O mais recente Indicador Serasa Experian de Demanda do Consumidor por Crédito contém dados que, à primeira vista, parecem dramáticos: a quantidade de pessoas que em fevereiro de 2017 buscaram crédito caiu 7,2% em relação a janeiro e 4,7% em comparação com o mesmo mês de 2016, um dos períodos mais duros da recessão. O quadro, contudo, não é tão feio assim.
Avaliar o movimento do comércio é tarefa complexa, pois fatores sazonais pesam muito nessa atividade, flutuando em razão de datas comemorativas, de pagamentos extraordinários ao consumidor, como o 13.º salário, ou de fatores externos, como eventos públicos que afastam os clientes das lojas. O mês de fevereiro deste ano é um bom exemplo dessa dificuldade.
Como nota a Serasa Experian, além do carnaval, que neste ano caiu na última semana de fevereiro, o mês teve um dia útil a menos do que 2016, um ano bissexto. Fazendo o ajuste por dias úteis, o Indicador, segundo a empresa, revela que a demanda de crédito no mês passado pode ser considerada estável.
Outro fator pode ter influenciado o aparente desaquecimento da demanda. Em meados do mês passado foi anunciado o calendário para os saques das contas inativas de assalariados no FGTS. Muitos consumidores podem, portanto, ter adiado suas compras para quando pudessem sacar seu dinheiro na Caixa Econômica Federal.
O indicador de varejo da Boa Vista SCPC, elaborado a partir da quantidade de consultas à base de dados da empresa, também aponta na direção da estabilidade, tendo constatado queda de 1% das vendas, considerando os dados mensais com ajuste sazonal. O indicador, afirma a empresa, manteve-se no mesmo nível registrado na última avaliação acumulada em 12 meses.
É possível que a estabilidade dos meses recentes esteja antecipando a recuperação do movimento comercial a partir deste mês ou de abril, por causa da Páscoa. Se as vendas reagirem neste bimestre, há expectativa de que o varejo alcance taxas positivas de crescimento, configurando uma tendência já no fim do primeiro semestre, refletindo a queda da inflação e dos juros ao consumidor, além de certa melhora nos níveis de emprego.
Fonte: Estadão Economia