A companhia assinou um acordo de confidencialidade com o Itaú BBA para avaliar ativos do BR Malls, de acordo com apuração do Pipeline, o site de negócios do Valor
Por Felipe Laurence
Após ultrapassar uma das maiores crises em sua história, o setor de shoppings centers no Brasil passa por um intenso movimento de consolidação, amparado na queda dos preços dos ativos durante a pandemia. A Multiplan, maior empresa do segmento que tem capital aberto no país, está de olho nas oportunidades, mas não significa que vai se movimentar.
“Esse movimento de consolidação que está acontecendo é algo natural e que ia se intensificar alguma hora”, diz Armando d’Almeida Neto, vice-presidente da Multiplan, em entrevista ao Valor. “Cerca de 70% da área bruta locável do setor é pulverizado em pequenas companhias, o que cria muitas oportunidades.”
A Multiplan apresentou um balanço de quarto trimestre considerado robusto pelo mercado, com forte crescimento nas receitas, amparado com a volta do tráfego nos seus shoppings, o que aumentou as vendas, e consequentemente, os aluguéis cobrados. Mesmo nesse cenário, o executivo diz que não necessariamente a companhia vai realizar alguma compra.
“Estamos sempre olhando boas oportunidades de investimento, mas precisamos ser seletivos com bons pontos porque o conceito de shopping center evoluiu. Não é mais aquele centro comercial fechado, precisa ter uma série de amenidades e estar dentro das novas tendências de consumo para trazer valor ao consumidor”, afirma.
A companhia assinou um acordo de confidencialidade com o Itaú BBA para avaliar ativos do BR Malls, de acordo com apuração do Pipeline, o site de negócios do Valor. D’Almeida não comenta o caso em específico, mas diz que faz parte da estratégia da Multiplan. “Nosso portfólio é forte e visamos o melhor uso de capital para nossos acionistas.”
Delivery Center
Em novembro do ano passado, a Multiplan, juntamente com a BR Malls, o family office da família Galló, a Syn (antiga CCP) e a Bloomin’Brands (dona do Outback) decidiram encerrar os investimento no Delivery Center, plataforma de entregas rápidas para shoppings.
D’Almeida acredita que o fim da empreitada se justificou pela evolução no setor de entregas e a maturidade no processo de digitalização dos lojistas. “O Delivery Center surgiu em um cenário de carência em entregas rápidas e na digitalização dos estoques dos lojista e conseguiu cumprir muito bem esse objetivo.”
O vice-presidente da Multiplan afirma que, com a aceleração da digitalização que a pandemia trouxe, os lojistas passaram a usar serviços de entrega de outras empresas, tornando o Delivery Center obsoleto no mercado.
“Empresas que realizam essa ‘última milha’ acabaram ocupando o espaço do Delivery Center muito bem, os lojistas passaram seus estoques para marketplaces próprios ou de terceiros, o que nos levou a essa decisão de descontinuar o investimento”, comenta. A Multiplan, segundo ele, passou a atuar em outras frente de digitalização, como a criação de um aplicativo próprio para uso em seus ativos.
Crescimento
A alta nos casos de covid-19 no Brasil não desacelerou a retomada da Multiplan, que apresentou um balanço contundente no quarto trimestre, com forte crescimento nas receitas. Em janeiro, mesmo com o avanço da ômicron, a operadora de shoppings centers registrou vendas que representam 104% do número apurado em janeiro de 2019.
“O quarto trimestre foi o primeiro desde o início da pandemia em que pudemos operar com horários normais de funcionamento, apesar de persistirem algumas outras restrições”, diz d’Almeida Neto.
O executivo destaca que a manutenção de altos patamares de tráfego consolidam os shoppings centers não só como centros comerciais, mas um local onde as pessoas vão buscar entretenimento, alimentação e outras amenidades. “Se ainda fosse o modelo antigo de shoppings não veríamos uma retomada tão forte.”
Os resultados da Multiplan no quarto trimestre superaram as expectativas do mercado. A companhia já havia divulgado uma prévia operacional onde apontava a retomada, mas o balanço confirmou o bom momento. As receitas subiram 43% na comparação anual, superando em 17% o quarto trimestre de 2019, pré-pandemia.
A alta nas receitas foi impulsionada pela retomada da cobrança completa dos aluguéis por parte da Multiplan. Com o tráfego nos shoppings se sustentando, as vendas dos lojistas subiram, permitindo que a companhia repassasse a inflação acumulada sem temores de aumento na vacância.
O executivo destaca que a companhia sentiu um aumento nos custos de ocupação por causa dos aluguéis, mas que o forte crescimento nas vendas, com as receitas líquidas de janeiro superando em 25% o de janeiro de 2019, juntamente com a redução de outros custos comuns, mantém os lojistas.
“Quando você tem um componente fixo muito grande, como os aluguéis, isso é compensando com o quanto mais você vende, acaba não ficando tão pesado no bolso, reduzindo o impacto do custo de ocupação nos lojistas”, afirma.
Apesar da perspectiva de crise econômica no Brasil em 2022, d’Almeida nota que a Multiplan tem histórico de crescimento operacional nestes cenários, o que lhe dá confiança que a empresa vai continuar na trajetória de recuperação mesmo com a deterioração nos indicadores macro.
“Na última grande crise conseguimos otimizar nossas operações com boa gestão de negócios e ganhamos participação de mercado. Isso ajuda a superar PIB ruim, dólar alto, atraindo o consumidor aos shoppings mesmo em crise, o que se converte em alta nas vendas”, diz.
Fonte: Valor Econômico