E há mais novidades: muito em breve, os shoppings deixarão de ser o único tipo de empreendimento imobiliário conectado à Delivery Center. “Vamos lançar, em cerca de 20 torres comerciais, uma ligação entre elas e shoppings”, anuncia ele. “Com a chegada da colaboração com torres comerciais e residenciais, vamos atingir mais uma etapa no mercado. Serão ‘n’ lojistas de um shopping fazendo entregas compartilhadas para 3 mil ou 5 mil pessoas que trabalham numa torre. Portanto, imagine o que significa para um administrador de shopping a oportunidade de estar ligado a várias torres e fazer serviços de entrega, para seus trabalhadores ou residentes, de comida ou qualquer coisa vendida nos grandes portais online.”
Confira abaixo, e também em vídeo, a entrevista exclusiva de Blazoudakis ao GRI Hub, concedida durante sua participação no GRI Shopping & Retail Brasil 2019:
A Delivery Center tem um plano de crescimento bastante ousado para este ano, de praticamente triplicar suas unidades. Quais são os principais desafios nesse sentido?
O plano é ter 200 centrais até 2021 e queremos fechar 2019 com cerca de 70. Estamos [agora] com 20 e nos sentimos preparados para lançar uma por semana, o que permitiria tranquilamente chegar a 70. O maior desafio é a captação de recursos para tanto. Uma central tem investimento baixo de Capex. Com R$ 50 mil a R$ 200 mil, fazemos isso; porém, é preciso um tempo de amadurecimento, de modo que o investimento acaba alcançando cerca de R$ 2 milhões para cada uma. Estivemos em processo de captação [de recursos] no ano passado. Deu muito certo e novos sócios entraram – tanto BRMalls quanto Multiplan. Temos um time de 300 pessoas totalmente preparadas para lançar essas centrais e um time comercial; então, realmente, é questão de alocar investimentos e estabelecer a ordem correta de lançamentos.
São Paulo passa a ser prioridade nessa multiplicação das unidades? Relativamente, ainda há poucas na cidade…
Sim, são quatro. O que acontece é que esse plano, como o de qualquer sistema de logística urbana, tem uma sequência lógica de lançamentos. Caso se opte por ir para a maior cidade logo de cara, fica muito difícil. Pode-se perder a tração. Então, o que fizemos? Dividimos as 200 centrais ao longo de quatro anos – dois dos quais já se passaram – e estabelecemos uma ordem de cidades. Escolhemos Porto Alegre para iniciar, em 2017 e começo de 2018. Depois, 2018 foi o ano do Rio de Janeiro, quando abrimos 11 centrais lá. Nossa maior capilaridade hoje está no Rio, com praticamente 80% de cobertura das áreas de delivery – e provavelmente não vamos passar disso. E 2019 é o ano de São Paulo. Temos quatro unidades e vamos fazer mais de 40 – todas [já] comercializadas. Neste momento, há cerca de 20 projetos em andamento para estabelecer qual é a ordem correta. Começamos com o [Shopping] Metrô Santa Cruz, da BRMalls, depois o [Shopping] Villa Lobos, e agora fomos para a região da [avenida] Paulista, abrindo [centrais em] dois shoppings de uma vez só, o Pátio Paulista e o Cidade de São Paulo. É como se fosse um tabuleiro, um jogo de xadrez. Vamos posicionando as peças e elas têm que ser colocadas no momento certo. Se errarmos uma, desperdiçamos o investimento. Portanto, o maior desafio, falando dessa parte de lançamentos, é qual peça jogar em qual momento para poder cobrir a cidade o mais rapidamente possível.
Quais serão os próximos shoppings a receber as centrais da Delivery Center?
Os da Multiplan – último acionista a entrar [na Delivery Center] – estão em primeiro [lugar] na fila. Os próximos provavelmente serão o Morumbi[Shopping] e o [Shopping] Vila Olímpia. Contudo, a ordem de shoppings será mesclada com as demais redes, pois não lançamos somente shoppings de acionistas. São Paulo é uma cidade bem grande, mas estamos tranquilos em relação à cobertura. Temos sido muito bem aceitos. O [nosso] sistema hoje funciona tanto com comida quanto com não-comida – na parte de comida, além de iFood, com Rappi e UberEats; e na de não-comida, trouxemos o Mercado Livre e a Linx num projeto que vamos começar a alavancar como se fosse o correspondente ao iFood [para outros segmentos de produtos].
