As gigantes francesas do setor de varejo Carrefour e Casino Guichard-Perrachon passaram anos disputando o domínio de seu território doméstico. Agora, o novo campo de batalha das duas empresas fica a quase 10 mil quilômetros de casa.
O Brasil, maior economia da América Latina, se transformou em fator-chave para aumentar os lucros do Carrefour nos últimos anos em meio ao crescimento decepcionante na França. A receita trimestral nas lojas da empresa abertas há pelo menos um ano no Brasil subiu entre 5,6% e 13% desde o terceiro trimestre de 2013, resultado excepcional em um país atravessando a pior recessão de sua história.
Mas enquanto as operações locais do Carrefour prosperavam, o crescimento do Casino vinha ficando para trás nos últimos anos — até recentemente. A unidade brasileira do Casino, conhecida como GPA, divulgou um salto de quase 6% nas vendas das mesmas lojas no primeiro trimestre, igualando o desempenho do Carrefour pela primeira vez em mais de dois anos. O resultado fez as ações do GPA darem o maior salto em um ano.
Com o crescimento das expectativas de que o Brasil está pronto para virar a página e deixar a crise para trás, ambas as empresas estão se posicionando para o próximo período de expansão.
“No Brasil, quando as coisas vão mal, vão mal mesmo, mas quando a situação começa a melhorar, melhora rapidamente”, disse Dave Marcotte, vice-presidente da empresa de pesquisa Kantar Retail, de Tucson, Arizona, EUA.
Rivalidade
O GPA, cujo nome completo é Companhia Brasileira de Distribuição Grupo Pão de Açúcar, informou na noite de quinta-feira que os resultados ajustados antes de juros, impostos, depreciação e amortização aumentaram 16% no primeiro trimestre em relação ao ano anterior, para R$ 481 milhões (US$ 151 milhões).
Os analistas haviam projetado R$ 459 milhões em média. O Casino divide o controle do GPA com a Almacenes Éxito, rede de varejo colombiana na qual o Casino possui participação majoritária.
A rivalidade entre Casino e Carrefour vai além de suas raízes francesas. O GPA foi fundado há mais de seis décadas por Valentim Diniz, que transformou uma pequena padaria na maior rede de supermercados do Brasil. Diniz morreu em 2008. Seu filho bilionário, Abílio, travou – e perdeu — uma batalha amarga pelo controle do GPA com o Casino que resultou na saída do magnata. Ele, então, começou em 2014 a acumular uma participação na rival Carrefour e se tornou o terceiro maior acionista da empresa.
Abílio Diniz, 80, atualmente é membro do conselho do Carrefour. Em 12 de abril, a rede varejista escolheu Flavia Almeida, diretora da Península Participações –family office de Diniz– para ocupar um segundo assento no conselho.
‘Atacarejo’
O investimento pioneiro que o Carrefour fez no chamado “atacarejo” foi um grande sucesso entre os brasileiros, que enfrentam um índice de desemprego recorde de 13% e amplos cortes nos benefícios sociais.
A rede Atacadão da empresa vende em grandes quantidades a pequenas empresas e a famílias de classe média em busca de preços mais baixos, ampliando as vendas do Carrefour mesmo apesar de as vendas do varejo em todo o país terem caído pelo 23º mês consecutivo em fevereiro.
“O Brasil se transformou na joia da coroa, com a ida dos consumidores ao Atacadão durante a recessão”, escreveram analistas do UBS em relatório de 10 de abril aos clientes. O Carrefour vem estudando uma oferta pública inicial de sua unidade brasileira e vê condições para a melhora da transação, disse o diretor financeiro Pierre-Jean Sivignon em conferência com jornalistas, no início de março.
O IPO incluiria o Atacadão, disseram duas pessoas próximas às discussões à agência de notícias Bloomberg no mês passado. O Carrefour comprou a empresa por US$ 1 bilhão em 2007 e ampliou sua rede de 34 lojas para 136, representando mais da metade da receita do grupo no Brasil, disse uma das pessoas. O Assaí, versão do modelo atacadista do GPA, conta com 106 lojas que responderam por cerca de 30 por cento das receitas do grupo no primeiro trimestre. O Wal-Mart, terceira maior rede de varejo do Brasil, opera 44 lojas atacadistas Maxxi.
O GPA fechou 20 lojas no primeiro trimestre, incluindo cinco hipermercados que serão convertidos em lojas Assaí — um sinal de que a empresa está aprendendo com o sucesso do Carrefour. O GPA pretende converter de 15 a 20 Extras em Assaí e abrir 8 novas lojas no formato atacarejo neste ano, e esse número pode inclusive crescer, disseram os executivos da empresa em teleconferência de resultados.
“O Casino e o Wal-Mart seguiram o exemplo”, disse Marcotte, da empresa de pesquisas Kantar, “mas estão muito atrás”.
Fonte: UOL Economia