A CVS, maior rede de farmácias dos Estados Unidos, levou cinco décadas para investir fora de seu país. Havia, portanto, uma enorme expectativa quando a varejista anunciou, em 2013, a compra da brasileira Onofre, tradicional rede de farmácias controlada desde 1934 pela família Arede.
Fundada em 1963, a CVS tem 246.000 funcionários e mais de 10.000 lojas que vendem de curativos a cerveja e faturam quase 200 bilhões de dólares, dez vezes todo o mercado brasileiro de farmácias. A Onofre, por sua vez, fatura 490 milhões de reais com 50 unidades, 47 delas na cidade de São Paulo.
Mas pouca coisa saiu como o planejado. Além de não conseguir a escala esperada, o grupo americano trava uma disputa com a família fundadora da Onofre. Após fechar o negócio, a CVS questionou os antigos donos por passivos trabalhistas e fiscais. Os ex-donos e a CVS se desentendiam até na hora de escolher o terreno para novas lojas. Tudo isso levou a CVS a questionar o valor do acordo, de 670 milhões de reais por 80% da rede.
Quando algumas parcelas deixaram de ser pagas, em 2016, a família Arede entrou com um processo de arbitragem na Câmara de Comércio Brasil–Canadá contra a CVS. A Onofre não confirma essas informações.
Em paralelo às discussões societárias, a CVS começou a levar parte de seu jeitão para a Onofre (mas sem os produtos diferentões vendidos em farmácias americanas). A empresa integrou as lojas e o banco de dados de compras, vendas e estoques. De largada, fechou 12 lojas não rentáveis, cerca de um quarto da operação na época, enquanto os concorrentes anunciavam dezenas de novas unidades pelo Brasil.
A Onofre começou a trazer para o Brasil estratégias da CVS, como mais serviços nas lojas. Em 2018, lançou em 22 unidades a Onofre Clinic, clínica que, além de medir a pressão e a glicemia, aplica vacinas e, em breve, fará o acompanhamento de gestantes e de quem quer perder peso ou parar de fumar. A CVS é a maior empregadora de enfermeiros dos Estados Unidos. Por aqui, a vacinação foi liberada para drogarias no fim de 2017.
Há três anos, o grupo fez uma proposta pela Drogaria São Paulo Pacheco, mas as negociações não avançaram, segundo o jornal O Estado de S. Paulo. O Estadão também revelou que a família Arede tentou retomar o comando do grupo.
Agora mais uma vez concentrada apenas nos Estados Unidos, a CVS tem uma série de desafios com que lidar. A varejista vem se dando bem na concorrência com redes farmacêuticas como Walgreens e Rite Aid. No quarto trimestre do ano passado, a CVS surpreendeu com resultados acima do esperado. As vendas subiram 12,5%, para 54,4 bilhões de dólares, com aumento do volume de medicamentos com prescrições e dos serviços adicionais oferecidos pelas farmácias da rede.
Mas as maiores ameaças estão num negócio este sim decisivo para o futuro da varejista. Em dezembro de 2017, a CVS anunciou a compra da companhia de planos de saúde Aetna por 69 bilhões de dólares, visando reduzir os crescentes gastos com saúde por meio de serviços médicos de baixo custo em farmácias. Executivos de sete grandes farmacêuticas voltaram a ser ouvidas no Congresso americano nesta terça-feira sobre preços considerados abusivos dos medicamentos.
O acordo acontece após o plano de 37 bilhões de dólares da Aetna para adquirir a companhia de planos de saúde Humana, de menor porte, ter sido bloqueado pela justiça americana. Acionistas da Aetna agora têm 22% da CVS, e a operadora continua atuando como uma unidade separada da CVS.
Em seu primeiro guidance como companhia combinada, no dia 20 de fevereiro, a nova CVS rebaixou suas estimativas de lucro para 2019, afirmando que os números seriam prejudicados por desafios em áreas como benefícios e o negócio de cuidados pessoais. A companhia tratou de acalmar os investidores anunciando um agressivo programa de cortes de custos e reiterando que tem a estratégia certa para o longo prazo.
Ano passado a varejista americana Amazon comprou a farmácia online PillPack, que entrega diariamente aos assinantes de seu programa os medicamentos de que eles precisam nas doses certas. É mais uma frente de ameaças para a CVS. Nesta disputa de gigantes, a Onofre virou uma distração indesejada.
Fonte: Valor Econômico