Na tarde do dia 29 de maio, cerca de 8 mil lojas próprias da Starbucks nos Estados Unidos não abrirão. A empresa pretende aproveitar o período para treinar seus funcionários no combate ao racismo. A medida compõe um plano de ação da empresa para lidar com uma crise de imagem recente após um vídeo viralizar, em abril, mostrando dois homens negros sendo presos em uma loja da Filadélfia.
Após o ocorrido, Kevin Johson, CEO da Starbucks, pediu desculpas e afirmou que a empresa quer ser parte da solução. “Fechar as nossas lojas para uma formação contra práticas racistas é só um passo em um caminho que requer dedicação por todos os níveis da nossa empresa e dos sócios em nossas comunidades”, disse, em comunicado.
Ao Meio & Mensagem, David Wilson, empreendedor de mídia e fundador do site americano The Grio, além de consultor e palestrante da Casé Fala, comenta a ação da Starbucks e ressalta a necessidade de que empresas tenham ações concretas e que possam ir além do marketing. “Aumentar o número de funcionários negros, liderança de executivos negros e investimento é algo que pode ser medido e acredito que teria um impacto muito maior, afirma David.
M&M – Como você avalia a reação da Starbucks ao caso de racismo em uma de suas lojas fazendo com que seu presidente falasse sobre o tema e fechando suas lojas para treinar funcionários?
David Wilson- Na superfície parece ampla, mas falta a profundidade necessária para criar uma mudança real. Uma tarde de treinamento não arranha a superfície do problema. Medo e preconceito contra a pele negra é uma questão histórica e sistêmica nos Estados Unidos e no mundo. A mudança só virá quando a Starbucks e outras empresas aceitarem negros em cargos de liderança corporativa. Isso ajudará a mudar a cultura dessas empresas para refletir e atender melhor seus diversos clientes.
M&M – Como diferenciar entre marketing e ações concretas na atitude da Starbucks e que tipo de ensino o caso pode trazer para outras empresas?
David – A Starbucks queria gerar um grande buzz com o anúncio de fechar todas as suas lojas para treinamento em diversidade. Para muitos, isso parece mais uma tática de relações públicas do que um plano real de ação. Para outras empresas que observam, espero que entendam que é importante tomar medidas que tenham metas mensuráveis. Aumentar o número de funcionários negros, liderança de executivos negros e investimento é algo que pode ser medido e acredito que teria um impacto muito maior.
M&M – Sabemos que racismo é algo crônico em vários países há muito tempo, as redes sociais deram maior foco ao assunto?
David – Parece que esses tipos de histórias estão surgindo cada vez com mais frequência. Só recentemente, tivemos vários. O site da H&M exibiu um garoto negro vestindo a camisa com as palavras “macaco mais legal”, o anúncio de mídia social da Dove para promover o clareamento da pele e um comercial da Heineken mostrando uma garrafa de cerveja escolhendo clientes brancos sobre os negros.
M&M – Ainda vivemos sob o efeito do sucesso do filme Pantera Negra. Como ele levantou discussões importantes sobre o assunto?
David – Eu acho que Pantera Negra provou que um produto – particularmente conteúdo de mídia – pode ser a alavanca do talento dos criativos negros e fala sobre as ambições e desejos de um público negro global. Então, mesmo além da indústria cinematográfica, acredito que isso esteja despertando as pessoas.
M&M – Muito se fala sobre como o presidente Trump vem reforçando discursos racistas. Na entrevista de Jay Z com David Letterman, na Netflix, eles apontaram um lado positivo de tudo isso, há algo positivo que possa ser tirado dessa situação?
David – Eu acho que há alguns aspectos positivos para os pontos de vista e práticas racistas de Donald Trump, na medida em que elimina a ilusão de que a supremacia branca nos Estados Unidos e no mundo está morta. O ponto positivo da presidência de Trump é que ela ativa uma geração de jovens que querem lutar para garantir que seus direitos e futuros sejam preservados. Eu acho que Donald Trump despertou um grupo demográfico no mundo que, de outra forma, teria sido apático às ameaças reais feitas contra suas vidas, liberdades e sua capacidade de buscar a felicidade.
Fonte: Meio e Mensagem