Por Bianca Guilherme | A Di Santinni, empresa do segmento de calçados que começou como fabricante e passou a ter a própria rede no varejo, acaba de comprar a Capodarte. A marca de bolsas, sapatos e acessórios é voltada para consumidores das classes A e B, com coleções majoritariamente de couro, uma mudança no perfil da carteira da compradora.
A companhia vai pagar R$ 36 milhões em dinheiro à gaúcha Paquetá The Shoe Company pelo ativo. Como a antiga dona estava em recuperação até o fim do ano passado, a Capodarte estava em leilão e foi adquirida como uma unidade produtiva isolada (UPI), que dá a quem está comprando o direito de absorver o negócio sem herdar as dívidas de quem estava em RJ e evitar ser acionado por obrigações trabalhistas.
A Di Santinni só passou a considerar a operação como certa depois que recebeu ontem da Justiça de Nova Hamburgo, no Rio Grande do Sul, a confirmação de que o leilão foi concluído. Esta é a primeira aquisição da história da Di Santinni, uma empresa familiar que deu seus primeiros passos nos anos 1960, quando tinha apenas a fábrica de calçados e usava outro nome, e chegou a flertar com a falência nos anos 1970.
Com a incorporação da Capodarte, a Di Santinni, historicamente mais focada na classe C, pretende atingir um público menos sensível a preços e menos impactado pela concorrência de produtos importados da China, em especial após a o boom de plataformas como Shein e Shopee.
“É uma marca já consolidada, atemporal e que conseguiu sobreviver ao longo do tempo pelo tipo de produto que vende. Então tem um lugar garantido no mercado e a gente resolveu aproveitar e colocar no nosso portfólio”, afirma Artur Tchilian, CEO da Di Santinni.
Conhecida pelo monograma de trevo – também uma união de quatro C (Cuore, Capriccio, Contemporaneo e Classe, inspirado na calçadistas italianas), a Capodarte tem 40 lojas na América Latina e uma fábrica em Sapiranga, no Rio Grande do Sul. Os produtos da adquirida, porém, não serão encontrados na rede da Di Santinni, que tem lojas multimarcas.
Enquanto a parte comercial, de estilo e gestão seguirão com uma estratégia independente, as áreas fiscais, financeiras e contábeis serão tocadas pela Di Santinni. “O DNA da marca será preservado.”
A Di Santinni, contudo, está absorvendo um negócio com vendas em queda. O faturamento da Capodarte, de R$ 120 milhões no ano passado, deve cair para R$ 80 milhões em 2024. “Para este ano, obviamente, não dá tempo de fazer muita coisa, mas, para o ano que vem, vamos seguir com uma nova estratégia”, diz Tchilian. “O período difícil ficou para trás. Estamos confiantes no futuro, na expansão e na aceleração do negócio.” A expectativa do empresário é elevar o tamanho da rede da Capodarte para 60 unidades em 2025 e bater 90 em 2026.
Tchilian, aliás, tem experiência com reestruturações. Enquanto a sua companhia ainda era apenas uma fábrica em São Paulo, nos anos 1970, comandada pelo seu tio, o número de funcionários chegou a cair de 600 para 10. “O negócio começou a ter problemas financeiros e pouco a pouco ele foi perdendo tudo o que construiu de patrimônio. A fábrica foi encolhendo e chegou ao momento de ele não ter mais nada”, conta o empresário.
Tchilian, de 62 anos, assumiu a empresa aos 18 anos, em 1980, e convenceu sua mãe a vender o apartamento da família para investir no negócio, que passou a focar no varejo. “Ela concordou, mas na família ficaram indignados com ela, coitada”, relembra.
Com a recuperação, em 1987 a Di Santinni abriu sua primeira loja no Norte Shopping, no Rio de Janeiro. Hoje, tem 132 unidades em todas as regiões do Brasil, sendo 88 franqueadas. Em 2023, a companhia teve um faturamento de R$ 670 milhões, e a meta é que neste ano o valor supere R$ 700 milhões.
Fonte: Valor Pipeline