestão de liderança que já tivemos, quando ele já estava com mais de 90 anos, que ele iria se matricular em um curso de estatística pois entendia que a estatística tinha mudado e precisava voltar a aprender. Se Peter Drucker anos atrás tinha a humildade de reconhecer que não sabia tudo, que o aprendizado é um caminho sem fim, que somos nós em uma economia digital e instável para não continuar nos renovando ?
Quatro grandes desafios de carreira ! Para as lideranças das empresas, esses são tempos desafiadores. Mas também são tempos muito estimulantes para quem se dispuser a mergulhar nesse mundo cada vez mais digital e instável.
Fonte: LinkedIn