Minicentros de distribuição melhoram a experiência de compra e viram tendência em áreas de baixa demanda imobiliária
Por Rodrigo Dias
O desafio logístico do varejo reside em entregar os produtos no menor tempo possível e de modo econômico. Para tanto surgiram as dark stores, discretos locais em grandes centros para armazenagem dos produtos mais vendidos em determinadas áreas de grande concentração de clientes de e-commerce. Para as empresas, ajudam a melhorar a experiência de compra do cliente, para proprietários, uma opção de negócio.
O segredo de uma dark store eficiente é conjugar oferta de imóveis em regiões de baixa demanda, geralmente antigas áreas industriais, que tenham alguma proximidade com bairros residenciais. Não é preciso muito espaço. Casas de até 70 metros quadrados próximos à estação da Luz, em São Paulo, por exemplo, são bem vistos. Esqueça a presença de moradores de rua que afastam os investidores imobiliários. O que vale é a partir dali alcançar em minutos bairros como Consolação, República, Perdizes, Pacaembu e Higienópolis. Um novo smartphone ou console de game cuja entrega demoraria horas ou até alguns dias partindo de um centro logístico da periferia é resolvida de modo expresso.
Esses pequenos centros podem operar para vendas de canais próprios, terceirizados e marketplaces. “As dark stores são minidistribuidoras estratégicas que ocupam uma pequena metragem. No geral, bens de consumo puxam o boom desse segmento”, afirmou o diretor vertical de negócios da Infracommerce, Fábio Gallo. A empresa gerencia 18 dark stores na região metropolitana de São Paulo, interior e litoral. Sem o trabalho de gente como Gallo, os gargalos logísticos do varejo seriam maiores.
Somente a Infracommerce atende mais de 500 clientes com entregas em até 48 minutos, com destaque para alimentos e bebidas. “O mercado imobiliário ainda não se deu conta dessa tendência, principalmente na cidade de São Paulo”, disse o diretor de logística Jorge Catani. O aluguel de um apartamento próximo à estação da Luz, na capital, varia de R$ 2,5 mil a R$ 6 mil.
Expansão
Em um passo para o aprimoramento, esse tipo de serviço está deixando de atender apenas e-commerce para cuidar também de retiradas físicas e até abrindo as portas para que consumidores possam comprar no presencial. Essa função híbrida começou a ser utilizada por redes de supermercado e começa a ganhar força entre varejistas de produtos domésticos, vestuário e outros bens de consumo mais portáteis.
“O modelo de operação possui vantagens que vão além da possibilidade de entrega mais rápida. Lojas físicas, com baixa performance, podem ser rapidamente transformadas em dark stores, com baixo custo de implantação e manutenção da operação. Por estarem mais próximas do consumidor final, são mais eficientes em custo e ambientalmente. Além disso, pulverizam a distribuição dos varejistas, que antes estava 100% concentrada nos CDs [centros de distribuição], aumentando a capacidade de escoamento com menores prazos e custos”, explicou o head de eficiência e gestão da AGR Consultores, Julio Ernesto.
Lá fora
Gigantes do varejo como Walmart, Carrefour e Target estão inaugurando cada vez mais dark stores, incluindo na América Latina. Esse movimento possibilita testar se vale atuar em uma nova região sem os riscos do modelo tradicional de expansão, que obriga pesados investimentos. A Americanas criou uma marca de logística integrada que mescla CDs e dark stores. “Hoje, 80% dos clientes que compram na plataforma digital estão a até 7 quilômetros de distância de uma de nossas unidades”, afirmou o diretor da plataforma logística da Americanas, Welington Souza.
Nos EUA, a Whole Foods converteu lojas de Los Angeles e Nova York em dark stores, assim como Kroger e Giant Eagle. Há planos para que alguns sejam permanentes. Apesar de o modelo ser mais comum nas redes de supermercados nos EUA, a tendência já se move para o varejo de produtos domésticos, vestuários e até joalherias.
Fonte: Money Report