Roberto Fulcherberguer, CEO da Via, dona das redes Casas Bahia e Ponto
Por Daniela Braun e Adriana Mattos
A Via, dona das redes Casas Bahia e Ponto, vem sentido um ambiente de consumo mais “desafiador” nos últimos três meses e vê a oferta de crédito como crucial neste momento, disse , na “Live do Valor ”, o CEO da empresa, Roberto Fulcherberguer. Ele ainda comentou sobre as recentes quedas nas ações da empresa e o anúncio de alongamento de R$ 1,5 bilhão em dívidas, informado na noite de domingo.
“Isso [cenário desafiador] está estampado, o consumidor está menos propenso a comprar […]. O desafio é geral. Começamos a oferecer crédito por nossa ‘fintech’ banQi [startup de tecnologia financeira] no segundo trimestre, aceleramos no trimestre seguinte, e com taxas de inadimplência parecidas com do crediário. Oferecer crédito nessas horas é superimportante”, disse o executivo. O início das operações de empréstimo pessoal pelo banQi será a partir deste ano, afirmou.
A empresa deve encerrar 2021 com 105 novas lojas abertas – eram 1.029 pontos em setembro, último dado disponível – e o CEO diz que de 70 a 100 inaugurações em 2022 “não está fora do que se pretende fazer”. Ele não quis antecipar projeções de investimentos para 2022. “À medida que o on-line se expande, é melhor para o jogo da Via. A venda on-line se multiplica em áreas com novas lojas.”
Fulcherberguer conta que, embora o movimento nas lojas seja menor, em relação aos últimos anos, a conversão de vendas é maior, tanto presencialmente quanto pelos canais digitais.
O cenário de falta de produtos que se viu até o terceiro trimestre, segundo ele, está se normalizando e a liberação da segunda parcela do 13º salário pode aquecer as vendas natalinas.
A respeito da análise do mercado sobre a perda no valor das varejistas na B3 neste ano, incluindo a Via – justificada pela alta na inflação e nos juros -, o CEO diz que é preciso considerar outras “complexidades”. “Estamos atentos [ao recuo nas ações]. Sobre a alta de juros, um ponto a mais de Selic é de R$ 2 a R$ 4 a mais numa parcela de R$ 150. Posso fazer em até 24 vezes no carnê. Se o cenário mudar e for preciso acelerar [a empresa], faço isso muito rápido porque transformamos a Via e temos uma estrutura montada para isso”, disse.
Segundo o comando, as vendas na “Black Friday” de 2021, que frustraram as expectativas de fabricantes e varejistas, ficaram dentro do planejado pelo grupo – a Via não deu números a respeito. E a empresa afirma que não vem carregando volume de estoques elevado de outubro e novembro, apesar dessa “venda mais desafiadora”. Segundo balanço do terceiro trimestre, eram 137 dias de vendas em estoque. Algumas cadeias, como Magazine Luiza, vem reduzindo seu volume de produtos estocados, após desaceleração do setor.
“Temos um plano de desestocagem […], mas é um estoque saudável e de excelentes itens”. Fulcherberguer afasta a possibilidade de eventual provisão de estoques no ano que vem. Outra provisão, ligada a contingências trabalhistas, foi anunciada semanas atrás, assim como em 2019, e eventuais novas baixas têm sido um ponto de atenção do mercado, dizem analistas.
O presidente da Via diz que o aumento da provisão trabalhista vem de contas do passado “e tem data e hora para acabar” – após 2024, voltam a patamares normais de mercado. Perguntado se essa baixa já não poderia ter sido feita em anos anteriores, ele disse que “só se provisiona o que se conhece”, e quando se tomou conhecimento da necessidade de ajustar o modelo, isso foi feito. “Várias defesas [nos processos trabalhistas] tinham que ser feitas e não tínhamos sequer todos os documentos. Mudamos o sistema de pagamentos que dá mais subsídio à defesa”.
Fulcherberguer disse que “2022 será o ano de monetizar o ‘marketplace’ (shopping virtual) com logística e crédito pelos vendedores parceiros”. Sobre o avanço da concorrência internacional, como Shopee e AliExpress e Fulcherberguer, disse que há plataformas com “muito item falsificado e sem devido tratamento tributário […], e notando a quantidade de tributos que o país deixa de arrecadar, isso tem que acabar”. Em 2020, segundo o Instituto para o Desenvolvimento do Varejo, o setor deixa de arrecadar de R$ 95 bilhões a R$ 125 bilhões, por transações sem nota.
A respeito do alongamento da dívida da Via, anunciado no domingo, a medida “prepara a empresa para um 2022 mais complexo”, diz ele. Considerando esse quadro mais incerto, “é natural colocar isso mais para frente”. “Só vejo como um movimento positivo, ampliamos prazo e reduzimos custos”. O alongamento foi a 147 dias, com redução do custo médio de dívida de 0,07 ponto percentual para CDI mais 2,44% ao ano.
A empresa anunciou uma emissão pública de notas comerciais, em série única, de R$ 400 milhões, que serão usados para alongamento do saldo em debêntures. Ainda concluiu outra operação de alongamento de dívida, de R$ 1,1 bilhão. Ao fim deste ano, 78% da dívida terá vencimento no longo prazo, versus 40% um ano antes. Em setembro, a empresa tinha R$ 6,8 bilhões em saldo de caixa.
Fonte: Valor Econômico