Por Redação | O anúncio da gigante de e-commerce chinesa SHEIN no início do ano de que pretende dedicar 85% das vendas locais a peças produzidas no Brasil pegou parte do mercado de surpresa e foi recebido também com ceticismo. A decisão, que veio na esteira do plano do Ministério da Fazenda do governo Lula de taxar importações de produtos de até US$ 50, foi acelerado dentro do braço brasileiro da empresa para atender ao timing do debate, segundo Felipe Feistler, general manager da SHEIN no Brasil.
Em conversa com a Bloomberg Línea para o quinto episódio da terceira temporada da Casa de Negócios, o executivo contou que as negociações com empresas locais para iniciar a produção local começaram ainda em 2022, quando a varejista, apesar de já conhecida entre o público consumidor, ainda não era um nome forte entre os fabricantes de tecidos e acessórios no Brasil.
“A SHEIN se encaixa como um novo player nesse mercado, com feat de produtos bom e crescimento muito rápido”, disse. A proposta de nacionalizar a produção, além de evitar impostos de importação, possibilitará a meta de, eventualmente, alcançar a entrega no mesmo dia no país.
No Brasil, a SHEIN opera em três frentes: o business cross-boarder, que traz produtos importados da China, o marketplace, com vendedores locais e internacionais, e, mais recentemente implementado, a produção local com venda direta pela plataforma, ou 1P, no jargão do setor de varejo.
Segundo Feistler, as estratégias são complementares e servem para atender à velocidade demandada pelo público brasileiro, além de especificidades de comportamento de consumo do país.
“O Brasil tem um mercado muito específico. Temos que ter uma moda muito rápida, uma peça que saiu na novela, que saiu em um filme. O brasileiro quer essa moda rápida, que, às vezes, vindo de tão longe, demora mais a produzir e conseguir trazer.”
Na conversa, Feistler não revelou qual a atual fatia de cada uma das três estratégias usadas no mercado brasileiro dentro da operação, mas apontou que o objetivo de chegar aos 85% de produção local é condizente com o que a empresa enxerga como a capacidade de entrega das fábricas locais.
Segundo o executivo, o contato e a negociação com empresas brasileiras têm sido “interessantes”, dado o modelo de produção das peças da varejista chinesa, que não é comum no país.
“Fazemos a produção on demand, ou sob demanda. Em vez de fazermos grandes produções, de 5.000, 10.000 peças, e depois esperarmos para ver se vendemos, nós produzimos uma grande variedade de 100 peças, testamos a demanda e, se houver, daí crescemos.” Segundo o executivo, isso traz uma redução de 20% a 30% das perdas na cadeia.
“Se o parceiro está disposto a tomar risco, eles logo aceitam. Mas, às vezes, vemos parte da indústria querendo ver o que vai acontecer com os outros”, contou. Ele apontou que, dentro das várias discussões que permeiam as novas parcerias, entram inclusive questões geracionais em relação à disrupção do modelo de produção, além da confiança em uma marca nova no mercado.
Fonte: Bloomberg Linea