Startup criou marketplace B2B2C que possibilita a experimentação de peças de diferentes marcas sem compromisso de compra
Por Gabriela del Carmen
Sabe aquela vontade de comprar uma roupa no conforto do seu lar, mas não saber se o modelo ou o tamanho vão te servir direitinho? Talvez esse problema esteja prestes a acabar. Lançada no início de janeiro, a Taggie funciona como um marketplace B2B2C que possibilita a experimentação de peças de diferentes marcas sem compromisso de compra.
A dinâmica é simples: por R$ 35, o cliente escolhe até 12 itens de 1 a 3 lojas e recebe as roupas na sua casa para experimentar à vontade, testando o estilo, tamanho e as combinações com as peças do seu closet quantas vezes quiser. Depois de 48 horas, a companhia retira a caixa e faz o check-out dos itens. Caso queira, o consumidor pode comprar as peças, ou devolvê-las sem pagar nenhum valor adicional.
O modelo atraiu 500 consumidores no 1º mês de operação, restrita inicialmente à Zona Sul de São Paulo. Na outra ponta, o portfólio soma 8 marcas, incluindo Colcci, Anacapri, Intimissimi, Lez a Lez e Calzedonia, com projeção de dobrar esse número até o final de fevereiro e quintuplicar até o final do ano.
A vantagem para os lojistas é ter um canal adicional de vendas, já que, segundo a empresa, o negócio tem uma taxa de conversão de 100%: em todas as caixas enviadas, pelo menos 1 item foi adquirido – a média é de 6,6 peças vendidas por pedido. A parceria também serve como estratégia de aquisição de clientes, uma vez que, em janeiro, 87% dos consumidores Taggie compraram roupas de marcas que não conheciam até então. Além disso, as marcas se beneficiam do maior controle e segurança no envio, uma vez que a Taggie verifica se todos os itens foram retornados para a loja no mesmo estado em que saíram e, caso isso não ocorra, se responsabiliza pela indenização.
“As marcas querem se reinventar e estavam na expectativa por uma solução como a nossa. O lojista se sente abraçado, porque não depende do fluxo físico de loja de rua ou de shopping para realizar a venda e chegar a novos públicos”, afirma Mariana de Marchi, cofundadora e codiretora-executiva da startup.
ESTRATÉGIAS
As sacolinhas de roupa são algo comum no interior e em grifes de luxo. Mas funcionam de uma forma desorganizada. Em testes com algumas lojas, Mariana chegou a ficar alguns dias com peças que custavam milhares de reais e as vendedores esqueceram que estava com ela. Para dar escala ao formato, os empreendedores estão estruturando uma rodada seed para investir no aumento do time, logística, tecnologia e marketing. “Quero trazer executivos experientes em varejo, logística e comunicação, porque são setores que agregam muito no nosso negócio e vão nos auxiliar no planejamento e desenvolvimento da Taggie”, afirma Sergio. O investimento, ainda aberto e em fase de captação, será feito por fundos nacionais e alguns investidores-anjo.
“Nossa operação logística é complexa. Pegamos os itens na loja e fazemos toda a experiência, levando e recolhendo as peças na casa do cliente. O objetivo é expandir não só como o centro de distribuição, mas entrar nas redes de shopping do país”, diz Mariana, acrescentando que hoje 80% das marcas parceiras operam nos shoppings centers. “Faz muito sentido estar perto das lojas, com uma operação da Taggie como canal de venda para os estabelecimentos”, completa.
Segundo os empreendedores, a startup está em negociação com uma das maiores redes de shopping do Brasil para atender as lojas que estão em suas unidades. Sem dar muitos detalhes, eles adiantam também que estão fechando um contrato com um grande banco a fim de oferecer crédito e taxas mais competitivas aos lojistas.
A Taggie já tem uma parceria com a StyleBar, uma rede de salões de beleza em São Paulo com principal atuação na Zona Sul, na qual os clientes da startup recebem benefícios nos salões (e vice-versa). Além disso, a companhia está desenvolvendo o seu Super App como um novo canal de atendimento e encomenda das peças. Unindo todas essas estratégias, os empreendedores esperam transacionar cerca de R$ 20 milhões até o final do ano.
Para chamar a atenção do mercado, a startup está desenvolvendo sua 1ª campanha: enviar 200 welcome kits gratuitos com foco em clientes da capital paulista, alguns recorrentes e outros mais estratégicos, como microinfluenciadores e empreendedores do mesmo nicho de negócio. Para incentivar o consumo na empresa, essas pessoas receberão presentes personalizados (não necessariamente peças de roupa) e cartões-presente de até R$ 200 para gastar na plataforma.
NASCIDA NA PANDEMIA
A pandemia tem sido um período de fins e recomeços para muita gente. No caso de Sergio e Mariana, mais do que lançar um negócio quando o mundo parecia desabar para muitos empreendedores, eles também se conheceram – e se apaixonaram – durante o isolamento social.
Eles começaram a conversar por conta do trabalho. “Eu queria conhecê-lo como empreendedor, e ele queria saber mais sobre a minha trajetória. Trabalhávamos em outros projetos, com a ideia de fechar uma parceria societária. A conversa seguiu – e, obviamente, fluiu muito bem”, conta Mariana. Com a ideia no papel, a dificuldade foi testar e validar a solução, já que muitas lojas estavam fechadas.
A vantagem foi que todo o setor precisou se reinventar. De um lado, os clientes ficaram mais tempo em casa e aderiram ao e-commerce como forma de renovar o guarda-roupa. Do outro, as marcas precisaram investir em novos canais de venda fora das lojas físicas. “Nossos testes foram fantásticos, porque encontramos vários problemas de experiência do consumidor e do estabelecimento que a gente conseguia solucionar”, afirma Mariana.
A partir dos testes, buscaram as formas mais eficientes de pagamento e proteção de dados. Os testes incluíram, por exemplo, o caso de um dos fundadores pegar uma peça para experimentar e “sem querer” esquecer de devolver, para analisar o nível de controle que a marca tinha sobre os itens. “Em muitos casos, o vendedor não percebeu, e concluímos que para lançar a startup tínhamos que fazer um controle muito bom”, explica a empreendedora.
“A startup supriu uma demanda que já buscávamos solucionar desde o inicio da pandemia: como chegar até a casa dos clientes? Implantamos um sistema, mas a dificuldade da logística e o risco do envio foram os principais obstáculos que encontramos”, conta Maria Fernanda Glorigiano, franquada da Colcci e Anacapri. “A Taggie ajuda a profissionalizar esse envio e achar novos clientes, além de fazer o processo logístico de forma simples e eficiente”, completa.
A Taggie nasceu depois de 1 ano de pesquisa de mercado, com a proposta de sanar e padronizar a ineficiência do envio das caixas, conectando novos clientes a marcas e tornando acessível um serviço que, segundo os empreendedores, é restrito por falta de tecnologia e expertise logística.
Em termos de sustentabilidade, Sergio e Mariana afirmam que, desde o início, se preocupam em ser uma empresa ESG. “Nossa operação precisa muito de papelaria”, diz Mariana. Para amenizar os impactos, a Taggie fechou uma parceria com a eureciclo, que ajuda empresas a fazerem a compensação ambiental de suas embalagens pós-consumo.
Fonte: StartSe