Pelo menos até agora, para o Atacadão, o mega atacarejo de alimentos (misto de atacado e varejo), controlado pelo grupo francês Carrefour, crise é uma palavra encontrada apenas no dicionário da concorrência. Responsável por mais de 60% das receitas e do lucro do grupo, que faturou R$ 42,7 bilhões, no Brasil, no ano passado, a companhia mantém inalterado o ritmo de expansão de suas lojas de autosserviço, à razão de mais de 10 unidades por ano.
“Quando o grupo assumiu o controle, em 2008, operávamos 34 lojas”, diz o gaúcho Roberto Müssnich, que comanda o Atacadão, desde 2000, e foi mantido pelos franceses na presidência. “Em oito anos, abrimos nada menos de 93 novas lojas.” Traduzido em postos de trabalho, esse crescimento faz com que o Atacadão empregue 45 mil dos 75 mil funcionários do Carrefour no País.
Com 127 lojas e 23 centros de distribuição atacadista, a empresa está presente em todos os 27 Estados, literalmente do Oiapoque ao Chuí. “Essa capilaridade nos consolida como o maior distribuidor brasileiro de alimentos”, afirma. No primeiro semestre, foram inauguradas quatro novas lojas, número que deverá chegar a pelo menos 10, até dezembro.
Segundo Müssnich, a retração da economia, com o aumento do desemprego e a consequente perda do poder aquisitivo da população, tem beneficiado o atacarejo. “Estamos presenciando um aumento da procura de nossas lojas pelo consumidor final, com uma elevação da frequência das visitas”, diz ele. “Em situações como a atual, a dona de casa busca sempre comprar mais com menos, num lugar em que os preços baixos são o principal atrativo.” De acordo com Müssnich, a cada ano, mais de 100 milhões de clientes passam pelas lojas da rede.
Definido por George Plassat, chefão mundial do Carrefour, “como o coração do nosso crescimento no Brasil”, o Atacadão deve manter até o fim do ano o desempenho positivo observado no primeiro semestre, decisivo para os resultados da subsidiária local do grupo e que fizeram a alegria de Plassat. Entre janeiro e junho, o Carrefour faturou R$ 20,2 bilhões, um crescimento de 15,9% sobre o mesmo período de 2015. Esses números confirmaram a posição do País como o principal mercado do Carrefour fora da França, responsável por 13,8% da receita global de R$ 146,1 bilhões.
“Não tenho medo de projetar que 2016 será ainda melhor do que 2015”, afirma Müssnich, de olho nas perspectivas para 2017. “ As empresas de atacarejo são uma solução para os períodos de crise e uma alternativa importante para depois que ela for superada, o que nos abre mais oportunidades de crescimento.” Com crise ou sem crise, uma coisa não deverá mudar na estratégia do Atacadão: o foco no ramo de alimentos. Para ele, está fora de cogitação a diversificação, com a entrada em outras áreas de produtos, como a de eletrodomésticos e eletroeletrônicos. “Somos bons no que fazemos, não sabemos trabalhar com outros produtos”, afirma Müssnich. “Por isso, vamos manter a essência do nosso core business.”