A Livraria Cultura parou de vender neste ano os leitores de livros digitais da marca canadense Kobo, com quem a companhia tem uma parceria desde 2012, abrindo terreno para que a Amazon e seu Kindle tentassem avançar mais sobre esse mercado.
A interrupção na venda aconteceu em fevereiro e a Cultura informa, agora, que planeja retomar a comercialização no segundo semestre. A varejista não informa especificamente uma data. A venda dos livros on-line continua normalmente no site da rede de livrarias. A marca canadense Kobo pertence desde 2011 à japonesa Rakuten.
Procurada para comentar sobre a falta do produto nas lojas, a Livraria Cultura informou que o mercado aguardava, desde o fim de 2016, um posicionamento do Superior Tribunal Federal (STF) envolvendo a cobrança de imposto de importação sobre os leitores digitais. A decisão do STF, de garantir que o produto poderá ser importado sem impostos, foi tomada no início de março, e a empresa preferiu não renovar os seus estoques, aguardando essa decisão.
Nesse período, outras varejistas mantiveram a importação do produto e a venda em lojas, como a Amazon e a Saraiva (que comercializa o dispositivo com a marca Lev), ampliando, inclusive, a linha em determinados casos, e sem alteração nos preços. A Saraiva anunciou no mês passado o lançamento de dois novos modelos de seu leitor on-line, que é importado da China.
A Amazon também continuou a trazer ao país os seus quatro modelos do Kindle, com preços a partir de R$ 299, valor próximo ao cobrado nos Estados Unidos – a versão mais barata sai por US$ 79.
A Rakuten e a Livraria Cultura ressaltam que a parceria entre as empresas continua. A Cultura é a única rede varejista que vende a marca Kobo no Brasil. “[O acordo] no mercado brasileiro continua em vigor, sendo que não há intenção das empresas do grupo em modificá-la em forma ou conteúdo no médio e longo prazo”, informa a empresa japonesa.
Há informações no mercado de que a Rakuten poderia trazer uma nova linha de leitores digitais ao país, lançada no Japão em 2016, mas a demanda no Brasil, afetada pela crise no consumo, teria feito a empresa postegar o plano.
Há mais de um ano, a Rakuten revisou seu modelo no país e parou de operar o formato de “marketplace”, que consiste em hospedar lojas de diferentes redes em sua página e cobrar um percentual pela venda. A meta prevista com esse negócio no país não atingiu as expectativas e foi descontinuada. O foco da subsidiária local passou a ser a prestação de serviços de tecnologia para varejistas na internet.
Nas lojas, a Livraria Cultura tem relatado para clientes que ainda não tem previsão de retorno da comercialização dos leitores digitais. Em fevereiro, questionado sobre o andamento da parceria com a Rakuten, Sergio Herz, presidente da Livraria Cultura, informou que a venda estava evoluindo bem.
Herz disse que a empresa – com prejuízo há dois anos – enfrentava dificuldades financeiras e passou a renegociar dívidas com bancos e fornecedores. Foram abertas renegociações numa soma equivalente a 15% da receita anual, segundo dados do início do ano. E essa política deveria se manter em 2017.
O faturamento de 2016 da rede ficou próximo ao obtido em 2013 – cerca de R$ 420 milhões, uma queda de 8% sobre 2015.
O segmento de livros digitais representa entre 3% a 5% do mercado livreiro do país, segundo especialistas – era 0,5% em 2010. Em 2016, o mercado total de livros no Brasil encolheu 11% em volume.
Fonte: Valor Econômico