A transformação digital dos negócios é irreversível. Considerando os países mais desenvolvidos, o Brasil ainda tem muito o que caminhar nesta esfera. Contudo, ao contrário o que muitos dizem, o País não está tão atrás assim no tema, principalmente o varejo. “Não dá para dizer que estamos atrasados, porque o País está na mesma média global de integração de canais – o primeiro passo para a transformação digital”, afirma Marcos Luppe, professor e coordenador do MBA on-line Varejo e Mercado de Consumo, da USP/Esalq.
Para o professor, ainda existem desafios neste tema. “Ainda há uma dificuldade na integração, mas a expectativa é de que dentro de alguns anos o varejo já tenha passado por essa fase”, diz. “Já vemos uma mudança de paradigma e o varejo brasileiro já percebe que é preciso fazer a mudança vide cases como o da Amazon que, nos Estados Unidos, tem forçado os varejistas mais tradicionais a mudaram”, afirma.
De acordo com o professor a atenção maior é com experiência sem atrito e sem barreiras para o consumidor. “É uma questão que está sendo analisada em dez entre dez empresas. E esse é grande impacto da transformação digital”, diz. Há quem já esteja fazendo essa transformação, como é o caso do Magazine Luiza. “Esse caso é um dos mais importantes: as vendas on-line da varejista já representam 28% do total das vendas. Também vemos exemplos do varejo alimentar”, afirma o professor.
É o caso do Grupo Pão de Açúcar que tem criado várias iniciativas que integram o on-line e o off-line. A última iniciativa da companhia e o aplicativo Meu Desconto, que oferece descontos aos consumidores que participam dos programas de fidelidade das bandeiras de varejo alimentar da companhia em compras realizadas nas lojas físicas. “Não tem como fugir mais dessa realidade, porque o consumidor vê a marca e quer ter a mesma experiência em diversos canais”, diz Luppe.
Desafios
O que impede parte do varejo a avançar nessa questão? O principal ponto, de acordo com o professor, é a cultura. A mudança de mindset precisa ser feita a partir da liderança. “Precisa ser top-down”, diz. “O maior desafio é mudar as pessoas, é conseguir alinhar a cultura digital. Muitas empresas pensam que basta adquirir tecnologias, mas se você não tiver pessoas preparadas que encaram a transformação como prioridade essas tecnologias não importarão. Para que a transformação digital acontece ela precisa estar no cerne da cultura organizacional”.
A estrutura organizacional é outro ponto desafiador para as companhias durante o processo de transformação digital. “Muita gente pensa no modelo analógico e a própria estrutura organizacional não está preparada para a integração de canais. A partir daí você começa a ter uma série de conflitos”, afirma.
Para o professor, as estruturas da companhia precisam ser mais flexíveis e o mindset deve ser de colaboração entre as áreas, com menos hierarquia, menos burocracia e resiliência em relação a erros – um modelo de gestão lean, como é o das startups. Não à toa muitas companhias buscam as startups para acelerar o processo de transformação digital. Esse passo, de acordo com o professor, é essencial para as companhias que não conseguem criar estruturas ágeis dentro da própria organização.
Fonte: Novarejo