Abertura da primeira loja na região será em Salvador na próxima semana; mais duas serão inauguradas até o fim do ano, em Recife e Fortaleza
Por Adriana Mattos
Quase uma década após a sua chegada no Centro-Oeste, a rede de materiais esportivos Decathlon deve entrar numa nova região, o Nordeste, com a abertura da primeira loja em Salvador na próxima semana. Mais duas unidades serão inauguradas até o fim do ano, em Recife e Fortaleza. É um movimento que reforça investimentos em negócios mais consolidados no país por parte dos donos, o grupo francês Adeo, da família Mulliez, após tentativas frustradas de aberturas de novas cadeias nos últimos anos.
Ainda é uma expansão num momento em que a Decathlon tenta retomar seu crescimento – a rede não registrou aumento de vendas em 2021.
As primeiras lojas da Decathlon no Nordeste serão abertas em shoppings – logo, são contratos de locação, sem necessidade de investimento para construção do ponto, e com metragem menor que suas lojas tradicionais. As unidades padrão da rede têm até 4 mil m2, enquanto a de Salvador soma 1,6 mil m2. Os novos pontos funcionarão também como locais de estocagem (“mini-hubs”) para entrega de compras pelo site e “app”.
Como há limitação de área para venda e armazenamento nessas lojas, haverá um trabalho focado em melhor uso de espaços e na seleção dos produtos. Serão pontos com 10 mil modelos de produtos, sendo que na rede no exterior, o mix total chega a 18 mil. Parte da venda virá do braço on-line, com entrega a partir do centro de distribuição de São Paulo – o que gera maiores custos de frete e prazo de entrega.
“Para nós, o Nordeste é um passo muito grande. Em termos de logística é um desafio, e em termos de ‘mix’ de produtos também exigirá uma adaptação para termos na loja o que realmente vende. Mas é uma região com outro apelo em termos de esportes, o que abre uma venda maior de novas categorias para nós”, diz Cedric Burel, presidente da rede.
Segundo ele, sobre a questão de custos e prazos, a empresa estuda criar “dark stores” (áreas de estocagem menores, localizadas em regiões mais centrais) para armazenar itens para entrega mais rápida. “Estamos imaginando que, a depender da demanda, vamos precisar desses ‘hubs’ de apoio para sermos mais competitivos”, acrescentou.
Além disso, ao entrar em três cidades do Nordeste em cerca de seis meses, a empresa quer gerar maior escala, que pode reduzir custos de transporte e distribuição.
Nos últimos anos, o grupo Adeo, controlador da rede, abriu no país lojas das marcas Zôdio, de produtos para casa, e Kiabi, de moda, mas ambas fecharam entre fim de 2019 e início de 2020. Leroy Merlin e Decathlon são os negócios do grupo com maior presença no mercado brasileiro. Mesmo assim, a Decathlon mantinha crescimento orgânico só nas regiões já ocupadas há anos (Sudeste, Sul e Centro-Oeste). A empresa tem 45 unidades no país – mais da metade no Sudeste.
Para consultores, a empresa tem como diferencial a força de marcas próprias com preços mais baixos – 80% da venda no Brasil vem dessas cinco linhas, como Domyos (vestuário), e Btwin (bicicletas). E de seu portfólio em esportes com concorrência local menor, como equitação e canoagem. “Eles são bem posicionados nesses segmentos, e ainda ganham volume com suas marcas próprias, só que a competição geral, em faixas de preços mais baixas, cresceu com os ‘marketplaces’ e o avanço da Netshoes depois que ela foi vendida ao Magalu”, afirma um consultor em moda.
Ranking anual do varejo da SBVC, entidade do setor, estima vendas da Decathlon em R$ 1,3 bilhão em 2020 – equivalente a pouco menos da metade do faturamento da líder Centauro naquele ano. A empresa não abre valores.
Apesar do início de ano mais fraco, Burel diz que a cadeia vem registrando agora crescimento mais acelerado. “Janeiro não foi bom, fevereiro veio um pouco melhor e depois o ritmo foi se recuperando. Abril foi muito bom. O fim da exigência do uso das máscaras fez acelerar muito esportes não só ao ar livre, mas nas academias, que estão lotadas. Estamos considerando alta no faturamento no ano na faixa de 20%”, afirmou o executivo.
Essa alta é projetada em cima de uma estabilidade, já que em 2021, a empresa diz que não cresceu em relação a 2020, em parte por efeito de gargalos na cadeia.
Para efeito de comparação, a Centauro, com cerca de 230 lojas (cinco vezes mais que a Decathlon) cresceu 28% em 2021 – sem incluir o braço de operação da Nike. Ao considerar esse negócio, a venda subiu 110%.
Parte do esforço da Decathlon para retomar as vendas virá de uma política de ampliar volume vendido por meio da absorção de parte das pressões em custos, com a alta da inflação – apesar do efeito negativo sobre margem. A direção ainda aposta num impacto da queda recente no dólar, já repassada aos preços de importados neste ano. Cerca de 30% da venda da rede são de itens locais.
Fonte: Valor Econômico