No fim de março, quando a Saraiva anunciou o seu novo diretor financeiro, o sinal amarelo se acendeu para algumas pessoas que trabalham com livro no Brasil. É que Alan Infante se apresenta no seu LinkedIn como dono de uma “experiência bem-sucedida na melhoria de capital de giro, tendo liderado a implantação de um programa de reestruturação de prazo de pagamento a fornecedores”. Não tardou e a varejista começou a chamar seus principais fornecedores para justamente alongar os prazos de pagamento.
Recentemente, o Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL) se reuniu com a Saraiva e nessa reunião, a varejista explicou que a medida atinge 31 das principais editoras do país e foi causada pela demora nas ações de recuperação de créditos tributários e a renegociação em andamento com as instituições financeiras.
Em nota enviada à redação do PublishNews, a varejista reconhece que tem buscado “prazos mais flexíveis junto aos seus parceiros comerciais” e que essa medida “faz parte do dia-a-dia da operação de grandes empresas”.
Em nota, Marcos da Veiga Pereira, presidente do sindicato, se manifestou dizendo que o “SNEL reconhece os esforços de reestruturação da empresa e apoia a Saraiva, ao mesmo tempo em que empenhará para minimizar o impacto que as renegociações podem trazer ao mercado editorial”. Para isso, vai acompanhar os resultados da empresa a fim de garantir o cumprimento do plano de ações proposto.
Fontes do PublishNews informaram que casas como Record, Sextante, Planeta e Companhia das Letras estão entre essas 31 afetadas pelo reescalonamento. Nenhuma delas confirmou oficialmente estar na lista. No entanto, ainda segundo apuração do PublishNews, algumas dessas casas resolveram não pisar no freio com a varejista e estão mantendo o fornecimento normal de livros. O que há é a diminuição de ações promocionais, com a suspensão de compras de espaços em chão de livraria, por exemplo.
Além disso, há temor por parte de alguns profissionais ouvidos pela nossa redação de que comece uma onda de cortes (de lançamento e de pessoas) nas editoras, já que os fluxos de caixa dessas empresas serão afetados pela decisão da varejista.
Na apresentação dos resultados do quarto trimestre de 2017, a varejista ressalta que essa recuperação de créditos tributários, apontada como um dos motivos para o reescalonamento, afetou a liquidez da empresa. Os valores de ICMS, PIS e Cofins a recuperar, segundo está no release de resultados é um valor considerável e só no quarto trimestre, o saldo aumentou em R$ 12 milhões.
Mas o que pode estar por trás disso? Matéria publicada pelo Valor nessa terça-feira (03) sugere que a medida é muito mais uma vacina do que propriamente um remédio. Ou seja, quer muito mais evitar maiores danos do que efetivamente sanar um problema já instalado. É que, na análise do jornal, a varejista vê um risco de queda nas vendas por conta de Copa do Mundo e eleições e quer formar um caixa antes disso. O jornal aponta que 90% das lojas da Saraiva estão em shoppings, que terão os horários de funcionamento reduzidos entre junho e julho por conta do mundial.
O estrangulamento alegado pela Saraiva contradiz os dados apurados pelos principais institutos de pesquisa que monitoram o mercado livreiro brasileiro. A Gfk apontou que o varejo de livros no Brasil apresentou crescimento nominal de 1,5% em 2017 na comparação com 2016. Já a Nielsen reportou crescimento de 6,15% na mesma base de comparação.
Fonte: Publish News