As perspectivas para o primeiro trimestre de 2022 são de vendas “ainda pressionadas” de forma geral
Por Ana Luiza de Carvalho
O cenário de investimentos para o varejo neste ano deve permanecer estável diante de eventual nova desaceleração do comércio físico, balanceada pelo comércio eletrônico, de acordo com analistas de bancos de investimento e agências de classificação de risco ouvidos pelo Valor. Fontes do mercado apontam que a abertura de lojas está relacionada ao consumo aquecido e a um rápido retorno dos investimentos, o que pesa contra movimentos de expansão a curto prazo.
A analista de varejo do Banco do Brasil, Georgia Jorge, afirma que a explosão de casos do vírus H3N2 e da variante ômicron do coronavírus levaram a uma deterioração de expectativas. “As companhias voltadas ao comércio físico devem seguir mais pressionadas enquanto essas incertezas perdurarem”, diz.
De acordo com a analista, as perspectivas para o primeiro trimestre de 2022 são de vendas “ainda pressionadas” de forma geral, enquanto o varejo farmacêutico pode elevar suas previsões em meio às epidemias de gripe e covid-19.
Abertura de lojas está relacionada ao consumo aquecido e rápido retorno dos investimentos, o que pesa contra q expansão a curto prazo, segundo analistas — Foto: Maria Isabel Oliveira/Agência O Globo
Diogo Ocampo, analista da S&P, relembra que as vendas em lojas físicas no início de 2021 foram fortemente afetadas pela pandemia. Segundo ele, a demanda não foi totalmente deslocada para a operação online, o que resultou em queda nas vendas.
“Foi um ano muito difícil, com queda de Ebitda e a demanda se movendo para o canal online. Todas essas companhias têm canais online, mas nesse cenário elas têm perdido receita”, diz. Ocampo afirma que o recuo do consumo impactou a geração de caixa das empresas, disparando alertas em relação ao nível de endividamento.
De acordo com o diretor-executivo da Fitch, Ricardo Carvalho, as incertezas macroeconômicas também impactam o nível de investimentos do varejo em razão da dependência de prazos mais curtos de retorno. O esperado, segundo o analista, é que a abertura de novas unidades desacelere nos próximos meses.
“Há uma expectativa de demanda menor, e o varejo tem que olhar o que vai acontecer em 2022, não pode fazer planos olhando para dois ou três anos. Se a demanda não chega, é um período carregando prejuízo, então é uma decisão de investimento diferente de saneamento ou de ferrovias”, afirma.
O Itaú BBA, porém, ressalva que as unidades físicas também atuam como suporte logístico do comércio eletrônico, o que deve atenuar o cenário geral mais difícil. A analista de varejo Helena Villares alerta que isso não significa que as empresas não devem revisar para baixo suas estimativas.
“Nós já sabíamos que seria um cenário macro mais incerto, com uma desaceleração natural para o varejo como um todo. As lojas físicas estão sofrendo, mas elas não têm só as vendas, há também o papel do e-commerce, de aproximar estoque e reduzir custos”, afirma.
Varejo essencial
O cenário para segmentos de caráter mais essencial, como o alimentar, também apresenta dificuldades atreladas ao ambiente macro. A Fitch afirma que o desempenho das companhias, catapultado durante a pandemia, vem sendo afetado pelo desemprego e inflação.
“O poder de compra das famílias hoje é muito menor do que era há seis meses, há um nível de incerteza maior e uma tendência de enfraquecimento”, afirma Carvalho. Essa também é a visão do Banco do Brasil, que destaca a resiliência de nomes do atacarejo em razão da proposta de valor de preços mais baixos.
“Ainda que o varejo alimentar tenha um caráter mais essencial, o que lhe atribui, sim, algum grau de proteção, o fato é que a inflação alimentar vem pesando bastante no bolso do consumidor brasileiro, reduzindo seu consumo a itens básicos e efetivamente essenciais na cesta alimentar”, afirma a analista Georgia Jorge.
Considerando a menor elasticidade do mercado dos alimentos, o Itaú BBA destaca que o segmento é uma das preferências. “Pelo menos no primeiro semestre, o varejo deve continuar sofrendo, mas a queda do varejo alimentar está se aproximando de um limite”, afirma Helena Villares.
Aversão ao risco
Outro fator que deve continuar pesando contra os papeis do varejo, de acordo com o Itaú BBA, é o movimento de debandada de fundos de investimento do setor. A analista afirma que, em razão da alta da taxa de juros e do desempenho fraco do Ibovespa, muitos gestores de fundos têm preferido aumentar a composição de outros setores em suas carteiras.
“Antigamente, a exposição ao varejo costumava ser de 15% até 25%, mas muitos fundos podem chegar a 5% de exposição por conta desse ajuste de portfólio”, explica.
Fonte: Valor Econômico