Por Katia Simões | Recuperação do poder de compra, melhora da renda, queda da inflação e redução, ainda que pequena, da taxa de juros, sinalizam momentos de menor turbulência no varejo. A Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) prevê alta real de 2% das vendas em 2023. O saldo entre aberturas e fechamentos de lojas no primeiro bimestre também foi positivo, com 27,6 mil novos pontos, incluindo físicos e digitais, de acordo com a CNC.
As quase 5,5 milhões de empresas de comércio em atividade no Brasil também comemoram o aumento de clientes. As visitas cresceram 3% nas lojas físicas em junho sobre o mesmo mês de 2022, segundo o mapeamento de fluxo de visitas em shopping centers e lojas físicas no Brasil, da Sociedade Brasileira de Consumo (SBVC). Os lojistas de rua tiveram alta de 11%, e os de shopping center, de 2%. No varejo ampliado, que inclui postos de combustível e venda de veículos, 1 em cada 4 vagas são geradas pelo varejo, segundo o IBGE; dentre os trabalhadores formais, 23% (9,9 milhões) estão comércio.
Para Jorge Gonçalves Filho, presidente do Instituto de Desenvolvimento do Varejo (IDV), se não houver desvio de rota, 2024 será melhor do que 2023. “É preciso gerar confiança na economia para garantir crescimento”, diz. Entre as pedras no caminho, ele aponta o endividamento da população. “Apesar dos programas para renovação das dívidas, 78% das famílias continuam endividadas”, afirma.
Eduardo Terra, presidente da SBVC, assinala que não dá para cravar um crescimento homogêneo em todos os setores. “Os segmentos de compras recorrentes, que praticamente não dependem de crédito e sim dos níveis de emprego, estão num bom patamar, enquanto o varejo de bens duráveis, que é dependente da oferta de crédito, é penalizado pelas altas taxas de juros, sofre mais”, afirma.
No mundo, a receita global do varejo em 2022 foi de US$ 28,8 trilhões; 19,8% tiveram origem no e-commerce. No Brasil, as vendas on-line equivaleram a 10% do faturamento total do varejo (R$ 1,7 trilhão) no mesmo período, segundo a Associação Brasileira de Comércio Eletrônico – ou pouco mais de 15%, segundo a Nielsen/Ebit. Tomando por base o ranking 300 Maiores Empresas do Varejo Brasileiro 2023, o faturamento dos maiores varejistas do país teve crescimento nominal (sem considerar a inflação) de 19,9% em 2022, contra 14,1% do varejo como um todo, segundo o IBGE.
“O varejo acelerou sua expansão combinando aquisições e abertura orgânica de lojas”, afirma Alberto Serrentino, da Retail Varese. Foi o caso do GPA, que abriu 110 lojas de proximidade das bandeiras Minuto, Extra e Pão de Açúcar, em 15 meses. “Fechamos os centros de distribuição que eram exclusivos para e-commerce e transformamos cada loja em um mini CD. Isso nos permitiu elevar de 30% para 50% o volume de entregas no mesmo dia”, diz Marcelo Pimentel, CEO do GPA. “Hoje temos 270 lojas para entrega rápida e 78 lojas hub.”
Na base das 300 maiores empresas do varejo brasileiro da SBVC, 74% vendem on-line, índice que salta para 91% nos segmentos não-alimentares. A diversificação de canais e modalidade de vendas também está consolidada, com 85 das varejistas realizando vendas por redes sociais e 27 operando marketplaces proprietários.
“As marcas precisam ser inevitavelmente tecnológicas e ao mesmo tempo humanas”, afirma André Chuí, head de estratégia da consultoria GAD. “Precisam de fato saber fazer e refazer as perguntas certas para redefinirem suas abordagens e produzirem experiências impactantes.”
Segundo Flávia Pibni, sócia da HiPartners Capital & Work , o varejo enfrenta um modelo desafiador frente ao cenário macroeconômico nacional e global. “Mesmo com os índices em alta, a aprovação da reforma tributária, por exemplo, pode trazer diversos impactos, uma vez que o setor é bastante exposto a benefícios fiscais, principalmente atrelados ao ICMS, como também à Lei do Bem, à Lei da Moda e à Sudene, que poderão ser reduzidos com a implementação de um imposto único”, afirma. “Daí a importância de aumentar a eficiência das bases já em operação”, diz.
Fonte: Valor Econômico