As startups já são realidade no universo de negócios brasileiro. Embora o País ainda esteja bem longe de ser um Vale do Silício, o ecossistema de startups por aqui não pode ser ignorado. No varejo, já vemos movimentos fortes de empresas nascentes enxergando oportunidades em gaps que o setor ainda não sabe resolver sozinho. Como lidar? O debate que aconteceu nesta manhã no Apas Show 2017 tentou responder a esta pergunta.
O maior evento supermercadista do País, o Apas Show acontece nesta semana, em São Paulo, e tem como tema o Empoderamento. Neste sentido, colocar as startups como ferramentas de empoderamento dos negócios do setor tem seu sentido.
“O tema de startups ainda não próximo da realidade dos supermercados”, afirma Silvio Laban, professor do Insper, que mediou o debate realizado nesta manhã (3) com especialistas e varejistas sobre o tema. “Ainda são mundos que não se encontraram totalmente. Mas estamos passando por uma revolução e a pergunta que fica para o segmento é qual é o futuro que vocês enxergam do negócio?”, questionou Cássio Spina, sócio da Altivia Ventures e um dos maiores especialistas em investimento anjo do País.
Um fato não pode ser ignorado, segundo o especialista: as pessoas, em geral, não gostam de ir aos supermercados. “Elas enxergam como perda de tempo e tempo é algo valioso”, afirmou. “Existe um problema aí e quando você tem um problema, muitos modelos de negócios podem ser criados. Alguém pode passar por cima do seu negócio”, provoca. Atender às necessidades dos consumidores – ainda que sejam necessidades que nem eles ainda enxergam – é ponto de partida para as empresas abraçarem a cultura de startup.
Capacidade de criação
Essas soluções, segundo Spina, não passa necessariamente por tecnologia. “A questão é a capacidade de criação. Não precisamos ser o maior, o mais inteligente, mas aquele que se adapta mais rápido e é por isso que as startups dão certo, porque elas mudam toda hora e se adaptam todos os dias”, explica o especialista.
O que conta, diz, é a metodologia de negócios e o modelo. “O que fez o Uber mudar o mercado não foi a tecnologia em si, mas o atendimento às necessidades latentes dos usuários”, diz.
Rodrigo Segurado, da Cirrus Management Consulting, afirma que diante da automação, os negócios precisam colocar aspectos mais humanos na gestão. “Temos duas virtudes: criatividade e relacionamento. E para criar inovação precisamos pensar em por que, em que e como”, afirmou.
“As grandes empresas estão sendo atropeladas por essas pequenas empresas. Metade das empresas da Fortune 500 de 2000 desapareceu por conta do digital. O tempo médio das empresas era de 50 anos, agora é de 12 anos”, disse. “O desafio do varejo é encontrar o caminho entre o produto e o consumidor que traga resultados e lucro. Para isso, a gente precisa usar criatividade e relacionamento para entender o que o consumidor quer. Precisamos transformar o varejo em serviço. A economia agora é de demanda, está no nicho e não na escala”, explicou.
De cima para baixo
Abraçar e criar uma cultura de startup é um processo que acontece de cima para baixo. “As lideranças precisam abraçar a ideia. Caso contrário, o processo não acontece”, afirma Spina. Um exemplo desse processo é a Magazine Luiza. Assim que Frederico Trajano assumiu a presidência da empresa inseriu a cultura digital na companhia e colocou como prioridade a transformação da empresa em uma companhia digital com pontos físicos.
“Ele trouxe um plano de inovação digital e esse plano tem uma visão de transformar a empresa”, afirmou Eduardo Galanternick, diretor de e-commerce da Magazine Luiza. Para isso, a empresa atua com cinco pilares: inclusão digital, loja digital, muticanalidade, plataforma digital e cultura digital.
Neste processo, a loja precisa ser transformada, disse. Na rede, ela passa a ter três papeis. “O processo de venda demorava em torno de 45 minutos. Agora, com as ferramentas para os vendedores e os estoquistas esse tempo caiu para cinco minutos”, afirma. Além disso, o papel da loja é vender serviços. “O terceiro papel da loja é ser um ponto da cadeia de distribuição. A ideia é entregar mais rápido”, afirmou.
De todas as estratégias da companhia, contudo, a cultura digital é a mais importante. “A cultura digital é o que a gente aprendeu com essa forma de lidar com a tecnologia e o modo como trabalhamos com times integrados”, disse.
Integração
Nem sempre, porém, é preciso criar uma startup para conseguir ser mais ágil e resolver problemas. Basta apoiar e investir em alguma. É o que defende João Kepler, sócio da Bossa Nova Investimentos e um dos maiores investidores em startups do País. “O varejo precisa se reinventar e, muitas vezes, para isso, é preciso trazer a inovação para dentro”, afirmou. “É a forma mais barata para resolver seus problemas”, disse.
Para ele, o varejo preciso olhar para dentro de casa, entender toda sua cadeia e enxergar o que não funciona, o que faz o negócio perder eficiência e o que dá errado. A partir daí, é passar essa demanda para os funcionários a fim de tentar criar uma estrutura interna ou encontrar no ecossistema uma startup que resolva o problema.
O modelo mudou
“Hoje é preciso entender a loja como um negócio de abastecimento residencial”, afirmou durante a apresentação Caio Camargo, da Virtual Gate. “O business do supermercado é esse. Então, vocês precisam entender como colocar o negócio nesse cenário”, afirma.
O especialista diz que se uma startup nasce a partir de um problema, o varejista pode fazer o mesmo caminho para tornar o negócio mais ágil. “Não se trata de tecnologia apenas. O supermercado já vem criando startups a partir do próprio negócio e dentro do corebusiness. O que vem agora? Veja se essa solução extrapola o negócio”, afirma.
Para abraçar a cultura de startup, é preciso entender o que o negócio faz bem e criar oportunidades a partir daí. Na outra ponta, é preciso entender quais são os gaps e os problemas que o setor tem. Como é possível resolvê-los? A resposta pode estar dentro da empresa ou fora dela.
Fonte: NOVAREJO