Para Rafa Forte, CEO da VTEX Brasil, queda do poder de compra do consumidor anulará parte do impulso dado pela pandemia ao e-commerce
Por Daniela Braun
Um ano após o início da pandemia da covid-19 no país, a curva de adoção de operações on-line no varejo continua crescente, afirma Rafael Forte, presidente e cofundador da fornecedora de sistemas para comércio eletrônico Vtex Brasil. O executivo participou ontem da Live do Valor.
Para este ano, Forte avalia que as vendas brutas totais [GMV] do varejo on-line devem ter aumento, mas não tão forte quanto na primeira onda da covid-19. A projeção reflete o cenário atual de queda no poder de compra do brasileiro, sem o auxílio emergencial e com a alta no nível de desemprego. “Grande parte da população que migrou para o on-line criou o hábito e vai mesclar a compra no on-line e no mundo físico, mas vai perder um pouco da capacidade de compra por causa da falta de dinheiro.”
O executivo nota que a pandemia provocou uma mudança importante na visão dos varejistas. “Foi um baque muito grande. Ter 85% do faturamento em lojas físicas era ter todos os ovos numa única cesta. Com o fechamento de lojas, o racional dos empresários foi: ‘como eu diluo esse risco e continuo faturando por meio de outros canais?’ E aí foi natural que esse pensamento levasse à expansão do investimento em tecnologia, porque ela ajuda a escalar esses processos.”
A corrida pela digitalização, segundo ele, elevou a penetração do on-line no total do faturamento das empresas, chegando a patamares similares à de outros países onde o comércio on-line já é mais desenvolvido, como Reino Unido e China. “Em clientes de determinadas categorias, essa penetração cresce cada vez mais, chegando a 50%”, diz. Em segmentos cujas vendas são consideradas mais fáceis, como smartphones, ele conta que a participação de vendas on-line chegou a 25% ou 30%.
Fundada em 2000, a Vtex entrou para o hall de unicórnios brasileiros em setembro do ano passado, quando seu valor de mercado superou US$ 1,7 bilhão, após uma rodada de investimentos de US$ 225 milhões.
A valorização da Vtex também foi impulsionada pela corrida do varejo para as plataformas digitais por conta da pandemia. “Não tem como dissociar”, afirma o executivo. A empresa começou o ano com 500 funcionários e agora tem 1,3 mil. E os recursos levantados recentemente têm sido usados em melhoria do produto, expansão internacional e de equipe. “O que nos trouxe até aqui foi nossa visão de negócio, o produto que criamos e o serviço que a gente presta. Esse dinheiro veio para seguirmos investindo no produto.”
A companhia também mira na expansão nos mercados externos. Hoje, já atende clientes em 45 países, contando com profissionais em 17 escritórios no mundo. O mais recente foi inaugurado em dezembro, em Cingapura. “O que a gente criou tem sido muito aceito fora do Brasil, porque o país tem um ambiente desafiador”, diz Forte. “Estamos muito focados nos Estados Unidos, onde queremos expandir bastante. Na Ásia, começamos agora com escritório de experiência do consumidor para atender clientes globais, como Motorola e Black&Decker.”
O crescimento da companhia e os aportes recebidos no último ano, porém, não devem acelerar planos de abertura de capital. “Nós fizemos uma série C e uma série D em menos de um ano. É natural que o mercado fale: qual o próximo passo? Um IPO? Nós não estamos focados nisso agora”, afirma. “Estamos focados em fazer a empresa evoluir no Brasil e no mundo, mas [IPO] é uma fase natural após rodadas como essas.”
Fonte: Valor Econômico