O ciclo de queda de juros para os menores patamares da história e o surgimento de sinais de retomada econômica devem fazer com que ações ligadas ao consumo interno sejam o grande destaque na busca da Bolsa brasileira por um novo recorde. Com uma alta acumulada de mais de 21%, a B3 (antiga Bovespa) só perde este ano para Hong Kong entre os principais mercados acionários do mundo. O índice Ibovespa fechou na sexta-feira a 73.078 pontos , perto de seu pico histórico, de 73.516 pontos, alcançado em 20 de maio de 2008.
Depois da divulgação de uma inflação abaixo da esperada na semana passada, muitos economistas passaram a prever que a Taxa Selic cairá abaixo de 7% no fim de 2017. A combinação de juros menores e ritmo mais lento de alta dos preços tende a estimular o consumo, como já vem acontecendo. Após nove trimestres sem crescimento, o consumo das famílias avançou 1,4% entre abril e junho e foi o principal responsável por impulsionar a economia no período.
Com isso, especialistas veem como promissora a perspectiva de empresas que dependem dessa demanda interna. Relatório do Bank of America Merrill Lynch afirmou que a melhora de companhias ligadas a varejo, bens de capital e também de construção pode levar o lucro por ação das ações brasileiras a subir até 17% em 2018.
— A inflação está caindo, e os bancos começam a repassar a redução da Selic para os juros. Isso vai ajudar a estimular o crédito ao consumo em um primeiro momento. Depois, a volta do crédito deve ajudar também as empresas da construção civil — avaliou Ari Santos, da corretora H.Commcor.
Luiz Roberto Monteiro, da corretora Renascença, vê oportunidades no segmento de shoppings centers, mas também cita os setores automobilístico e de logística.
— As vedetes do mercado, no varejo, têm sido a Magazine Luiza e as Lojas Renner. Mas o segmento de shoppings também pode ser interessante. Eu incluiria ainda o setor automobilístico, porque tem havido alguma melhora de atividade nele. Pode-se citar Localiza, Randon e até a Usiminas, que fornece chapas para a fabricação de veículos.
Julio Hegedus Netto, da Lopes & Filho, indica preferência pela Weg (alta de 40% no ano), que produz peças usadas no segmento automotivo. Em relatório recente, o JP Morgan destacou como papéis mais sensíveis ao ciclo de queda de juros a Ecorodovias, a Rumo, a Cemig, a BrMalls, o Itaú Unibanco e as Lojas Americanas.
No caso dos bancos, Hersz Ferman, da Elite Corretora, observou que, ao contrário do senso comum, eles tendem a ser favorecidos por juros menores, porque isso diminui a inadimplência. Segundo o analista, o pico dos calotes parece ter ocorrido no fim do ano passado e, por isso, os bancos já reagiram positivamente na Bolsa. Agora, um novo ciclo de crescimento dependerá da retomada do crédito, observa Ferman:
— Pode ser que o próximo passo seja a volta do crescimento da carteira de crédito. Se a economia começar de fato a melhorar, pode ser que eles se sintam mais confortáveis para voltar a emprestar. Mas, por enquanto, continuam restritivos.
OPORTUNIDADES NO SETOR DE ENERGIA
Além do consumo aquecido, analistas apontam o setor de energia como outra aposta. Isso porque essas empresas perderam muito valor com a reestruturação do setor no fim de 2013. Agora, com a expectativa de mudanças no marco regulatório do setor, os papéis voltam a ficar interessantes, incluindo aí os planos de privatização da Eletrobras.
A aposta da corretora Coinvalores é nas ações da Copel (alta de 13,40% no ano). A concessionária paranaense se beneficia da alta dos preços de energia no mercado de curto prazo, que devem ajudar nos números do terceiro trimestre. Mas as mudanças regulatórias são outro fator positivo.
Há empresas, contudo, que são prejudicadas pelo ciclo de queda de juros, segundo Ferman. É o caso de seguradoras.
— É um setor cujo desempenho das aplicações financeiras é muito importante para o resultado final. Com juros menores, a rentabilidade total dos seus negócios tende a cair com força. Por isso, temos visto a saída de muitos investidores do setor — explicou.