Sem condições de honrar suas dívidas, a varejista Brasil Pharma, do BTG Pactual, adiou para fevereiro o pagamento de diversas cédulas de crédito e financiamentos que se arrastam desde o ano passado. O vencimento com o Banco do Brasil, de R$ 60 milhões, foi alongado, mas com custos mais elevados. Com o Bradesco, a dívida de R$ 45 milhões que vencia no ano passado foi prorrogada para abril. O caso, em evidência por conta de todo o contexto vivido pelo seu controlador BTG, é apenas um exemplo do que muitas companhias brasileiras, dos mais diferentes portes, estão vivendo diante de um enxugamento generalizado das receitas.
O custo do alongamento é alto. Na Brasil Pharma, por exemplo, o Banco do Brasil passou a cobrar, do saldo devedor, juros atrelados à taxa CDI mais 4,32% ao ano, com vencimento em fevereiro. Essa mesma dívida, que antes vencia em dezembro, tinha juros fixados em 2,65% ao ano.
E exemplos não faltam. Atravessando um período de menor demanda, empresas do setor imobiliário, como PDG Realty e Rossi Residencial, também tiveram de recorrer aos bancos para refinanciar suas dívidas. Ao fim de setembro, o endividamento líquido dessas companhias superava 110% do patrimônio líquido, enquanto a média do setor estava em cerca de 65%. Foram, com isso, forçadas a renegociar prazos e custos de obrigações com os bancos, em troca de garantias em projetos, por exemplo.
No setor elétrico, as dificuldades financeiras agravadas pela crise hídrica vista até o primeiro semestre de 2015 tiveram a Light como principal vítima. Em agosto, a companhia anunciou a existência de discussões com bancos para ampliar o prazo de equacionamento de dívida.
Recuperação judicial
Há dois grupos de empresas buscando soluções com os credores, conta Janser Saloman, sócio responsável por reestruturações de empresas da Rosenberg Partners. Segundo ele, há aquelas que fizeram a lição de casa e conseguiram antecipar o problema e agora conseguem renegociar seus vencimentos de forma a satisfazer suas necessidades. Do outro lado, estão as que demoraram a tomar medidas operacionais para readequação de seus negócios e precisarão, segundo o especialista, de soluções mais drásticas para conseguir equacionar o negócio, como um pedido de recuperação judicial.
Luis Rabi, economista do Serasa Experian, espera um novo recorde nos pedidos de recuperação judicial em 2016, seguindo-se ao volume histórico de 2015, quando atingiram 1.287, um crescimento de 55,4% em comparação com 2014. Em janeiro, subiram 29,7% em relação ao mesmo mês do ano passado, para 96 pedidos.
“O dado de janeiro já sinaliza que vamos bater um novo recorde em 2016. Não vemos mudança no cenário, a recessão deve persistir em cima de um crescimento que já foi negativo em 2015”, afirmou Rabi.