Que outras cidades estão no pipeline da companhia no horizonte de 2019 e 2020?
Curitiba, Belo Horizonte e Brasília são as próximas para ainda este ano. Já estamos nos preparando e fazendo a comercialização. Para 2020, resolvemos acelerar um pouco nosso plano, incluindo um modelo mais leve, em parceria com alguns shoppings menores, parecido com um licenciamento. Com isso, mudamos nossa meta de 20 para 100 cidades, e chegaremos [também] a Centro-Oeste e Nordeste.
Vamos ver outras redes de shoppings se somando à BR Malls e à Multiplan como sócias da Delivery Center no futuro próximo?
Sim. Já temos uma nova [empresa], mas ainda não podemos divulgar. Em algumas semanas, o faremos. Nosso quadro de acionistas continua aberto e dando boas-vindas a quem quiser fazer parte desse movimento. Com os números do ano passado, conseguimos mostrar ao setor que os shoppings não concorrem entre si no mundo online. A competição é muito mais com o lojista que está fora do shopping, que está no e-commerce. Se houver dois shoppings em uma região, eles não sofrem concorrência entre si, mas estão juntos competindo com o mercado de rua.
O modelo da Delivery Center vai contemplar sempre shoppings ou algum outro tipo de empreendimento imobiliário – por exemplo, garagens de torres corporativas subutilizadas ou unidades de self-storage – pode fazer sentido?
Esse é um anúncio que vamos fazer [em breve também]. Vamos lançar, em cerca de 20 torres comerciais, uma ligação entre elas e shoppings. Antes de criarmos o modelo de delivery center, o mercado era feito de um para um. O restaurante de rua, único, mandava entregar a comida na casa de um usuário único. Quando criamos o modelo, passamos a trabalhar de ‘n’ para um, ou seja, ‘n’ restaurantes ou lojistas dentro de um shopping entregando em uma residência. Então, a logística melhorou muito e o preço caiu. Conseguimos fazer os shoppings crescerem 17% no topo da cadeia em termos de vendas por conta dessa otimização. Com a chegada da colaboração com torres comerciais e residenciais, vamos atingir mais uma etapa no mercado, que é a ‘n’ para ‘n’. Serão ‘n’ lojistas de um shopping fazendo entregas compartilhadas para 3 mil ou 5 mil pessoas que trabalham numa torre. Portanto, imagine o que significa para um administrador de shopping a oportunidade de estar ligado a várias torres e fazer serviços de entrega, para seus trabalhadores ou residentes, de comida ou qualquer coisa vendida nos grandes portais online, como OLX, Mercado Livre e Submarino.
Estamos em meio a um cenário de grande transformação, com avanços tecnológicos e mudanças de hábito de consumo. Com base na sua experiência, que principais alterações devem ter alto impacto na indústria de shoppings a curto prazo e a mais longo termo?
O mercado de e-commerce no Brasil existe há 20 anos e não mudou nesse período. Ele funciona com centrais de distribuição nas bordas da cidade. O [único] e-commerce que rasgou essa barreira foi o de comida e isso está gerando uma transformação gigante porque, assim como tem comida na bag de um motoboy, pode haver um tênis de um shopping, um vestido de uma loja de departamento e tudo o mais. No comércio eletrônico, compra-se alguma coisa online e se recebe em uma semana. Os grandes players estão tentando fazer entrega em d+2, como a Amazon anunciou publicamente na chegada ao Brasil. Mas o shopping consegue usar a rede de comida para fazer entrega também de não-comida em hora +1. Imagine o poder e a transformação ocorrendo nesses shoppings em que estamos fazendo esse trabalho, não concorrendo com o e-commerce, mas usando o e-commerce tradicional, que vende, ao passo que o shopping entrega a partir de sua loja. Essa é a transformação que está ocorrendo agora, em 2019. Como mencionei, com [entrega de] comida, já mexemos o ponteiro dos shoppings em 17%, e, mesmo não começando ainda com as mercadorias, as vendas deles subiram 1,5%. Quando entrarem os demais itens, pensamos que será possível fazer crescer a venda dos shoppings em 5% a 7% com a derivada online. Para se ter uma dimensão [do que isso quer dizer,] o mercado brasileiro de e-commerce demorou 20 anos para chegar em 5%. Prevemos, em um ano, atingir perto disso, tudo por conta da localização dos shoppings.
