Por Cibele Gandolpho | A Shein sacudiu mais uma vez o varejo na semana passada com o anúncio da aquisição de um terço em participação do Grupo Sparc, joint venture que inclui os grupos Authentic Brands e o Simon Property, donos da Forever 21.
Não é de hoje que a varejista asiática preocupa os empresários que disputam o mercado de moda no Brasil, especialmente os que praticam preços na mesma faixa da empresa.
Com o acordo entre as duas empresas, os produtos da Forever 21 serão incluídos no portfólio online da Shein, que chega hoje a 150 milhões de usuários no site e no aplicativo. Além da Forever 21, o Grupo Sparc detém as marcas Reebok, Aéropostale e Nautica.
De acordo com especialistas ouvidos pelo Diário do Comércio, a cada nova empreitada no varejo nacional, as empresas concorrentes têm que se adequar para não perder mercado.
“Atualmente, as empresas que estão ganhando essa guerra pelo novo varejo são, claramente, as que conseguem integrar melhor as lojas físicas com o meio digital de forma eficiente. E isso não é uma tarefa fácil”, diz Eduardo Yamashita, COO da Gouvêa Ecosystem.
O especialista explica que, hoje, as maiores varejistas de moda no Brasil focam mais no meio físico e só têm uma participação de cerca de 5% nos canais digitais, nunca ultrapassando os 10%. Na Shein, é completamente o oposto. A empresa usa o canal digital como essencial da sua estratégia e trabalha muito bem com preços competitivos, monitoramento de tendências e dinamismo que só o meio online permite.
“Quando unem isso à uma experiência de loja física, onde podem se comunicar com o consumidor, a chance de sucesso é muito certeira porque aproxima a marca dos brand lovers e atrai mais clientes. Só nos resta saber como o varejo tradicional brasileiro vai reagir a essas empreitadas”, indaga.
ESTRATÉGIA
A aquisição de parte do Grupo Sparc é apenas uma das estratégias de crescimento da varejista asiática. Em novembro do ano passado, a empresa inaugurou sua primeira loja pop-up, durante apenas cinco dias, no Shopping Vila Olímpia, em São Paulo, com o objetivo de oferecer experiências ao cliente e testar seu mercado no meio físico.
Além disso, até 2026, pretende produzir no Brasil 85% dos produtos que comercializa localmente com fábricas parceiras.
Para Américo José da Silva Filho, especialista em varejo e sócio-diretor da Cherto Consultoria, todas essas ações e agora a recente parceria com o Grupo Sparc representa um passo extremamente vantajoso para a Shein, permitindo-lhe consolidar sua presença no mercado brasileiro sem depender das complexidades da importação.
“A estratégia de expandir as vendas para as lojas físicas, mesmo a preços superiores aos do seu próprio site, demonstra uma abordagem ousada”, avalia Silva Filho.
Para o consultor, essa movimentação estratégica também fortalece significativamente a imagem e a posição da Forever 21 no Brasil, especialmente após a marca ter enfrentado desafios no cenário varejista.
UNIÃO DE GIGANTES
O tamanho da participação e os termos financeiros do acordo da Shein com o Grupo Sparc não foram revelados.
O Brasil é atualmente um dos cinco maiores mercados da Shein no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos, da Arábia Saudita, da França e da Inglaterra.
A Shein, fundada em 2008, supera hoje vendas de grandes lojas tradicionais no Brasil. Só em 2022, a plataforma teria faturado cerca de R$ 8 bilhões no país, segundo estimativas do banco BTG Pactual.
Outro levantamento da Piper Sandler mostrou que a varejista fica atrás apenas da Amazon no ranking de marcas mais consumidas entre jovens da geração Z.
“Além de ter preços muito acessíveis, ela vende peças com base nas tendências das redes sociais dos consumidores e produz conforme o público deseja. Isso é o que faz o negócio da Shein ser bem-sucedido”, diz Willian de Menezes, especialista em varejo.
Já a Forever 21 tem 414 lojas nos Estados Unidos e mais 146 em outros países. A marca chegou ao Brasil em 2011, mas fechou as lojas físicas no fim de 2022 e agora só vende seus produtos por meio de plataformas.
PRODUÇÃO LOCAL
Os planos de aumentar a produção local por meio de parceiras seguem a todo vapor na estratégia da Shein.
A companhia quer apostar nos recursos naturais abundantes, como algodão, poliéster e jeans, que podem ser utilizados na fabricação de roupas.
A marca atua com produção sob demanda para minimizar estoques e oferecer preços competitivos aos consumidores e isso lhe dá vantagens comerciais.
“Os desafios para produzir no Brasil são grandes porque temos um sistema tributário muito desafiador, que não é para amadores”, conclui Menezes.
Fonte: Diário do Comércio