A reprovação ajuda a entender o movimento baixo observado desde que estados e municípios começaram a flexibilizar a quarentena imposta para conter o avanço do novo coronavírus.
Na capital paulista, o número de frequentadores de bares e restaurantes foi tímido na reabertura, como mostrou reportagem da Folha. Segundo Percival Maricato, presidente da associação de bares e restaurantes de São Paulo, o movimento registrado nos últimos dias ficou em média 20% do que era antes da quarentena.
Pesquisa do IBGE mostra que, mesmo com a reabertura, houve queda de 7,2% das vendas do comércio em maio na comparação com o mesmo mês do ano passado, o pior desempenho desde 2016. O nível também ficou 7,3% abaixo do observado em fevereiro, último mês em que as atividades não foram afetadas pela pandemia.
Apesar da expectativa de que a demanda reprimida durante o distanciamento social levaria a um boom de consumo pós relaxamento, o estudo da CNI indica cautela dos brasileiros.
Questionados se pretendem aumentar ou diminuir a frequência da ida a bares, restaurantes, shoppings e comércio de rua em comparação com o período pré pandemia, a maioria responde que pretende ir pouco ou muito menos.
Considerando os três meses posteriores ao fim da quarentena, 67% dizem que devem ir menos a bares e restaurantes, 64% devem ir menos a shoppings e 62% devem ir menos a comércio de rua.
Entre os estabelecimentos pesquisados no levantamento, apenas supermercados mantém uma frequência semelhante ao nível pré-pandemia (50% dizem que devem frequentar no mesmo patamar de antes).
O consumidor está inseguro tanto em relação ao vírus — embora menos do que na pesquisa anterior, realizada em maio —quanto à renda, o que o leva a pisar no freio do consumo.
O percentual dos que relatavam ter um medo grande ou muito grande da pandemia caiu de 53% para 47% entre maio e julho. A percepção se reflete na expectativa de mortes nos próximos 15 dias a partir da data da entrevista: os que apostavam num aumento caíram de 74% para 55%.
Ainda assim, 8 em cada 10 entrevistados se disseram a favor das medidas de isolamento social. Em termos percentuais, o número foi de 86% para 84%, dentro da margem de erro.
Enquanto o levantamento sugere um arrefecimento do temor do vírus, seu impacto econômico tem efeitos profundos e prolongados.
Segundo a pesquisa, 71% dos entrevistados declararam ter reduzido suas despesas mensais. Entre esses, 30% dizem ter feito um corte grande ou muito grande.
Apesar de reativo à conjuntura, a pesquisa indica uma tendência crescente de que o freio tenha efeitos prolongados. O percentual de entrevistados que declaram que a redução de gastos é permanente subiu de 29% para 36% entre maio e julho.
O principal motivo é a insegurança quanto à renda futura, percepção que permaneceu estável entre maio e julho (42% e 41%). Quase um terço relata já ter perdido sua renda total ou parcialmente (29%). O comércio fechado vem em terceiro lugar, apontado como o motivo da redução dos gastos por 27% dos entrevistados.
Considerando apenas quem está empregado (com e sem registro), 45% dizem que sua renda diminuiu e 7% declararam ter perdido toda a renda. Para 42%, o montante ficou igual ao período pré pandemia, enquanto outros 7% chegaram a observar um aumento.
É perceptível, no entanto, algum otimismo. A fatia dos que acreditam que continuarão a receber sua renda ou salário normalmente subiu de 36% para 43% entre maio e julho, enquanto os que declararam ter ficado totalmente sem dinheiro caiu de 23% para 12%.
Por outro lado, aumentou de 11% para 15% quem diz não ter renda. O percentual dos que afirmam já ter tido alguma redução de renda ou salário oscilou de 17% para 19%, dentro da margem de erro.
O medo grande ou muito grande de perder emprego recuou um pouco entre maio e julho, de 48% para 45%, mas ainda atinge quase metade da população. Na outra ponta, os que declaram não ter nenhum medo de que isso aconteça passaram de 22% para 29%.
Em relação ao auxílio emergencial, 13% disse ter pedido mas não estar recebendo. 30% dos entrevistados afirmam estar recebendo o valor. Entre esses, 57% disse ter utilizado o dinheiro para compras, 35% para pagar dívidas e 2% diz ter guardado.
O levantamento da CNI também mostra que o consumidor está cada vez mais convencido de que, mesmo com o fim da quarentena, sua rotina não voltará a ser como era antes.
Enquanto em maio 37% imaginavam que sua rotina seria igual ou muito parecida com o período pré-pandemia, em julho esse percentual caiu para 31%. Em compensação, 32% agora preveem mudanças significativas —em maio, 26% tinham essa percepção.
O pessimismo a nível individual se reflete nas expectativas para a economia de modo geral. Na visão de 67%, o Brasil ainda não começou a se recuperar, sendo que 39% acreditam que isso levará mais de dois anos para acontecer.
“Os dados recentes da economia mostram que o pior da crise causada pelo novo coronavírus pode ter ficado para trás. Mas a pesquisa reforça a enorme importância de se construir uma agenda consistente, com ações de médio e longo prazo, para a retomada das atividades produtivas e do crescimento do país. Recuperar a confiança brasileiro, para que ele volte a consumir, é de suma importância para acelerar esse processo”, afirma em nota o presidente da CNI, Robson Braga de Andrade.
Fonte: Folha de S. Paulo