Por Sergio Ripardo | Nos últimos meses, o setor de shopping center no Brasil passa por um movimento de realocação de ativos dentro do portfólio das empresas que administram esses centros comerciais. Fatias minoritárias trocam de mãos tendo como principal destino fundos de investimento imobiliários. Nesse contexto, grupos estrangeiros também aproveitam o momento para renovar a aposta no segmento.
É o caso da gigante canadense do ramo de shopping centers e mercado imobiliário Ivanhoé Cambridge, que revelou à Bloomberg Línea a conclusão de aquisições de participações em dois shoppings na região metropolitana do Rio de Janeiro.
O grupo adquiriu o controle do Shopping Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, e a fatia remanescente no Botafogo Praia Shopping, na capital do estado, que já era controlado pela companhia.
“Estamos apostando em ativos de alto desempenho do nosso portfólio, pois acreditamos no crescimento do consumo no Brasil”, disse Adriano Mantesso, diretor geral da companhia para América Latina, em entrevista à Bloomberg Línea.
No mundo, o Ivanhoé Cambridge, por meio de subsidiárias e parcerias, detém participações em 1.500 edifícios, principalmente nos setores industrial e logístico, de escritórios, residencial e de varejo.
A expectativa de retomada do consumo no Brasil tem como fundamento o atual ciclo de cortes nas taxas de juros, o que motiva o investimento nos segmentos de shopping center e galpões logísticos.
O executivo não revelou o nome do grupo vendedor dessas duas participações devido a acordos de confidencialidade e disse apenas se tratar de um investidor institucional.
O Ivanhoé Cambridge adquiriu 25% de participação no Botafogo Praia Shopping e 44% no Shopping Nova Iguaçu. A empresa representa um “braço” de investimentos imobiliários da CDPQ (Caisse de Dépôt et Placement du Québec), o segundo maior fundo de pensão do Canadá.
Em 2006, a Ivanhoé Cambridge se associou com a Ancar, uma empresa de shopping centers da família Carvalho, o que deu origem à Ancar Ivanhoé. Desde então, o grupo passou de três shoppings para 26 shoppings sob gestão, 18 dos quais são de propriedade da Ivanhoé Cambridge.
Além das aquisições adicionais dos dois shoppings no estado do Rio, no mês passado, a Ivanhoé também fechou a venda parcial de três ativos para um fundo imobiliário da Vinci, na segunda venda de parte do portfólio para o mesmo comprador (Vinci FII), no valor de quase R$ 300 milhões.
Essas transações estão alinhadas com o plano estratégico do grupo de aumentar a liquidez por meio da realocação de capital em ativos considerados de alto desempenho para melhorar a qualidade geral e o perfil de risco-retorno de portfólio, segundo o executivo.
Joint venture em logística
A estratégia da Ivanhoé Cambridge no Brasil inclui ainda uma joint venture com a Prologis, operadora de galpões logísticos. No Brasil, os shopping centers respondem por 60% do faturamento da companhia, enquanto os galpões contribuem com os demais 40%, segundo Mantesso.
“Desde a abertura do escritório no Brasil, em 2017, já dobramos o investimento no Brasil, não só no setor de shoppings centers. Temos também uma parceria com a Prologis para crescer no setor logístico. Estamos abraçando o varejo digital. Temos como clientes gigantes como a Amazon e o Mercado Livre”, disse.
O executivo disse considerar que a demanda por aluguel de espaços em shopping centers continua aquecida porque o varejo de rua carece de conveniência e segurança.
Entre os maiores empreendimentos sob administração da Ivanhoé estão o shopping Conjunto Nacional, em Brasília, considerado o segundo mais antigo do país, e o Iguatemi Porto Alegre como sócio minoritário. Em São Paulo, a companhia faz gestão do Shopping Itaquera, por exemplo.
O diretor geral para a América Latina da Ivanhoé disse que atualmente a taxa de ocupação dos shoppings do portfólio está no patamar de 95% e que a crise em grandes marcas, como Americanas (AMER3) e Starbucks, não é motivo de preocupação, pois há demanda por novos inquilinos.
Ele destacou a visão de longo prazo na captura de retorno de seus empreendimentos. A empresa investe internacionalmente ao lado de parceiros estratégicos e de grandes fundos imobiliários que são líderes nos seus mercados, segundo o executivo.
Fonte: Bloomberg Linea