Por Alessandra Saraiva | O empresariado do varejo mostrou confiança em “acomodação” em dezembro, nas palavras da economista Geórgia Veloso, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV/Ibre). Ela fez a observação ao comentar a alta de apenas 0,2 ponto no Índice de Confiança do Comércio (Icom) em dezembro, para 86,7 pontos, anunciada nesta quinta-feira pela fundação.
Para a economista, frustrações em vendas, do momento presente, em datas importantes para o setor, como Natal e Black Friday, impediram resultado maior do indicador, no mês. No entanto, a especialista faz ressalva. Na Sondagem do Comércio, pesquisa do qual o Icom é indicador-síntese, há boas notícias para expectativa futura de vendas, principalmente em bens duráveis. Ela não descartou que isso ajude a melhorar a confiança do setor no começo de 2024.
Geórgia explicou que a acomodação na confiança do comércio em dezembro foi ocasionada por ações de duas forças “opostas”. Por um lado, há frustração com negócios de momento presente. Por outro lado, os empresários sentem potencial de maior consumo nos próximos meses.
Essa disputa de forças esteve presente na evolução dos dois subindicadores componentes do Icom. Se por um lado o Índice de Situação Atual (ISA) caiu 3,9 pontos, para 85,5 pontos, em dezembro – a pior queda desde janeiro (-8,8 pontos) –, o Índice de Expectativas (IE) subiu 4,3 pontos, para 88,3 pontos.
“Tivemos melhora nas expectativas em bens duráveis”, informou. A economista detalhou que esse tópico na sondagem teve alta de 9 pontos, para 94,2 pontos. Com o aumento, o patamar do tópico atingiu maior pontuação desde outubro de 2022 (95,2 pontos), acrescentou a técnica.
No entendimento da pesquisadora, é a conjuntura macroeconômica favorável atual, bem como a esperança de continuidade nesse cenário, que impulsionaram para cima as expectativas do empresariado do setor, em dezembro. A especialista notou que, no momento, as condições macroeconômicas para consumo são boas.
Há perspectiva de continuidade de queda na taxa básica de juros (Selic), no próximo ano, o que favorece recuo de juros de mercado – como de compras de cartão de crédito, por exemplo. Ao mesmo tempo, indicadores mostram continuidade de inflação comportada, melhora em mercado de trabalho (que eleva renda originada do emprego) bem como redução de endividamento.
“O ano de 2023 já fecha com saldo positivo no campo macroeconômico”, resumiu ela.
Todos esses fatores reunidos, continuou a pesquisadora, têm potencial de continuarem e, até mesmo, de se fortalecerem em 2024. E, combinados, podem impulsionar o poder aquisitivo do consumidor. “E os empresários do comércio percebem isso”, afirmou Geórgia. “Podemos dizer que apesar do cenário de agora [de frustração com vendas] eles [os empresários] estão mais otimistas para 2024”, afirmou.
Fonte: Valor Econômico