Por Ana Luiza de Carvalho e Fernanda Guimarães | O varejo brasileiro de móveis e itens de decoração deve acelerar o processo de consolidação a curto prazo, de acordo com analistas, ao passo em que o faturamento deve se manter estável ou até recuar no comparativo anual. Para bancos de investimentos, 2024 será de fusões e aquisições como forma de as empresas buscarem saída para o cenário de aperto de juros altos, que tem sufocado as companhias.
O movimento, contudo, não estará restrito ao setor de móveis e decoração. O cenário difícil, que levou a Etna a fechar lojas, após tentar se unir a rivais, também unirá outros setores. Tok&Stok e Mobly estão em conversas para combinar ativos. A concorrente Westwing viu o valor das ações caírem desde a estreia na bolsa e era alvo de concorrentes.
Mais do que do que oportunidade de negócios em meio à alta fragmentação do setor, a consolidação representa também chance de sobrevivência para as companhias em cenário de maior custo de crédito e queda da demanda.
No mercado de animais de estimação, Petz e Cobasi iníciaram conversas para fusão. Em material de construção, C&C, da família Faria, foi vendida e a Telhanorte busca opções para fortalecer o negócio.
O diretor de eficiência comercial da AGR Consultores, Leonardo Cyreno, diz que a pandemia acarretou forte volume de compras de itens para casa, quando os brasileiros tinham mais renda e buscavam ambiente doméstico mais aconchegante durante o isolamento social. Passada a pandemia, o varejo como um todo tem dificuldades, como reflexo das condições macroeconômicas, que passaram a representar outro obstáculo para a população. “Já se esperava esse efeito negativo após a pandemia. Esses recursos agora vão para outras áreas da economia. Agora há também um cenário de crédito de curto prazo caro, o que gera a dificuldade de caixa dos varejos.”
Essa também é a avaliação do sócio da RGS Partners, Lucas Pogetti. “Em momento em que as pessoas estão com poder de compra reduzido. Por isso, o consumo de móveis acaba ficando em segundo ou terceiro plano para o consumidor, por ser discricionário.” Pogetti diz ainda que, conforme dados do prospecto da Tok&Stok, as cinco maiores empresas do setor representam cerca de 3% do mercado nacional.
Neste cenário de alta fragmentação, a consolidação do setor surge como uma tendência para as companhias sobreviverem à baixa demanda e à dificuldade de crédito. “Isso passa por uma análise racional de combinação, ao se criar uma companhia há a diluição de gastos, como despesas gerais e administrativas. A Mobly começou no digital, enquanto a Tok&Stok no físico, então há competências complementares também. O setor deve passar por uma consolidação nos próximos anos”, aponta.
De acordo com a IEMI Inteligência de Mercado, as lojas especializadas e independentes são o canal mais importante de vendas, tanto em volume quanto em receita movimentada. No segmento especializado de móveis, 90,2% dos pontos de venda estão em lojas de rua, e apenas 9,8% em shoppings.
Leonardo Cyreno aponta que os varejistas fora do circuito das grandes redes, embora tenham como desvantagem a menor disponibilidade de caixa, contam como diferencial competitivo a produção menos massiva e mais personalizada. A chave para ampliar a rentabilidade nesse momento independente do porte dos negócios, na avaliação de Cyreno, é o ganho de margens por meio de eficiência. É fundamental rever portfólio e entender o momento financeiro da sua empresa, afirma.
Fonte: Valor Econômico