Isso traz uma discussão que deixa de ser simplesmente relativa a last mile e passa a ser sobre first mile?
Sim. Gostamos do termo first mile porque coloca o usuário no centro da experiência. O shopping está em um CEP e vai entregar a alguém que está na primeira milha, então a eficiência é muito grande. O usuário sabe que um hambúrguer chega em 40 ou 50 minutos, mas nunca imaginou que pudesse ocorrer o mesmo com um tênis, e a preço de hambúrguer, por R$ 10 [de taxa de entrega]. É um modelo meio mágico, algo como aconteceu quando paramos de pedir táxi levantando a mão e passamos a fazer isso através de aplicativo. Na China, também vemos essa revolução. Há dois anos, fui pra lá e empresas semelhantes a iFood faziam 2 milhões de entregas por dia. Agora, fazem 20 milhões. Estive há duas semanas na Índia e está acontecendo a mesma transformação por conta dos motoboys dentro da cidade, e em em colaboração com os shoppings. O [marketplace] Alibaba, da China, é totalmente ligado aos shoppings. Entra-se num shopping e não se sabe o que é online e o que é offline. Então, esse é o futuro que os shoppings aqui vão buscar: essa integração online-offline que nunca ocorreu no Brasil e está acontecendo agora. E ela é rápida, coisa de um ou dois anos e estará constituída – como vimos se dar com o Uber e o iFood, que chegaram e em dois anos se estabeleceram.
E há novos elementos para se somarem a esse caldeirão. Você comentou, em sua participação no GRI Shopping & Retail Brasil 2019, a respeito da entrada da Amazon no ramo da alimentação e da chegada de um app do Mercado Livre. O que mais teremos pela frente?
Por exemplo, acabei de ter a informação de que o controlador da 99 [antiga 99Taxis] está entrando em [entrega de] comida. Então, daqui a pouco, poderemos ter a 99Food. Não sei dizer quando, mas, por conhecer o mercado, estimo que em alguns meses, no máximo talvez um ano, teremos outros players mudando de operar táxi para operar comida. Tudo migra para multisserviços, que é o shopping, um lugar onde há multiofertas – de comida, de lojistas, de serviços –, e tudo isso com comodidade e experiências. Nada mais é do que replicar o modelo offline no online. O shopping do futuro online é igualzinho ao shopping offline.
De que maneira avalia a movimentação dos players de shopping diante desse cenário? Tem sido adequada?
Sim Fico muito surpreso com a rapidez com que se ajustaram. O primeiro movimento não foi aberto, e sim proprietário, o que é natural. Quando surge algo novo, primeiro se tenta fazer em casa para entender do que se trata. Mas, diante da chegada de uma iniciativa mais aberta, uma solução compartilhada, na qual o shopping ao lado não é mais o concorrente – e o concorrente passa a ser quem está por vir –, imaginei que demoraria três ou quatro anos, só que isso ocorreu ao longo de 2018. Começamos o ano [na Delivery Center] com uma rede de shopping, a BR Malls, e acabamos com nove – com praticamente todas as grandes redes trabalhando conosco. É interessante observar que não deixaram de ter a solução proprietária. O mundo ideal é aquele em que se tem a solução proprietária – seu portal, seu aplicativo de shopping, seu aplicativo de estacionamento –, mas não nega o mercado e se buscar estar plugado nele. A maioria dos shoppings hoje está nessa situação de ter o seu mundo proprietário respeitado, com seu branding, porém se mantendo interligado ao mercado como um todo. Se olharmos para apenas três empresas – iFood, Rappi e Mercado Livre –, há R$ 10 bilhões sendo investidos no mercado brasileiro. Como desprezar um negócio desses? É preciso usar e para o bem de todos.
Como foi participar do GRI Shopping & Retail Brasil 2019?
Fonte: GriHub