Uma verdadeira corrida do consumidor às farmácias em busca de repelentes foi verificada nos últimos dois meses, na tentativa de se proteger contra o mosquito Aedes aegypit, responsável por transmitir não só o vírus zika, como também a dengue e a chikungunya.
Segundo a Nielsen, em 2015, em relação ao ano anterior, houve um aumento de 50% nas vendas de repelentes, para R$ 217,4 milhões. Em volume, o crescimento foi de 33%, para 14,8 milhões de unidades.
O salto foi puxado por dezembro, quando as vendas em valor subiram 230% e, em volume, 155%, sobre o mesmo período de 2014.
Grandes marcas, como Off!, da SC Johnson, Repelex, da Reckitt Benckiser, Loção Antimosquito, da Johnson & Johnson (J&J), e Exposis, da Olsen, têm se beneficiado do medo provocado pelo zika, cuja relação com casos de má formação cerebral em bebês está sendo estudada pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
De acordo com o diretor geral da franco-brasileira Olsen, Paulo Guerra, entre dezembro de 2015 e janeiro deste ano, a produção da empresa aumentou 30 vezes em relação ao mesmo período do ano anterior. “Tudo que eu produzo, eu vendo”, diz ele, que trabalhava com um laboratório terceirizado no Brasil e precisou licenciar a toque de caixa mais um laboratório, dono de duas fábricas, junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para dar conta do aumento da demanda nos últimos dois meses. Há um ano, a Olsen fazia um carregamento a cada dois meses do princípio ativo do Exposis, a icaridina, fabricada pela alemã Lanxess. “Hoje, são três carregamentos por semana e tudo vem de avião, não mais de navio”.
A “icaridina” tem sido apontada por médicos como a substância mais eficaz no combate ao Aedes. No caso do Off! e do Repelex, o princípio ativo é o deet e, na Loção Antimosquito, o IR3535. Segundo Guerra, todas as três substâncias combatem o mosquito. “A diferença está na concentração, que precisa ser na medida certa para garantir a proteção”, diz o diretor da Olsen, que é sócio da empresa no Brasil. O Exposis tem uma concentração entre 20% e 25% de icaridina.
A Loção Antimosquito tem 12,5% de IR3535, enquanto o Off! tem entre 6,7% e 15% de deet (dependendo da versão). O Repelex possui entre 7,34% e 14,55% de deet, dependendo da apresentação, de acordo com os fabricantes.
Em dezembro, a Proteste divulgou uma pesquisa sobre a qualidade dos repelentes, depois de pesquisar 10 marcas. A Exposis teve o melhor desempenho em eficácia, protegendo por quase três horas contra o Aedes – no rótulo, são 10 horas, segundo a pesquisa. O produto custa até quatro vezes mais que os concorrentes.
Até o momento, a J&J, com a sua Loção Antimosquito, era a única das grandes marcas de repelentes a oferecer proteção para bebês de seis meses a dois anos de idade. Mas Guerra avisa que, em março, o Exposis estará disponível também para essa faixa etária.
Na J&J, a venda da Loção Antimosquito aumentou 250% em janeiro em relação ao mesmo período do ano passado. Na rede de lojas Alô Bebê, voltada ao público infantil, as vendas do produto cresceram 35% entre novembro e janeiro, na comparação com o mesmo período do ano anterior.
A Reckitt, dona do Repelex, aposta que neste ano o aumento da demanda será ainda maior do que no ano passado. A SC Johnson, do Off!, também confirma aumento nas vendas.
A demanda vai receber um impulso adicional: cerca de 30 fabricantes se reuniram no fim do mês passado com o governo federal para negociar o abastecimento de repelentes a gestantes atendidas pelo programa Bolsa-Família, que somam cerca de 400 mil no país.