Por Paulo Gratão | A possível fusão entre Arezzo&Co e Grupo Soma, dono de marcas como Farm e Hering, tem potencial para trazer impactos não só aos mercados de moda, varejo e ações, mas também ao setor de franquias. As duas gigantes têm o canal como um elemento fundamental na sua cadeia de distribuição.
O Grupo Soma, por exemplo, tem 1.064 lojas, sendo 698 franquias (65%). Já o Arezzo&Co contabiliza 1005 lojas e 812 franquias (80%). Trata-se de um dos maiores movimentos entre duas redes franqueadoras desse porte já ocorrido no país. A aposta de especialistas é que a fusão, se concretizada, traga ainda mais eficiência para ambas e ajude o varejo de franquias de moda a se desenvolver.
Os franqueados dos dois grupos podem ser beneficiados com:
- Melhores negociações com shopping centers
- Trocas de aprendizados entre marcas de calçados e de vestuário
- Campanhas em conjunto
- Melhores condições com fornecedores
- Impulso das marcas na expansão internacional
O desafio da cultura e as sinergias
Um dos pontos de atenção em qualquer tipo de fusão é manutenção da cultura das marcas, que não pode ser perdida. Celina Kochen, consultora de varejo e franchising de moda e coordenadora do comitê de franquias de vestuário, calçados e acessórios da ABF, lembra que as duas empresas têm marcas que já passaram por processos de aquisição ou consolidação, como a Hering, da Soma, e a Reserva, da Ar&Co, braço da Arezzo&Co. Dessa forma, a experiência prévia deve facilitar a transição.
“As duas já mostraram que é muito importante que se mantenham o DNA das marcas e as cabeças principais, durante um bom tempo de contrato, para que a marca não tenha perdas de direção”, diz. Ela cita como exemplo Rony Meisler, que permanece à frente da Reserva, e a família Hering no comando da Hering.
No caso específico da Arezzo&Co e Soma, a presença forte de seus líderes, Alexandre Birman e Roberto Jatahy, respectivamente, é algo que tem levantado dúvidas sobre como se dará a acomodação dos negócios e cargos. Os dois são empreendedores e fundadores, com estilos de liderança distintos.
De acordo com informações divulgadas pelas empresas, a negociação deve se dar por trocas de ações, com Birman como CEO e Jatahy à frente das marcas que já são do Grupo Soma – um estilo parecido com o que foi firmado com Rony Meisler, da Reserva, hoje CEO do Ar&Co.
“O desafio está em como operacionalizar a administração das marcas frente a essa integração. Na prática, a gestão e o backoffice das empresas têm o desafio de fazer essa fusão de culturas e dinâmicas, e com isso podem surgir alguns ajustes no início”, diz Andrea Oricchio, advogada especializada em franchising e sócia da AOA Advogados.
Eduardo Terra, presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC), diz acreditar que as sinergias sejam possíveis. Ele enxerga, em um primeiro momento, oportunidades em internacionalização, que tem sido uma agenda em comum dentro dos dois grupos, e que também pode envolver franqueados.
“As sinergias racionais são enormes: são marcas, mercados e categorias que se complementam, mas são culturas relativamente diferentes, e que passam a ter um desafio de integração”, diz Terra.
Contratos não devem mudar
De acordo com Oricchio, os contratos e as empresas franqueadoras “não desaparecem” após uma fusão. Os acordos continuam tendo os mesmos efeitos, durante todo o tempo acordado entre os franqueados e suas respectivas marcas.
A consolidação dos grupos pode melhorar custos e eficiência para as marcas que passariam a pertencer à holding, na visão dos especialistas, além de algumas trocas de aprendizados. Oricchio diz que marcas menores podem sentir o baque, sobretudo por não terem o mesmo poder de compra e venda que a nova gigante passaria a ter.
Inspiração para o mercado
De acordo com os últimos dados divulgados pela Associação Brasileira de Franchising (ABF), as franquias de moda faturaram R$ 5,7 bilhões no terceiro trimestre de 2023, um avanço de 2,5% em relação ao mesmo período do ano anterior – o menor ritmo de crescimento em todo o setor de franquias. Kochen, diz que o movimento entre Arezzo e Soma tende a ser benéfico para todo o setor.
“São grandes marcas que têm força e já inspiram redes menores. O mercado de moda precisa dessa inspiração de profissionalismo”, diz.
Na visão da especialista, o mercado de shopping centers também tem a ganhar com a fusão das duas gigantes, que poderão negociar melhores condições para as marcas. Também há oportunidade para que haja uma troca de expertises entre os nichos de calçados e moda, além de campanhas conjuntas, que podem aumentar o share das marcas.
Fonte: PEGN