Grupo dono da Centauro, após aquisição da Fisia, resultados obtidos mostram expansão de “cinco anos em um”
Por Graziella Valenti
“A gente nem começou ainda”, essa é a sensação de Pedro Zemel, CEO do grupo SBF, dono da distribuição da marca Nike no Brasil e da rede de varejo Centauro, ao falar do futuro e de suas oportunidades e possibilidades. A companhia acaba de inaugurar a primeira loja Nike Store no Shopping Ibirapuera, na capital paulista. A marca não abria uma unidade dessas no Brasil há nove anos. E tudo isso só está sendo possível dado os resultados obtidos em 2021, primeiro ano completo após a aquisição e que ficou marcado também pela primeira distribuição de dividendos da empresa.
No ano passado, ao consolidar a compra da Nike do Brasil (Fisia), a SBF passou a se entender como grupo, um ecossistema de esporte, muito além de uma simples varejista de artigos esportivos. Pudera. O negócio praticamente dobrou de tamanho e a receita bruta alcançou quase R$ 6,4 bilhões. “Conseguimos na Nike atingir os objetivos esperados para cinco anos em apenas um”, relembra o executivo. O Ebitda consolidado, com isso, avançou 375% na comparação anual, para R$ 705 milhões, e o lucro líquido ficou quase em R$ 500 milhões.
A compra da Nike do Brasil, uma transação de R$ 1 bilhão, foi anunciada em fevereiro de 2020, mas só foi concluída em dezembro daquele ano, após a companhia realizar uma nova oferta de ações na B3, a primeira pós-oferta pública inicial (IPO) no meio da pandemia. A operação trouxe R$ 900 milhões ao caixa e foi maior que a oferta de estreia na bolsa.
Além disso, foi no ano passado que a empresa adquiriu a NWB, produtora de conteúdo sobre esporte dona dos canais Desimpedidos e Acelerados no Youtube e deu a largada para o que viria a ser a SBF Ventures, que comprou depois a OneFan, a X3M e a FitDance. Tudo isso compõe o processo de transformação do negócio e a construção do ecossistema.
Quando a companhia mudou o nome e o ticker de negociação na B3 para Grupo SBF (SBFG3), o mercado ficou ressabiado, preocupado se era mais um discurso ou uma onda. Agora, transcorrido o tempo, está cada dia mais evidente a profundidade do movimento.
“Tudo que foi feito em 2021 ampliou as possibilidades e avenidas para a companhia”, enfatiza Zemel. Quando assumiu a Nike, 30% do faturamento no Brasil vinha das outlets e do canal digital e os 70% restantes do atacado — sendo que as outlets, dedicadas apenas a desaguar o que o atacado não comprava, davam prejuízo. Agora, 50% vem das outlets e das vendas onlines, que passaram de 11% para 30%, sob a gestão do SBF — ambas operações com margens positivas. O grupo lançou um aplicativo da marca, que não tinha ainda essa solução, após internalizar o site e assumir o e-commerce, um processo que diversas outras marcas de consumo também viveram como fruto das necessidades que vieram à tona e se aceleraram com a pandemia e seus reflexos sobre a digitalização dos negócios.
O plano para 2022 é terminar o ano com 15 inaugurações (na aquisição, eram 22 unidades), 10 do que hoje são as Nike Value Stores, que agora são dedicadas a um grande sortimento de produtos e vistas como “canal de entrada” na marca, e 5 Nike Stores, com lançamentos e os produtos de ponta — que muitas vezes antes nem chegavam ao Brasil — e espaço para explorar moda feminina e casual.
No primeiro semestre de 2022, a companhia acumula uma receita bruta consolidada de R$ 3,5 bilhões, o que indica que o grupo vai se tornar um negócio de no mínimo R$ 7 bilhões. E o ‘no mínimo’ é porque o segundo semestre tem Copa do Mundo, que começa apenas em novembro.
O evento, segundo Zemel, traz vendas extras não apenas pelos artigos relacionados a ele, como as camisas da Seleção Brasileira (lembrando que é patrocinada pela Nike), bolas (algumas custam R$ 1.000, acredite!), chuteiras e toda sorte de produtos, mas também acaba gerando um aumento geral da receita com os itens mais tradicionais. As copas acabam gerando um fluxo extra que vai além dos produtos temáticos.
A nova Centauro
A aquisição da Fisia, dona da marca Nike no Brasil, também possibilitou uma transformação da própria operação da Centauro, origem do negócio. A mudança de posicionamento é importante. “Fizemos a Centauro voltar para o esporte”, afirma Zemel. Ele explica que, apesar desse foco ter sido o começo de tudo, com o tempo, a marca se conectou “mais ao varejo do que ao esporte”. Com isso, a empresa pôde sair de uma estratégia com foco “transacional para o foco relacional” com o cliente. Agora, há todo um posicionamento voltado às modalidades esportivas e à relação que o público tem com cada uma delas.
Parte relevante do novo posicionamento da rede está ligada à SBF Ventures, uma construção que está apenas no começo. A plataforma, que investe na aquisição de negócios da nova economia, em especial ligado a conteúdo e eventos, é e será, cada vez mais, um canal de relacionamento com o público para que o grupo se torne referência entre os consumidores quando o tema é esporte. Nesse sentido, a empresa gosta de reforçar de saiu da posição em que era o ponto de retirada dos kits de corrida para agora quem é o realizador dos eventos, por meio da X3M.
O movimento, porém, é ainda maior. Além de partir para o conteúdo e negócios que podem “agitar” o esporte, Zemel decidiu também que era o momento de sair do círculo “o ovo e a galinha” e mudar o mercado nas frentes que ainda existe desafios. A Centauro começou, por exemplo, a patrocinar a Federação Paulista de Futebol Feminino. A parceria aumentou o prêmio de R$ 100 mil para R$ 1 milhão. Além disso, o acordo incluiu a transmissão do campeonato paulista pelos canais do grupo.
Outra iniciativa rendeu à companhia dois Leões de Bronze no Festival de Cannes (França), em junho deste ano, na França, foi a campanha “O Uniforme que Nunca Existiu”. A companhia, em uma campanha realizada pela Tracylocke (atual DM9), criou um traje para Aida dos Santos, única mulher da delegação brasileira da Olímpiada de Tóquio, de 1964, que viajou por conta própria ao Japão, e levou o quarto lugar em salto em altura. Com seus 27 anos, foi com a cara e a coragem para a competição – sem patrocínio, técnico ao uniforme.
A convite da Centauro, a estilista Carol Barreto criou um uniforme para a esportista. “Corrigimos um erro histórico”, diz Zemel. Aida dos Santos também foi protagonista de um documentário da rede ESPN, que a levou de volta ao Japão. “Quando terminou, eu peguei o microfone e disse: ‘o meu lugar é na cozinha, no quarto, na sala e na quadra de esporte”, relembra ela no filme promocional, ao relatar que durante a competição ouviu desaforos da plateia (“Escutei várias vezes, vindo da arquibancada, sai daí, crioula, o seu lugar é na cozinha”). O filme, com menos de 3 minutos de duração, termina com ela afirmando “Esse uniforme não muda só o fim dessa história, muda o começo de muitas outras.”
“Nosso movimento não é oportunístico, é de construção. Nossa marca ganhou energia”, resume Zemel, a respeito do que a companhia conquistou e ainda pretende conquistar. O grupo fechou junho com 253 lojas, entre Centauro e Nike, quase 18 a mais do que um ano antes. E 2022 estava só na metade.
Fonte: Exame